Por Dan Cilva -
Toda menina já brincou com bonecas. Eu não sentia falta de brincar, muito menos de brinquedos. Mamãe já nem estranhava o fato de eu não me interessar pelo futuro promissor como dona de casa ou o meu total desinteresse pelos maravilhosos pretendentes que papai insistia em arranjar para mim.
Os livros eram meus namorados e o conhecimento, meus amantes.
Meu nome era Verônica. Eu não via a hora de sair de casa e desbravar este mundo e o que de misterioso nele continha. Era noite do meu aniversário de 15 anos e vovô, um senhor de idade já bem avançada, presenteou-me com uma lanterna toda enfeitada com belas ilustrações. Havia na base da lanterna um anel dourado com borboletas desenhadas em baixo relevo.
- Verônica - vovô tentava me dizer algo sobre a lanterna mas minha atenção estava presa no distinto artefato - você deve se cuidar, afinal agora já é uma moça e tem responsabilidades!
Enquanto meu avô falava, eu me distanciava da festa para o grande jardim que adornava os fundos da casa.
Parei para contemplar meu estranho presente em silêncio, sob a obscura sombra da grande árvore que tronava o jardim da família. O dourado das borboletas rasgava a escuridão e cintilava em meus olhos que, agora, pouco percebiam do mundo a minha volta.
Os sons de minha festa juvenil se faziam distantes. Com a cabeça recheada de curiosidade, resolvi ligar a lanterna que, para meu espanto, ligou sozinha. Apontei em volta e onde a luz alaranjada tocava, pairavam borboletas e um perfume quase imperceptível de flores.
Meu coração quase saiu do peito quando senti sua mão tocar meu ombro. Meu avô me resgatou à realidade quando ao mesmo tempo me espantava com seu curioso gesto, pedindo para que eu ficasse em silêncio.
Ele se abaixou e apontou para além árvore. O que eram aqueles borrões?
Vi uma enorme sombra se arrastando por entre as árvores do bosque vizinho à minha casa. Minha visão congelara sobre aquela sombra, que devia ter uns 15 metros; era esmagador o medo que tomou minha mente. Eu não queria ver, mas vovô moveu minha mão que segurava a lanterna. No instante em que a mística luz da lanterna de borboletas tocou a sombra, eu tranquei meus olhos com tanta força que doía.
Eu apenas escutava um urro estridente de dor e agonia. Quando veio o silencio, meu avô enxugara as primeiras lágrimas que rolaram pelo susto e eu abri os olhos.
Eu apenas escutava um urro estridente de dor e agonia. Quando veio o silencio, meu avô enxugara as primeiras lágrimas que rolaram pelo susto e eu abri os olhos.
Jamais veria cena mais majestosa que aquela. Uma revoada de borboletas brancas banhadas pelo cheio luar que agora tomava todo o bosque.
Meus pais saíram para ver tal evento com seus amigos. A festa prosseguia ao luar e ninguém mais saberia de tais criaturas que permeavam as sombras e que só a lanterna de borboletas poderia aplacar. Mais tarde, meu avô disse que aquela lanterna chamava-se Olho de Vidro e que era a luz de nossa família.
A questão que me pressionava aquela e outras noites é: existem mais destas sombras vagando no vazio da noite?