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A SALA DE ESPERA



          Parecia cada vez mais preocupado. Cruzava as mãos sobre o colo, os nós dos dedos meio pálidos, baixando a cabeça e emitindo o ar dos pulmões num sopro. Parecia cada vez mais preocupado. Depois de um tempo, ergueu-se e passou a andar pela sala. Mapas de suor estampavam a camisa, apesar do ar condicionado funcionando a pleno. Então um homem aproximou-se.
          - O que houve? - disse, olhos negros que furavam a pele, impossível concentrar-se em algo que não os olhos.
          - Ela está bem? - ele retrucou.
          - O que houve? - o outro repetiu.
          - Eu já expliquei - explicou, nervoso. - Ela caiu.
          - O médico diz que não - opôs, olhos negros e sobrancelhas negras, pesadas.
          - Ela caiu. Ela caiu mesmo - insistia. - Ela não disse?
          - Sua esposa não está em condições de falar - olhos negros, masmorras de chumbo, muralhas negras. Impossível concentrar-se em qualquer coisa diferente.
          - Mas ela Vai Ficar Boa... - não era uma pergunta. Segurou o braço do homem, por um instante apenas, e aí os olhos o afastaram, enojados.
          - Não sou médico - disse, com frieza. - O senhor está preso.
          - Ela Vai Ficar boa? - uma pergunta.
          - O senhor é surdo? - pergunta.
          - Vai Ficar boa? - agarrava o braço do interlocutor e não soltou, resistiu aos olhos. O homem desvencilhou-se com um safanão. Ele tornou a segurar o braço. O homem puxou e desferiu um soco que o fez voar pela sala, até a parede, no outro lado. As pessoas correram de seus assentos, em tumulto. Dois homens saíram da área de atendimento, um vestido de branco, um vestido de azul, policial, segurança talvez. Foi o último que disse:
          - Não se envolva nisso, inspetor.
          - Prenda esse merda - ele disse.
          A sala encheu de homens de azul. Os homens de azul cercaram o sujeito caído. Ele chutava o ar, arrastando-se pelo chão e os homens de azul não conseguiam controlá-lo. Todos os que aguardavam no hall da emergência concentraram-se num canto, amontoados junto ao guichê da recepção e cochichavam. O grandalhão que aplicara o soco, o dos olhos negros, avançou, com raiva, empurrando os homens de azul, e pegou o sujeito caído pelo colarinho e o ergueu. Os lábios do sujeito caído tremiam e suas pálpebras também. O inspetor avisou, bem perto do rosto dele:
          - Você vai rezar para morrer na cadeia, seu bosta, eu prometo.
          - Ela vai ficar boa? - gaguejando.
          O inspetor moveu as pupilas negras, bem perto do rosto do sujeito caído, parecendo escavar alguma coisa, com os olhos, no rosto do sujeito caído.
          - Vai ficar boa? - a voz trêmula.
          O inspetor soltou o colarinho e o homem se esparramou no assoalho. Os de azul então o recolheram com facilidade, sem resistência, e carregaram para fora. O inspetor penteava o cabelo oleoso com os dedos pálidos. Baixou a cabeça e o ar saiu de seus pulmões num sopro curto. Pelo alto falante, o som ambiente pedia, num tom impessoal:
          - Parentes dos enfermos devem aguardar na sala de espera. Não é permitido transitar na área de atendimento. Parentes dos enfermos devem aguardar na sala de espera. Não é permitido transitar na área de atendimento. Favor aguardar por maiores informações na sala de espera. Seu número será chamado em breve.


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