Apenas assinalo que estou inteiramente de acordo com Schopenhauer quanto ao seguinte ponto:

"Eu realmente acredito que a quantidade de ruído que alguém pode suportar é inversamente proporcional aos seus poderes mentais, e pode proporcionar uma medida satisfatória dessas capacidades. Por isso, quando ouço cães latirem por horas no quintal de uma casa, sei o que pensar sobre os poderes mentais de seus moradores. Aquele que, habitualmente bate as portas, ao invés de fechá-las com cuidado, ou permite que isso seja feito na sua casa, não é apenas um impertinente, mas uma pessoa bruta e pouco inteligente. Em inglês, sensível significa também inteligente [verständig], o que está baseado, portanto, numa correta e refinada observação. Nós só seremos realmente civilizados quando nossos ouvidos não sofrerem mais abusos, e quando ninguém mais tiver o direito de invadir a consciência de cada ser pensante em um raio de mil metros com assobios, uivos, marteladas, chicotadas, batendo palmas, permitindo que cães ladrem, e assim por diante. Os habitantes da Sibéria baniram de suas cidades os ofícios barulhentos. A respeitável seita dos Shakers na América do Norte, não permite nenhum ruído inútil em suas aldeias e sobre os morávios o mesmo é relatado"*.

Repetindo para quem não leu (em voz baixa): "Nós só seremos realmente civilizados quando nossos ouvidos não sofrerem mais abusos..." de músicas nos ônibus, de barulho de furadeiras e marteladas nos apartamentos vizinhos, dos gritos de crianças nas escolas ao lado de casa, e por aí vai (o leitor deste blog, se é que há algum, pode acrescentar nos comentários as impertinências e abusos sonoros de que sofre diariamente).

*SCHOPENHAUER, Artur. O Mundo como Vontade e Representação. Tomo II. Volume I. Tradução: Eduardo Ribeiro da Fonseca. Curitiba: ED. UFPR, 2014, p. 81