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Amigo Imaginário

Por Dan Cilva

Acordei com a criatura e o garoto devorando a carne da minha mão, era uma dor estridente que desaguava em um grito aterrador de dor. Meu sangue escorria morno e no lampejo de consciência, joguei-me de cima do que parecia ser uma mesa.

Engatinhei desesperado pelo chão úmido tentando achar uma saída deste febril pesadelo.
Eles riam. Criança e criatura com os dentes em tom de vermelho, parados me observando e eu procurando porta ou janela que servisse de fuga.

Percebi que sobre a pesada mesa de pinho, caia uma fraca luz que vinha do buraco no teto. Com toda força das Minhas Pernas me projetei do chão para a saída usando a mesa como apoio.

Pendurado pude sentir o halito quente em minhas pernas e sabia que logo seriam arrancadas.
Eu chutei como criança e de uma vez, puxei Meu Corpo para fora daquele inferno.
Estava agora fora do velho tronco retorcido e morto da árvore na clareira, que lembrava agora, servira-me erroneamente de esconderijo.

Sem esperar, atirei-me na mata e avançava sobre aquele oceano obscuro em tormenta. Quase podia sentir meus devoradores respirando em minha nuca quando cheguei ao rio pantanoso de onde emergi inicialmente atras do pequeno Fábio.

Do outro lado do pântano havia um enorme paredão de pedra forjada pela mórbida natureza daquele local. Atravessei o visgo gelado, a mão que estava estraçalhada e me faltava dois dedos e boa parte da pele, estava pesada e fria. 

Quando me aproximei do paredão, as risadas ressoaram pela Mata. O desespero me consumia e num ato de loucura eu gritava como um animal.

Apanhei um grosso galho seco enfeitado de espinhos e agitando contra a mata, na infantil esperança de rechaça-los.

Foi quando o monte rugiu.

De trás, vinha uma forte luz branca e adocicada com o Perfume de Dama da Noite. 
Borboletas vermelho sangue encheram o ar saindo da luz, virei e caminhei vagarosamente ate a fenda na rocha.

Era silêncio quando notei que flutuava na luz, que duas pequenas e delicadas mãos limpavam os meus ferimentos.
Pensando em perguntar quem era, fui interrompido por uma voz de menina.

-Fique calmo, você está seguro agora.

A luz era estonteante e o perfume da flor me embriagava.
Aos poucos minha mente cansada percebeu que meu corpo estava deitado, leve, sem dor. O perfume vinha do decote generoso da enfermeira que ajustava a dosagem do meu soro.

Confuso e enxergando melhor, como que cuspido de um sonho, perguntei onde estava a menina da luz. 

A enfermeira com olhar sério não disse nada.

Sem dizer nada, saiu do quarto. Os sons que tomavam o ar eram do soro caindo de gota em gota em minha corrente sanguínea e das vozes dos passantes do hospital público que fui deixado.

Semanas depois, removi o gesso do braço e constatei que todos os dedos estavam no lugar mas havia perdido o movimento de dois, simplesmente não sentia mais o anelar e o médio.

Reclinado em minha cadeira, com os pensamentos longe, dentro da árvore morta, junto ao garotinho que já não era mais humano. 

Partindo o fio que me prendia ao pensamento, pousou uma borboleta vermelha sobre a pasta do caso Fábio, desaparecido.

Eu chorei.



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