Get Even More Visitors To Your Blog, Upgrade To A Business Listing >>

MULHERES BEBENDO CHÁ AO CAIR DA TARDE

         
          Enquanto andava com desprendimento por sua parte de ressurreição na esfera armilar da Terra, a condessa informou que o segredo é a inteligência:
          - Todas as Outras Coisas Valorizadas - disse ela -, bondade, afeto, justiça, quando expressas com felicidade, quando bem aplicadas, decorrem da inteligência nutrida com sangue gordo, brilhante, violáceo.
          Os ombros da Marquesa, sobressaimdo do vestido azul, me deixaram louca.
          - Ah, um mundo pintado em vermelho... - suspirava a dama.
          - Para quê? - desdenhou a duquesa. - Só vale se a cor não aparece.
          - Melhor se a cor nem existir - disse a baronesa -, se quedar imersa como um feto eterno num oceano de lava eterna.
          - Uma vida eterna... - assentiu a condessa. - Eis o segredo.
          - Um casulo eterno... - suspirava a marquesa, e suas unhas geladas me deixaram louca, minha pele inscrita com pontas de bronze.
          - Todas as outras coisas valorizadas - acrescentou a duquesa -, ordem, saúde, o sublime, esperariam aí, escravas da perfeição que virá, concubinas acorrentadas da luxúria de Deus.
          - Ah, Deus... - imaginava a marquesa, e eu ouvi a púrpura borbulhar sob os seios dessa mulher grandiosa e fria como uma pérola.
          - Deus não conta - opôs a baronesa.
          - Deus... - riu a condessa. - Deus é só uma faca reluzindo no poço negro da noite. O sangue vai além de Deus. O sangue é a liberdade de Deus. Deus conta muito pouco, falemos com sinceridade.
          As joias da marquesa, ameaçando conduzir o assunto para dentro do decote do vestido azul, me deixaram louca.
          - Realmente?! - duvidou a duquesa.
          - Definitivamente - disse a baronesa. - Basta olhar ao redor. Em que importam as perversões de Deus?
          - Realmente... - pensava a duquesa e, ao curvar a cabeça, os anéis de seus cabelos escorreram sobre o colo pálido.
          - Uma gravidez tenebrosa... - compreendeu a marquesa, espantada. - Eis o segredo.
          - Mais que isso! - a condessa andava com entusiasmo por sua parte de ressurreição na esfera armilar da Terra. - Eis o sentido de Deus! Sofrimento e inteligência numa guerra monstruosa, num espaço exíguo, numa cena escatológica e terrível banhada em sangue.
          - Oh, Deus... - a marquesa procurou amparo na guarda da cadeira e sua fragilidade me fez arrepiar de alto a baixo da coluna vertebral. - Oh, Deus... - repetiu.
          - Deus não conta - sorria a baronesa.
          - Mais chá? - perguntou a duquesa.
          O olhar da marquesa, buscando meus olhos, me despedaçava.
          - Não, querida - disse a condessa. - Obrigada.


This post first appeared on Prosas Bárbaras, please read the originial post: here

Share the post

MULHERES BEBENDO CHÁ AO CAIR DA TARDE

×

Subscribe to Prosas Bárbaras

Get updates delivered right to your inbox!

Thank you for your subscription

×