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Rejeitado

Por Daniel da Silva

Buscava compulsivamente, o desespero e a sujeira da alma secavam as fontes da minha vida. Juntarão os pedaços de mim por toda parte quando eu terminar. 

Todas as noites, antes do ocorrido, eu ficava horas diante do espelho do banheiro de casa observando a escuridão depositada no fundo de Meus Olhos e procuro o Rejeitado.

Rejeitado é como eu chamo a dor que vem me atormentando todos estes anos desde que me lembro. A primeira vez que o percebi Foi Quando, com 5 anos de idade, eu perguntei à minha mãe se alguém neste mundo me amava, ela não soube responder.

Após lavar o rosto com a água gelada, fazia um frio terrível naquela noite, voltei para a cama onde revirei o meu corpo cansado sem conseguir dormir. Quem dera pudesse partir de uma vez. Senti a vontade de correr e bater a porta atras de mim sem olhar para traz.

Quando finalmente caí no sono, sonhei com a casa onde moro, era noite e as luzes estavam apagadas, eu andava pelos cômodos como um espectro. Girei a maçaneta da porta da frente. Foi quando o vento gelado da noite a abriu como um invasor, tomando o calor que restara da noite. Sentado no chão diante da porta aberta, eu observava as gotas de chuva que caíam lentamente, bailando sob a luz do poste.

Minha visão se perdeu neste bailar, como se Cada Gota pudesse contar uma historia. 

Acordei deste sonho, encharcado de suor. Meus lençóis empoçados e revirados denunciavam que meu sono não foi tranquilo. Olhei pela fresta da janela para perceber que a noite demorava a passar. Sentei-me com fortes dores nas costas. Ao massagear os ombros foi que notei os hematomas em meus braços. Parecia que havia levado uma surra, aquela dor era tão real, não sabia onde conseguira tais marcas.

Fui tomar um banho quente para relaxar o corpo e esquecer de tudo aquilo.
A água caía, é como se pudesse sentir cada gota me apedrejando as costas. Foi quando escutei o som da televisão. Alguém havia ligado! Como? Eu estava sozinho a noite toda, eu morava sozinho! Havia trancado a porta? 

Escuto passos.

Ouço algo afiado arranhando a parede do outro lado.

Quem está aí?

O silencio foi minha resposta. Ousei abrir a porta do banheiro, vestindo apenas a toalha. O terror me tomava por completo quando o vi sentado diante da tv. Cabelos esbranquiçados, magro, de pele tão suja que mal sabia se era branco. Eu fiquei paralisado rezando a todos os santos, para que o Rejeitado não mirasse seus Olhos sobre mim.

- Eu estou aqui, Roberto.

Fechei os olhos na esperança de que, em algum lugar escuro de minha mente, eu pudesse me refugiar. Aquela aberração, aquela loucura que me rodeava através do espelho, agora estava diante dos meus olhos. Apertei as pálpebras com força. Sentia sua respiração se aproximando. Minhas pernas não obedeciam. A cada passo do Rejeitado eu tremia, sentia o sangue correndo ainda vivo por minhas veias. As pontas de seus dedos ressequidos tocaram meu rosto. Eu quase vomitei com o cheio podre e acre de seu hálito.

Pedro, devo confessar que não lembro dos instantes seguintes. Sempre que tento resgatar algo, tudo me vem como um relâmpago que assusta e de nada lembro. Vivo agora na escuridão desta clinica psiquiátrica, pois o Rejeitado levou meus olhos e minha sanidade. Esperava poder contar isso para alguém que experimentara o lado escuro do mundo.

Pedro? Você ainda está aí? Não tente saber onde ele está! Ele vai levar seus olhos, Pedro!




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