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Os Herdeiros do Amanhã - Capítulo Qualquer

Por Carlos R. Dean
1
 Lucio Estava buscando lenha no estoque central para preparar a janta daquela noite que estava realmente agradável, o meio inverno estava acabando e a sensação térmica estava perfeita tanto para se aconchegar perto do fogo como para dormir ao relento, bem diferente do último ano em que o meio inverno tinha esquecido a hora de ir embora e permaneceu castigando-os com seus ventos por mais duas temporadas.
     Enquanto caminhava para o estoque central lembrou que precisava entregar as encomendas do Velho Susse. Lucio fazia cadernos, livros, livretos, e cadernetas de todos os feitios e tamanhos para quem precisasse de algo onde escrever. O velho Susse sempre encomendava quatro, as vezes cinco cadernos médios por temporada onde guardava registro de todas as receitas que testava. Mesmo as que não davam certo. Era esquelético e rabugento e cozinhava como ninguém, e acima de tudo, criava como ninguém. Era capaz de misturar os mais improváveis temperos e ainda assim produzir uma refeição com um sabor totalmente novo, perfeito e inigualável.
     Estava a meio caminho do estoque central de lenha quando resolveu voltar em Casa para buscar a encomenda do velho e quem sabe com o pagamento poderia ver se Magda tinha algo fresco que ele pudesse assar hoje. Não sentia tanta fome a noite, mas sabia que os meninos certamente chegariam tarde e com certeza famintos.
    


2
 Homens não nasceram para ser solteiros pensou Lucio quando entrou em casa para buscar os cadernos. Na verdade, sempre pensava isso quando entrava pela porta da frente de sua casa de três cômodos e um elevado e se deparava com a bagunça, os moveis empoeirados e o cesto de lixo transbordando. Sua casa era composta por um grande cômodo central onde passava a maior parte do tempo. Um pouco a frente Ficava o piso superior que dava acesso a um mezanino de Cactus, uma mistura de quarto de dormir com oficina. O garoto era realmente diferente. Logo abaixo ficava a cozinha com vista inteira para o cômodo central.  A direita ficava o quarto de Irulahn e Tênia e a esquerda o seu próprio. Entrou e foi direto para o canto esquerdo da sala, onde ficava sua mesa de trabalho, vasculhou embaixo das sobras de retalhos e ferramentas e encontrou o pacote do velho Susse.
     - Aqui está, melhor leva-los logo antes que aquele velho resmungão decida que não os quer mais e me deixe no prejuízo de novo – pensou Lucio. Sorria e balançava a cabeça em afirmativa negação, como fazem aqueles que sabem o que é ter uma amizade por décadas, do tipo que conhece todas as manias e pensamentos do amigo.

3
    - Boa noite nhô Lucio. Tenho cortes frescos hoje caso você queira dar uma olhada. – Era Magda da mercearia. Estava debruçada no balcão com o peito apoiado sobre os braços cruzados, o que fazia infla-los, os tornando ainda mais irresistíveis do que já eram por natureza. Lucio lembrava bem deles, mas ao contrário dele, o tempo parecia ter sido mais generoso com Magda.
     Girou os indicadores das duas mãos no ar como quem diz que passara ali quando voltar e seguiu através da praça central em direção leste, onde ficava a casa do velho.

     Nova Batente era constituída de uma praça central onde se encontrava todos os comércios, oficinas, escolas e prestadores de serviço em geral da cidade. Dela, se ramificavam quatro ruas ao sul, quatro a leste três a oeste e duas ao norte, as quais davam acesso as fazendas dos arredores, as demais ruas ao sul, leste e oeste eram onde ficavam as casas das famílias, formando uma meia lua residencial.
     A casa do velho Susse era basicamente igual as outras, diferenciando-se apenas pelo recuo frontal, onde ele mantinha o mais belo e diversificado canteiro de toda a região. Plantava temperos, chás e algumas frutas, mas os temperos constituíam pelo menos setenta por cento daquele canteiro calculou Lucio que sempre ficava fascinado com sua beleza e capricho. Pessoas vinham inclusive das cidadelas vizinhas encomendar temperos e poções do velho. A casa se elevava atrás das plantas com não muito mais de três metros de altura, um típico telhado duas aguas e um alpendre na frente, onde vez ou outra podia-se ver o velho, tarde da noite, dormindo enquanto montava guarda para pegar algum rato da terra que estivesse interessado em seu canteiro. Mal moveu a tramela que segurava o portão e foi surpreendido pelo velho que se ergueu repentinamente do meio das plantas, chapéu de palha, calças pelas canelas e suspensórios tão gastos que um deles estava preso apenas por um fino fio que mal se podia enxergar de uma distância normal.
     -Entre meu avelho amigo- disse a voz rouca que saia daquela boca grande de dentes mais grandes ainda que se projetava na cara enrugada do velho. – Vejo que pelo embrulho que carrega meus cadernos estão prontos. Estava mesmo precisando. Venha entre, entre. – E foi se dirigindo em direção a casa enquanto Lúcio o seguia.
    -Como estão seus meninos – perguntou o velho enquanto Lucio lhe entregava o embrulho com os livretos.
    - Estão bem, estão nos morros procurando peças. Sabe como é. A energia e a fome por aventuras nessa época da vida.
      -Oxi, se sei. – E piscou para Lucio que retribuiu com seu típico sorriso de meia boca.
 - Lembro bem quando tinha a idade deles e de nossas aventuras no interior das selvas e das saias das moças. Hehe. Lembro sim. Aquele menino Cactus já faz as moças virarem a cabeça e se cutucarem umas às outras eufóricas toda vez que passa pela rua.
     -Pois é, um belo rapaz ele está se tornando. Assentiu Lucio com evidente orgulho na voz.
     - Sim, muito parecido com a mãe. E sua irmã também. Uma bela moça. Assim como a filha do falecido Linhon. As vezes ela vem aqui a procura de algumas poções e receitas. Tenho a ajudado com algumas, espero que não tenha problema para você, como seu tutor e tudo mais. Uma moça muito esperta, aprende rápido e certamente uma maga nata. Tem muito domínio sobre as receitas. Muito habilidosa.
     - Verdade? – Perguntou Lucio tentando esconder sua surpresa. Não sabia do interesse de Tênia por poções e combinações de ervas.
     - Sim, sim. Ela aparece uma ou duas vezes em cada fase da lua.  Achei que você tivesse conhecimento disso, mas a julgar pela sua pergunta e expressão acho que não sabia. Estou certo?
     Lucio balançou pensativo a cabeça em afirmação, pensando por que Tênia estaria escondendo isso dele. Afinal, sempre foram amigos. A criara desde seus sete anos junto com Cactus e Irulahn. Quando Linhon, que era seu amigo de infância, morreu junto com sua irmã, seu cunhado e mais uma dúzia de pessoas no Departamento de Sustentabilidade e Desenvolvimento Humano de Nova Batente, Lucio prometeu que oscriaria como se fossem seus. E assim o fez.

     - Não se preocupe com isso – falou o velho. – Tal pai tal filho como dizem. Conhecendo a história dela não é de se admirar que queira seguir os passos do pai.


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