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Veio na pipa


Por Dan Cilva

Naquele campo, já era tarde, mas Fábio insistia em ficar um pouco mais viajando em seus pensamentos lá com aquela coisinha de papel colorido. Sua cabeça de menino vagava ao sabor do vento, tanto que já apontavam as primeiras estrelas no céu. Uma, duas, várias luzinhas enfeitavam aquele tapete aveludado que deixava o azul e ganhava o tom da noite. A mãe chamava, mas o menino já não a ouvia porque viajava junto ao tempo e ao vento. Passaram, com o tempo, os anos. O menino virou homem e só nesse dia descera da pipa. Tinha em suas costas uma mochila azul, dessas de criança, com um desenho de nuvem. Quando desceu à terra, sua expressão era de quem acordava de um longo sonho.

Era um deserto muito seco, onde seus pés pisavam e cada passo levantava muita poeira alaranjada, daquela que faz qualquer um tossir.

Fábio limpou a poeira das roupas, alisou os cabelos emaranhados, tirou a bolsa das costas e, soltando-a no solo, parou para contemplar o mundo do qual ficara ausente por tanto tempo. Aquele lugar sentia falta de crianças.

Fábio se abaixou e, ao abrir a bolsa azul, logo tudo escureceu, pois as nuvens taparam o sol e o céu se encheu de longos trovões e poucos raios, tal como aqueles dias em que a mãe da gente grita para entrarmos. O homem-menino lembrou que tinha mãe e uma lágrima rolou pela bochecha atravessando a barba. O céu chorou também e um vento forte soprou de dentro de sua bolsa. De fato choveu, caía tanta água e Fábio chorava que até se contorcia de dor. Não era uma dor no corpo, mas no peito, pois sentia falta de sua mãe. As cidades ali perto se enchiam de felicidade pela água que há muito não chegava ali e tampouco sabiam quem a trouxera.

Foi quando um raio de sol atravessou as negras nuvens e tocou o rosto do menino-homem. Fábio, já cansado de chorar, levantou seu rosto para o céu. Sabia que queria encontrá-la. Foi quando sua mão se ergueu em direção a uma fina linha, que, por sua vez, se ligava a uma pipa colorida acima das nuvens. Seu corpo pesado foi sendo erguido, carregado até além-nuvens. Sua mente viajava com aquela coisa colorida que dançava ao vento. O coração estava com sua mãe e, do mesmo modo que veio com a pipa, assim ele se foi.



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