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O PRIMEIRO AMANHECER

Jeannette Woitzik
Quando ela nasceu lhe tiraram os Olhos. Os seus primeiros sonhos foram apenas sonhos. Nunca chegaram a se realizar. Tudo ao seu redor era feito da mesma matéria do seu corpo – saudade e lembranças. O princípio da sua existência, o mais longo, havia se apagado suavemente com as suas primeiras memórias. O tempo não importava. Existir daquela forma lhe parecia tão bonito. Passava as horas tentando reviver, em vão, o que imaginava ter sido. E sem saber como, ela ganhou de presente os olhos, dois Lindos Olhos negros. Quando Aprendeu a usá-los, já não havia mais tempo. E por um dia, apenas um dia, ela viu a luz do sol. Viu também uma linda flor nascer na primeira manhã da sua vida. Sob a luz intensa do alvorecer ela viveu e sentiu tudo o que nunca havia conhecido. Correu pelos campos de algodão, viu o mar e se encantou com lagartas e mariposas coloridas diante dos Seus Olhos. Já ao final da tarde chegou a conhecer o amor, tão intenso e fugaz! E com os olhos, veio a terrível limitação da consciência de que estava viva. Finalmente, ao anoitecer, sentiu o corpo cansado. Viu suas mãos pela primeira vez. Descobriu seus traços no espelho e não encontrou o seu coração. Tocou seus olhos e chorou. E ao surgir as primeiras estrelas ela se deu conta de que nem mesmo uma vida inteira era suficiente para ver todas as estrelas no céu. E finalmente, quando aprendeu a usar os seus lindos olhos, já era noite – uma noite muito escura - que a fez adormecer e sonhar com nunca ter tido olhos!
Dramoscópio. Emerson Cardoso Nascimento. 2012.


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