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Grandes decisões

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Alberto entrou rapidamente no seu carro, afivelou o cinto de segurança, guardou o celular no porta-luvas, e partiu. O movimento na rua era grande, normal para aquele horário: muitos pais vão buscar os filhos nas escolas, e elas por serem em bairros sem muitas vias de acesso acabam prejudicando o movimento no entorno. Alberto não estava muito preocupado com isso. De fato, ele estava tão consumido por seus pensamentos que nem mesmo ligou o rádio para lhe ajudar a se distrair. Aquela foi uma semana diferente das outras para ele.
No final de semana ele foi com os amigos para uma festa de uma conhecida de um deles. Alberto não teria a companhia de sua namorada Susana, que havia ido passar o final de semana na casa de mãe que vivia em outra cidade. Apesar da preocupação com a saúde dela, que andava indisposta durante a semana, Alberto estava exultante por um pouco da vida de solteiro. Normalmente nessas festas Alberto costumava se destacar, por entreter as pessoas contando alguma das suas inacreditáveis histórias de trabalho. Naquela semana Alberto tinha uma história boa: o coitado do office-boy foi enganado por duas mulheres, que levaram o dinheiro do escritório. Como seus amigos não eram do trabalho, ele contava e as pessoas se distraíam bastante, até pelo modo como ele contava, cheio de gestos, detalhes, mesmo que não fossem todos verdadeiros. A bebida, a comida e a camaradagem ajudava a animar a situação, mas a grande surpresa de Alberto ainda estava por vir.
Enquanto Alberto foi pegar umas cervejas para os amigos num isopor, ele percebeu que estava chegando ali um rosto conhecido, inesperado e muito querido: Elisa, uma colega de trabalho. Alberto foi logo cumprimentá-la:
- Oi Elisa, o que tá fazendo aqui?
- Eu que te pergunto, Beto: A minha amiga é a dona da chácara.
- Eu vim com o Alencar, parece que ele tá saindo com a sua amiga.
Após isso, os dois engataram numa conversa só entre eles. Fazia um bom tempo que os dois já trocavam olhares no serviço, e um certo flerte rolava no ar. Agora ali, num momento onde poderiam conversar mais sem a presença auspiciosa de alguém do escritório, o papo fluiu de forma impressionante. Era mágico como a conversa deles combinava. Enquanto estavam ali, as horas passavam rapidamente. O clima entre eles era inegável.
O único problema de Alberto é que ele era comprometido. Susana era uma moça adorável, e desde o início do namoro todos diziam que eles formavam o casal perfeito. Porém a relação acabou se desgastando bastante com o passar dos anos. Apesar de morarem em apartamentos diferentes, praticamente viviam como casados. Mas Alberto já não tinha mais certeza se queria continuar com o relacionamento. O amor que ele sentia no início certamente não era mais o mesmo. Cada encontro com ela trazia um pouco de sofrimento e má-vontade da parte dele.
Enquanto dirigia pelas ruas, Alberto lembrou-se novamente do momento em que percebeu que o namoro não podia continuar mais: Próximo ao final da festa, Elisa não queria mais ficar, e a anfitriã não queria levá-la, ela havia pensado em Elisa passar a noite lá, porém o clima entre a dona da chácara e o Alencar estava esquentando, e Elisa certamente não queria segurar vela ali. Alberto logo se ofereceu para levá-la para casa.
Se foi erro, se foi acerto, vai da opinião de cada um. O fato é que durante a viagem até a casa de Elisa, eles foram conversando, e na despedida, houve um beijo no rosto, um abraço um pouco mais demorado, um outro beijo no rosto, mais abraço, um beijo na boca, e os dois acabaram fazendo amor.
No domingo seguinte, apesar dos momentos intensos da madrugada, a conversa entre os dois foi um pouco mais séria: Alberto traiu Agora com Elisa ele se sentia como se estivesse apaixonado pela primeira vez.
Alberto falou com Elisa:
- Oi.
- Oi.
- Escuta, a gente tem se visto bastante, e eu devo te confessar que sinto algo diferente.
- Eu também sinto algo diferente. Só que eu levo a vida a sério, quando entro em um relacionamento, é pra valer.
- Sinto que devo tomar uma decisão também, não posso continuar com uma mentira.
Assim, Alberto saiu da festa disposto a botar um ponto final em seu relacionamento, finalmente a situação chegou ao seu limite.
No dia seguinte, Alberto foi trabalhar como sempre, e planejando o que dizer para Susana. Certamente seria uma longa noite.
Mas o inesperado aconteceu: pela hora do almoço, Alberto foi surpreendido por um telefonema de Elisa.
- Alô Elisa.
Alô Beto, tem como a gente almoçar juntos? Você vem aqui no restaurante de frente à repartição, que eu tenho algo sério para te dizer.
-Está bem. Tchau.
O caminho até o restaurante foi tranquilo, o de sempre em cidade grande, mas os pensamentos de Alberto estavam congestionados. Mil idéias passavam por sua cabeça: será que ela quer terminar tudo? Se for isso, é mais tranquilo. Mas, e se ela tiver outra coisa para contar. Ai meu deus, e se ela tiver engravidado? Toda essa indecisão na minha vida, eu preciso tomar uma atitude importante agora, essa é uma decisão que pode mudar a minha vida para sempre.
Alberto parou no sinal vermelho. De repente, três pessoas aparecem na janela do motorista. Uma delas grita:
- É um assalto, sai do carro.
Alberto se assusta com a reação, olha para o assaltante que o interpelou, ele está com um revólver nas mãos. Alberto no desespero tenta sair do carro, porém não consegue soltar o cinto de segurança. Os bandidos começam a perder a paciência:
- Vamo logo, quer morrer?
- Já estou tirando! Vamos logo...
A pressa e a gritaria apenas aumentavam, e tudo piorava conforme o tempo passava e o sinal logo seria liberado. De repente, no meio de todo aquele barulho das ruas, o som de um tiro. Os assaltantes saíram correndo dali.
O carro permaneceu ali parado no cruzamento. Após a mudança de sinal, alguns sons de buzinas, veículos passando ao lado, e aos poucos uma multidão de pessoas passou a se concentrar na calçada, e seus olhares e comentários falando sobre o carro branco parado no meio da via pública. Alguns minutos depois chegou uma viatura da polícia que se posicionou logo atrás do carro parado. Policiais saíram do veículo e prontamente fizeram um cordão de isolamento. Em seguida, dirigiram-se até o carro branco onde olharam atentamente para o corpo sem vida de Alberto, olhar expressivo, mão na fivela do cinto, a cabeça pendente para um lado, uma trilha de sangue marcando seu rosto.
Enquanto um dos policiais se colocava atrás da viatura conduzindo o trânsito complicado no local, o outro foi pedir por um guincho e apooio do instituto de perícia para realizar os procedimentos necessários. O policial também aproveitou para buscar um cobertor para cobrir a feição cadavérica de Alberto, fria e tensa, parada no tempo. Enquanto isso, a vida corria, com exceção de uma via fechada da avenida, uma multidão de curiosos alternando a permanência enquanto faziam as mesmas perguntas a outros curiosos, e um som de telefone celular tocando insistentemente no porta-luvas.


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