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Em Os Crimes ABC, o passado de Poirot importa

* sem spoilers

De 26 a 28 de dezembro, a série Os Crimes Abc foi exibida pela BBC One na Inglaterra. Adaptação do livro de Agatha Christie, o programa trouxe John Malkovich como o detetive Hercule Poirot, numa história ambientada na década de 1930.

A roteirista Sarah Phelps contextualizou o clássico de Christie em 1933, trazendo assuntos relevantes da época como a ascensão do fascismo e a xenofobia crescentes na Inglaterra. Poirot está inserido neste cenário que borbulha preconceito e raiva, passando com frequência por situações desagradáveis apenas por ser belga.

Num primeiro episódio, há de se estranhar o abatimento do personagem. Poirot parece perdido, melancólico, até risível. Não tem prestígio com a polícia (o personagem vivido por Rupert Grint o destrata constantemente) nem vive cercado de glamour. Não estão em evidência as suas pequenas manias nem o ego inflado. Ele parece um homem triste e desesperançado.

A partir do segundo episódio, entende-se que o segredo da série está no passado de Poirot (e não apenas na descoberta do assassino das cartas ABC). Este passado só é revelado no último episódio, mas durante a história várias pistas vão sendo oferecidas ao público. Se os fãs mais tradicionais torceram o nariz por causa da mudança no bigode do detetive, certamente vão convulsionar com o final que Sarah Phelphs escolheu.

A intenção da roteirista foi dar um toque mais realista ao clássico, associando o momento político da década de 1930 com o de hoje, com o Brexit e as políticas de Trump tomando as manchetes dos jornais. Em entrevista, Phelps explicou que,

A linguagem da época é exatamente a mesma que a do Brexit e Trump: deter a corrente dos imigrantes, construir o muro… Eu queria ver como isso aconteceu e o que isso poderia significar… (na década de 1930) a União Britânica dos Fascistas está em ascensão e há recessão e inquietação na Europa, e no mesmo tempo que nos levou hoje para ir das Olimpíadas ao Brexit – seis anos – haverá outra guerra. Muitos danos podem ser feitos em seis anos e eu queria que as pessoas entendessem isso.

Foi uma decisão corajosa e que imprimiu profundidade à história. Para além de embarcar na jornada da investigação em si, vê-se a consequência de políticas nacionalistas usadas para manipular a população e incitar o ódio, e como isso fere a dignidade das pessoas.

Neste contexto, Poirot foi bem interpretado por John Malkovich. É muito duro ver o personagem ser humilhado nas ruas pelo fato de ser belga, e ao mesmo tempo entende-se então a gravidade do olhar de Malkovich. Poirot está mais humano, é falível e tenta apenas sobreviver diante do caos. Mas acima de tudo ele quer fazer justiça, ele quer identificar o mal. Essa sua essência não muda.

John Malkovich no papel do detetive Poirot

O terceiro e último episódio revela o mistério de Poirot, um segredo que vai dividir opiniões mas que não passará batido. Assim como o elenco bem escalado, com destaque para as atuações de Eamon Farren (Alexander Bonaparte Cust), Andrew Buchan (Franklin Clarke), Rupert Grint (o odiável Inspetor Crome) e Tara Fitzgerald (Lady Hermione Clarke).

Série recomendada para quem é pouco conservador e aceita mudanças na história. E parabéns ao Sr. Malkovich por interpretar Poirot com tanta dignidade.

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