Ela vestiu-se de nudez ao acordar. O quarto apertado no prédio esmagado Estava em silêncio. Os discos de vinil jogados sobre o chão, espalhados fora de suas capas. O tocador elétrico estava fora da tomada. Ligou-o. Um disco girava e girava enquanto a agulha tentava tocá-lo.
Related Articles
Ela bufou. Aquela porcaria… Sabia que não devia ter comprado daquele pé-rapado no beco, mas precisava tanto de um. Precisava da música como o corpo precisa de água. Máscaras de muitas culturas a encaravam do alto da parede. Riam. Choravam. Assustavam.
Evitando os discos, pisando os papéis espalhados e ignorando as taças de vinho ― principalmente a segunda… Abandonada há tempos por alguém que jamais voltaria a colocá-la junto aos lábios ―. Ela debruçou-se sobre o parapeito da janela. O cinzeiro estava cheio, mas isso não a impediu de acender um novo cigarro e ir jogando suas cinzas nele.
A vista?
Uma parede alaranjada. Outro prédio tão espremido quanto o dela. Nenhuma janela. Estava de costas para outro universo, outras vidas talvez imaginassem o que poderia estar acontecendo ali. Ela olhou para baixo e viu apenas jornais velhos e lixo jogado. Algo se mexeu. Ela julgou ser um mendigo. Sentiu um aperto no peito.
Era o que Faltava.
Correu e, ainda nua, apanhou o sax da caixa e soprou.
Ela encontrara aquilo que tinha escapado. Ou, quem sabe, não tinha sido ela a ser encontrada?
This post first appeared on Diario Lunar – Um Andarilho Rabiscando Na Lua…, please read the originial post: here