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O Alzheimer da Vovó

Vovó voltou a ser criança. Vovó usa fraldas, e é preciso trocá-las pelo menos duas vezes ao dia. Vovó não sabe dizer quando sente dor. Vovó não realiza sozinha, nenhuma de suas funções fisiológicas normais. Vovó não sabe distinguir a noite do dia, nem sair ou se deitar na cama sem ajuda. Vovó usa cadeira de rodas e em espaços curtos, usa muleta. Vovó tem medo do abandono, tem medo de ficar sozinha e precisa que durmam com ela todas as noites. Vovó não sabe dos remédios que toma, do Alzheimer e do câncer que têm. Vovó não fala “coisa com coisa”, vovó repete as palavras muitas e muitas vezes, raramente se lembra de alguém que a visita e está sempre pedindo para ir para casa. Vovó fez de mim sua casa. E eu, sou sua “neta terapia”, sou quem a beija, a abraça e sorri todos os dias quando ela acorda só pra fazê-la se sentir acolhida. Ouço suas histórias antigas quando sua memória resolve despertar. Pinto suas unhas, penteio seus cabelos já bem ralos, porque ela pode ter perdido tudo, menos a vaidade. Agora é a minha vez de preparar seu leite com café, de cuidar dos seus remédios e horários, porque foi por mim que ela dedicou seus dias quando eu era criança e precisava. Agora sou eu quem dá algum doce a ela, vez ou outra, escondido da minha mãe, como ela tanto fez na minha infância, comprando chocolates e coisas de avó pra me dar. Eu sou sua neta, mas ela é minha bebê, princesa, coisa linda. E se ela pudesse entender, saberia que pra mim, ela é a mesma, mesmo perdendo as memórias, dizendo e fazendo coisas que fazem as pessoas fugirem, porque eu permaneci ao longo de todos esses anos. Eu sei que ela mudou, é visível, mas Pra Mim Ela é a mesma. É a vovó Antônia de sempre e pra sempre. 




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