Sou mulher. Tenho medo de andar sozinha a noite, fico atenta se preciso passar por um lugar um pouco mais isolado, odeio quando ouço assovios ou “elogios” desagradáveis em lugares aleatórios e na maioria das vezes, os respondo de maneira não muito educada. Não concordo com o discurso de “mulher tem que se dar o devido valor”, “mulher tem que se cuidar e cuidar da casa”, só pelo fato de terem vindo ao mundo como mulheres, no entanto, fundamentando a teoria “do contra” a qual sempre fui adepta, reconheço e declaro que o enunciado feminista moderno não me representa.
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Confesso que não sei de onde emergiram as atuais feministas que não se depilam em sinal de um protesto qualquer contra o famigerado “homem: primata e repressor” e confesso também que estou inteirada de estar pintando um alvo em mim mesma, porque entre as discussões e discursos que tenho lido, o diálogo sempre fica acalorado se, por qualquer motivo, não se concorda com as concepções feministas, mas acredito no poder da dialética liberta e por isso, talvez, é que não parei no meio do caminho.
Antagônica à imagem da feminista clássica que lutava pelos direitos da mulher, os problemas advindos de uma sociedade que ainda é machista e patriarcal, o que se vê é uma epidemia de mulheres inconstantes e intolerantes que usam seu tempo mais para atacar outras mulheres – mais conservadoras – e homens, do que para celebrar as conquistas femininas e continuar a luta que, reconheço, está longe de ser vencida.
É inegável a beleza, força e poder da mulher, e sinto grande euforia e satisfação em levantar a bandeira girl power, mas não consigo enxergar, talvez defeito meu, o que é tão criticado pelas feministas fomentado pela mídia ou por algumas marcas, a exemplificar, cito uma marca de esmaltes que com o intuito de exaltar pequenos gestos masculinos, deu nome a toda uma linha dos seus produtos usando os agrados feitos pelos homens. Talvez, se tivessem aclamado, ao invés disso, os atos das grandes mulheres – como foi proposto na internet – a imagem da marca teria sido preservada, porém, não enxergo isso como uma grande afronta às mulheres e prefiro partir do princípio da igualdade entre os gêneros: todos merecem agrados. É por essa igualdade que explico o início do texto: se mulher tem que se dar o devido valor, acho que o homem também tem, sem se imaginar melhor ou mais austero; se mulher tem que se cuidar, o homem também tem e não é questão de agradar o parceiro ou parceira, mas de se deleitar consigo mesmo; se mulher tem que cuidar da casa, o homem também tem, afinal de contas estamos falando aqui, do lugar onde se vive, é dever dos dois. O estereótipo do “tem que”, vale para os dois, porque se vê muita mulher por aí rotulando os homens também “homem não sabe cozinhar”, “homem não presta”. Generalizar é afiar a burrice.
Incontestável que se os alvos de toda a discussão – os homens acéfalos – mudassem seus costumes, o problema seria reduzido, no entanto, sabotar o próprio movimento, ao que se vê, não origina bons resultados, é preciso mais que isso, lutando pelos reais propósitos, a revolução libertou as mulheres ao longo da história e por causa dela se pode muito mais. Se o machismo e a misoginia são reais, as mulheres provam, dia após dia, que são mais reais ainda.
Mulheres em manifestação na década de 1970.