Get Even More Visitors To Your Blog, Upgrade To A Business Listing >>

Reminiscências de noites sem fim

          Minha cabeça dói, sem esperanças. Minhas memórias vagas remetem àquelas noites em que eu podia acariciar seu corpo praticamente nu, em um toque tão leve capaz de sentir o veludo de sua pele. Você Sempre deitava de bruços, os seios sobre os braços, seu rosto virado para mim e os cabelos repicados na altura do ombro tampavam seus olhos, mas Nunca escondiam o seu sorriso incomparável, até que caía no sono. Sempre tive minhas pequenas razões para sorrir. Pego meus fones e estouro meus tímpanos para não ouvir o que vem de fora pelo meu caminho. Minha cabeça dói, sem esperanças, minha mente perturba com frequência involuntária, mal consigo dormir nesses últimos meses. O colchão já esta fundo, não oferece conforto, o travesseiro muito baixo, fungos tomam a parede do quarto, talvez de todo o prédio, que sofre de uma infiltração desgraçada e ninguém se importa, e meu trabalho é frustrante, sempre foi, você sabe disso.
Desde a ultima vez que te vi, para mim nada mais importa, naquele mesmo dia tirei esta Foto, o céu de um azul claro, infinito, a luz refletia em seus cabelos pretos bagunçados pelo vento, os olhos claros, castanhos, brilhavam olhando pra mim como se aquele momento fosse eterno e o sorriso maroto, quieto. Minha terapeuta sempre diz "você precisa criar uma rotina que te faça fugir disso", mas na realidade, eu nunca quis fugir. São estas reminiscências de Noites Sem Fim que as vezes me acalma... conversar contigo desta maneira, deitado, observando esta foto, as vezes choro, mas... ah, não importa. Sinto falta de sua voz, suas manias. Nunca beijava meus lábios ao desejar boa noite, mas beijava meu pescoço no topo próximo ao maxilar e não falava nada, sabia como aquilo me esquentava e era o suficiente para me entregar a Morfeu. Infelizmente, a morte é o destino da vida. E agora falo sozinho, sem coragem de olhar sua foto. Já estava doente quando te conheci, e nunca pareceu fraca.
Na ultima noite, beijou-me o pescoço, você dormira em paz, acariciei seu rosto enquanto chorava com medo do que poderia vir, quando dormi - sonhos abstratos, acordei gritando, acalmou-me com um beijo no rosto e disse “não se preocupe”. Fomos aproveitar o dia, caminhamos na praça, tirei aquela foto sua enquanto estava sentada e repentinamente o vento e as folhas secas tomavam e criavam a beleza do cenário. Parecia um presságio, um sinal, e o momento registrado para esculpir a eternidade. As 18hs recolheria-se para o hospital, o transplante era necessário, mas ela simplesmente me disse “quero que vá embora, como se este fosse um ótimo encontro, que realmente foi, quero que lembre de mim, eu não posso fugir disso, e eu não quero que esteja lá.” Lutei, fiz o máximo que pude, mas o hospital não permitiu minha visita. Suas últimas palavras para mim dizia em sussurro e lágrimas “eu sempre te amarei”, seu ultimo gesto... entregar-me uma folha de caderno dobrada. Nunca o abri.
Talvez agora seja o momento. - Levantei com pressa, esbarrei forte no criado-mudo arranhando meu braço, deixando os livros e o porta-retrato com sua foto caírem, abri a gaveta com ansiedade, baguncei os papeis e o encontrei. Deitei-me rapidamente e abri aquela folha já quebradiça, lá estava: “Todas as vezes que sentir um calor chegando à você em um intenso frio, saiba que foi um beijo que lhe enviei.” Era apenas o que estava escrito, palavras que nunca saíram da minha gaveta, capazes de me tomar, ouvir meu pulsar, sentir um calor intenso, um frio eloquente... nada mais precisa existir. 


This post first appeared on Reinvento Delírio, please read the originial post: here

Share the post

Reminiscências de noites sem fim

×

Subscribe to Reinvento Delírio

Get updates delivered right to your inbox!

Thank you for your subscription

×