Dia desses tinha pensado em escrever um texto de apresentação: sentei, pensei e nada. Queria é uma apresentação de verdade, que revele, pelo menos, um pouco mais do que a mísera apresentação que mantenho ali do lado – pela estética do blog e para não criar imagens errôneas de quem aqui vos fala. Pois bem, descasquemos o abacaxi.
Ando pró-ativa, pensando no futuro, tentando resolver questões que ainda nem deram as caras e pediram soluções. Ando fazendo exercícios, cuidando da saúde. Ando aguçando o olhar cético aos que me rodeiam e inibindo as críticas que surgem na minha cabeça, direcionadas, às vezes, até a mim mesma. Ando percebendo o mundo a minha volta, ando dando atenção a quem julgo precisar, ando antecipando cenas de bondade, mesmo que as mesmas não aconteçam. Ando ostentando com destreza a coroa imaginária sobre os cabelos curtos. Ando tentando deixar de lado, um pouco, a urgência por decretos que prolonguem a sensação do eterno.
A melancolia chega justamente quando a inércia dá um grito desesperado pra mostrar que ainda tem um espacinho aqui dentro de todo o caos. Passividade, desânimo, silêncio. E aí se desencadeiam as inseguranças, os medos e a autossabotagem... Acabo sabotando as chances de viver e interatuar por puro Medo, covardia. Ainda sinto a urgência da vida efêmera, mas sem saber de muita coisa ou coisa alguma, me reservo o direito de permanecer soberana no topo da torre mais alta da procrastinação. Fico preguiçosa, deprimida e ao ver a primeira cama a sina é a mesma: afundar e encontrar Alice na psicodelia dos sonhos, análogo ao país das maravilhas.
Percebi, outro dia, que tenho medo de escuro. A casa de luzes apagadas, à noite, se torna um antro caliginoso, e eu, débil, das duas uma: ou corro para o interruptor mais próximo ou me encolho com os olhos cerrados esperando o momento certo de pegar a próxima onda de coragem para voltar para cama. Beira o ridículo que, só agora, eu tenha desvendado esse medo, e talvez ele seja o reflexo do medo perpétuo do futuro. É às claras, e não no escuro, que as minhas inseguranças fazem a graça de dar o seu ar.
Entre a moça da coroa e a moça entre as cobertas e travesseiros, são raros os momentos em que sinto que tenho controle da situação toda, rezo e espero que eu, dona de mim mesma, uma hora assuma o papel de protagonista da própria vida, pra não ter que intercalar momentos de paz com momentos de absurdo caos. Enfrento um demônio por dia, mas acho que está tudo bem.