Por Dan Cilva
Testando o limite do meu crânio, corri para pegar o ônibus com uma tremenda dor de cabeça. Os sons misturados da cidade e o pronúncio ecoavam com um zumbido que, hipnoticamente levavam minha mente para longe.
Apenas recobrei a percepção já estirado sobre o capô de um automóvel, com cacos de vidro presos em minha testa e cortes aparentemente superficiais. Estranhamente, a minha dor de cabeça passou. Era 15h23 quando cheguei ao pronto socorro, sentindo forte dor pélvica. Assim que fui atendido, examinado, limpo e costurado, recebi alta e um atestado que indicava minhas férias prematuras.
Devido ao trânsito periférico, cheguei em casa já tarde da noite, aturdido e ainda assimilando o ocorrido. Eu estava só, sentado à cama, quando minha mente insistia em perambular por entre as brechas de pensamentos vis. Ela brincava e desaguava em silhuetas sem sentido, meus devaneios brincavam comigo. O médico disse que o analgésico continha alguns efeitos adversos caso ingerido com álcool.
Naquela noite sonhei com um rio de águas profundas e escuras, por onde eu flutuava como a espuma do do leito, eu Era Levado lentamente. Às margens deste rio, prostradas , testemunhas de pouca folhagem e que assobiavam com a brisa que vinha. Eu era levado e à medida que seguia para longe, mais eu me esquecia da dor, do acidente e de tudo que acarretou aquele momento.
Quando percebi, já estava desaguando no mar e afundando. Meus pulmões rendiam-se às águas e tudo que era tranquilo agora era desespero, dor e medo. Lá no fundo eu sabia que não haveria volta, que a esperança não residia em um lugar tão escuro e frio. Sentia meu corpo amolecer, perdia coisas. Primeiro a vontade, depois a voz e, um a um, sumiam os sentidos.
Sobrava nada.
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