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Ala Psiquiátrica 14-B

Por Daniel da Silva

Pedro bebeu mais que um gole d'água antes de retomar a consulta com seu psicólogo. 

- Desde o caso do garoto Fábio não consigo dormir plenamente. Sempre tenho sonhos com a velha árvore e aquela coisa que acompanhava o garoto. 
Às vezes, quando fecho meus olhos, quase posso sentir o lodo do pântano e a neblina se formando ao meu redor. 
Sinto-me arrastado por uma força misteriosa e macabra.

Laio era um velho amigo da família de Pedro e as consultas sempre eram de graça. No entanto, o que Pedro vem narrando nas ultimas semanas tem perturbado até mesmo o equilíbrio mental de Laio. 
Sorvendo fundo de um cigarro barato, o doutor escreve cada palavra de Pedro e circunda os trechos mais interessantes com inferências até mesmo jocosas.

- Pedro, você falou na ultima seção sobre uma garota com uma lanterna que o salvou do pântano e das criaturas. 

O detetive recostou no divã e, olhando estático para o teto do consultório, pôs a mão enfaixada diante do rosto e a observou atentamente. 
Sentia a carne regenerando sob as ataduras. Lembrava do monstro que mastigava o tecido de seus dedos.

- A garota que me tirou do inferno não pode ser humana... Entenda, Laio: eu estava condenado a ser devorado ali e nem Deus lembraria de mim.

Laio batia a ponta do lápis contra o bloco de notas. Seu Rosto transparecia a tentativa vã de imaginar a situação mórbida que Pedro experimentara.

- Pedro, conte novamente como foram seus dias após receber alta do hospital geral de Limeira.

Pedro colocou o braço atrás da cabeça como um travesseiro e prosseguiu.

- Fui absorvido por tudo que tinha a temática sobrenatural. Comecei a ler todo tipo de coisas, livros, recortes de jornal e falando com pessoas que vivenciaram algo fora do normal. 
De E.Q.M. até magia ritualística egípcia. Queria ver por trás do véu e entender o porquê de ser resgatado e o motivo deste mal à espreita... Laio? Por que está suando tanto?

Nem mesmo o psicólogo havia percebido que estava prestes a ter um ataque de nervos. Seu olhar era vazio e de sua boca saía um som abafado, era como um sussurro, mas grave e metálico. Laio agora saliva compulsivamente e desfere um olhar aterrador no fundo da alma do detetive.

- Todos nós esperamos por você! Seus olhos parecem deliciosos!

Pedro se levanta prontamente com o coração batendo forte ao ritmo dos disparos de sua pistola. Mesmo sem a parte de cima da cabeça, aquilo usava a boca de Laio para gargalhar. Aos poucos o som cessa, Pedro aponta firme a arma contra os restos de seu amigo e as lágrimas escorrem por seu rosto.

- Por que o Laio e não eu?









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