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Extraordinário

Hoje de manhã, como acontece todas as manhãs, senti fome. Saí de casa, fui até a padaria e comprei um real de pão. Quatro pães, pra ser mais preciso. Quatro exemplares desse maravilhoso produto do intelecto humano: trigo, leite, manteiga, ovos, sal… pão.

Logo cedo, bom mesmo é café. Aí fiz, lógico. Outra maravilha da invencionice do homo sapiens sapiens. Uma plantinha que, olhando, ninguém dá um real, azedinha toda. Então o cara colhe, seca, tosta, mói, põe água fervente e tcham: café! O néctar energético da humanidade. Água na boca só de pensar, não? Ah, sim, sim. Tem de ter açúcar. Aliás, outro monumento à inteligência. Nasce cana, o cara mói, faz um caldo, tira o grosso, apura, esquenta, apura, faz pó, refina. Isso tudo faziam ainda no brasil colonial. Tecnologia de ponta desde aqueles tempos, vejam só.

Mastigando o pão quentinho penso no talento do padeiro e concluo, do ápice de minha sabedoria, que não basta o trigo, a manteiga, os ovos, o leite e o sal. Nada adiantaria todo intelecto inventor da humanidade se não fosse a habilidade desse rapaz em misturar os ingredientes. Ao mesmo tempo, de que adiantaria toda essa técnica com as mãos se não existisse um trigo de qualidade, ovos e leite fresco, um rolo de massa e um forno eficiente? A resposta não requer esforço: não tinha nem pão, quanto mais um tão saboroso.

Agora o mais difícil de entender. Se uma padaria não se faz só com padeiros, se um café não é feito só com os moedores e se o açúcar não se faz só com o moço lá na usina, por que diabos a educação tem de ser feita só com o professor?

Todos os dias, tal como mastigo meu pão feito lá pelo talentoso padeiro, sou submetido a uma rotina de alquimista. Todas minhas ferramentas são um lápis e um pedaço de madeira que um dia foi branco, o qual aceitamos ser um quadro. Quando quero um pouco mais de incremento, um gergelim no meu pão sofrido, tenho de bancar eu mesmo o “luxo”. Como um padeiro que, pra temperar o pão, precisa trazer o sal de casa. Diferente de todos os profissionais que conheço, somos mágicos. Nossos quatro anos de faculdade foram o suficiente para nos empregar a habilidade incrível de construir o conhecimento a partir e utilizando-se somente do nada.

Vão dizer por aí que estou mentindo. O governo dá livro, dá laboratório de informática, dá impressora e internet. O governo dá até tablet. O problema é que o livro falta, o laboratório e a internet são da década de 1990, a impressora engasga e o tablet tá mais pra “tablete”.

Não adianta chorar. Por isso, o mínimo de coerência. Se acreditam tanto assim que sou capaz de fazer coisas extraordinárias, me retribuam com um salário à altura. Já é um bom começo.


Arquivado em:Crônicas


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