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A mulher que não podia ser feliz

Por Íris de Noir

Em um dia muito calmo de chuva, ela decidiu emparedar-se na própria angustia. 

Deitou na cama e lá ficou. Não abriu as janelas e nem olhou no relógio, se esqueceu do emprego, dos filhos e do marido e decidiu ficar refletindo por horas e mais horas sobre um estranho monstro que crescia próximo ao seu estômago e que comprimia todo o sistema respiratório, quase alcançando os pulmões e impossibilitando a passagem do oxigênio ao seu cérebro, que estava com dificuldades em promover análises simples e eficazes do seu próprio corpo. 

Acendeu um cigarro na tentativa de enganar a própria mente, acreditando que a calma viria depois de três ou quatro tragadas. A calma não veio e o desespero começou. 

Começou por uma pergunta simples “o que eu fiz da minha vida?”. Eu tenho casa, marido, filhos e um emprego para pagar as contas, as contas que nem me causam prazer de fazer, pois delas eu pouco aproveito. Não me sinto bonita em um vestido novo e pouco me interessa procurar por alguma coisa que me dê essa sensação. A angustia veio crescendo e crescendo, como um bebê em gestação e começou a se mexer dentro dela. O monstro começava aos poucos tomar forma e tinha uma voz. A voz dizia em altos brados, sendo maior que as batidas do coração daquela jovem, nem tão jovem, moça. Ela dizia, “você é extremamente infeliz e nada faz para mudar por que não sabe o que é a felicidade”. 

Ela realmente não sabia o que era a felicidade. Quando criança, buscava a alegria na correria de crianças nos parquinhos, mas não se sentia realizada. Quando adolescente, procurou nas mesas e conversas de bar e grupos de amigos que nada diziam para ela. Quando adulta, procurou no altar e na maternidade e não encontrou nada. Nada em lugar nenhum, só o vazio. O grande vazio de acordar, viver, comer e dormir e nada mais buscar. Tentou ter um caso achando que isso lhe traria algum tipo de realização pessoal, pois a Felicidade Poderia Estar em algum amante. Não conseguiu nem passar da porta do bar para o motel, logo ali se sentou incapacitada e viu que a felicidade não estava nem perto. 

Agora se encontra na cama, desperdiçando um dia todo. Por um minuto, pensou que a felicidade poderia estar do lado de fora e pensou em buscá-la, pulando do sexto andar de seu apartamento. Mas até o suicídio não pareceu atraente. Foi aí então que ela realmente aceitou o fato de que era uma pessoa incomum. Ela era a mulher que não podia encontrar a felicidade, pois era uma mulher que não sabia o que era a felicidade.



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