Get Even More Visitors To Your Blog, Upgrade To A Business Listing >>

Capítulo Seis

Tags: ndashndash
O que tenho a dizer desse capítulo é que... até certo ponto sou team Taylor, no outro sou Team Gabriela, e então... empatou. =D
Boa Leitura!




Se Taylor achava que um mês arrumaria alguma coisa ou, seja lá o que estava maquinando naquela cabeça oca dele, ele estava redondamente enganado.
Não me importava se tínhamos caído nesta em comum acordo ou quase, pois se já era difícil recuperar três anos em um mês, isso contando com alguma força de vontade da parte dele, ficar estagnado e não fazer nada tornava aquilo impossível.
Mas também o que eu poderia esperar de um cara que neste tempo todo nunca se deu o trabalho de olhar além de seu umbigo?
Não era como se eu esperasse que da noite para o dia, ele se transformasse num cavalheiro de armadura brilhante esbanjando romance e dedicação para construir um nós, porém depois de sua postura anormal era de se esperar por algo, mesmo que mínimo. E nada.
Definitivamente eu era uma tonta.
          Não tinha aceitado seu “um mês” e não tinha negado, tampouco.


A verdade é que na ocasião estive chocada demais com sua postura e fadigada daquela conversa para verbalizar sim ou não, e meu silêncio acabou sendo entendido como um sim, até mesmo por mim, eu confesso. Contudo, isso somente durou até eu me colocar nos eixos da razão novamente e a cada dia minha decisão se fez mais firme, até que tomei uma atitude.
Eu acreditava que para tudo na vida existe o tempo certo, até mesmo para o nosso luto –– quer seja por um ente querido que houvesse partido, por um animal estimado ou por um amor não correspondido ––, existe o tempo de começar e acabar.
Nada dura pra sempre.
E fora me apegando nisto que levei minha atitude de dias atrás da melhor maneira que consegui, a melancolia existia, é óbvio, mas pensar no futuro e nas novas possibilidades que se abririam ajudava a dor diminuir. E claro, não poderia esquecer-me de minhas fieis amigas, pois apesar de tudo parecer estar contra mim, eu tinha aquelas duas malucas ao meu lado.
Uma família a quem recorrer quando se está na minha situação é o melhor remédio seja para dar apoio moral ou apenas para estar lá para amparar da queda inevitável. Bem, eu já não possuía a minha família biológica para arcar com o papel, mas tinha a família de coração que valiam igualmente.
Kendra, Julie e eu havíamos nos adotado mutuamente. Nossa relação se lançava além da amizade, havia uma cumplicidade e bem querer entre nós, que apenas irmãos com uma ligação muito especial compartilham.
Apesar de tudo, eu poderia dizer que era abençoada.
–– Tem certeza que quer ir agora? –– Kendra perguntou quando ajeitei a bolsa no meu ombro e me coloquei de pé. –– Fique mais um pouco, aluguei um filme daqueles de deixar os olhos vermelhos de tanto rir e ainda há uns dois potes de Häagen-Dazs¹ de pistache.
–– Está querendo me engordar Kendra?
Ela rolou os olhos teatralmente.
–– Querida, nem se você comer um boi por dia seria capaz de engordar um grama sequer. Eu quem não me cuide não, porque se brincar até o oxigênio me faz parecer uma bola, porém sempre posso abrir uma exceção.
–– Tentador, mas eu preciso ir.
Depois das minhas aulas, eu tinha passado no apartamento que ela dividia com Julie para jantar com ambas, e para dar um episodio da minha novela também, sabe como é, colocar o papo em dia e como sempre acontecia quando estávamos juntas acabei perdendo à hora.
Violet não me preocupava, pois estava na casa dos avôs com Taylor, aliás, pela hora tardia ela já deveria estar em casa e em seu décimo sono.
Ouvi os passos de Julie as minhas costas e me virei vendo-a caminhar descalça em nossa direção, com uma panela de brigadeiro nas mãos.
–– Já vai? –– Assenti. –– Ah, não. Nós nem vimos à nona temporada de Supernatural. –– Julie comentou com um muxoxo, mas seus olhos brilharam maliciosos. –– Ackles está uma delícia.
–– E quando ele não está? –– Questionou Kendra. –– Aquele lá lacrado na beleza e gostosura.
–– Pena que se casou com a bruaca da Harris. –– Dissimulei com falso pesar.
Suspiramos as três.
–– Se tivesse sido esperta teria sido com você, –– Julie comentou mais como uma acusação; brincalhona. –– Mas foi escolher o Lautner, ao invés.
–– Tirando a parte que não escolhi nada, é talvez. –– Apontei pensativa. –– Mas ele já estava casado e com uma filha, e bem, eu estou fora desse tipo de homem.
–– Eu também, mas não nego que se o Henry Cavill ou o Ian Somerhalder quiser uma brincadeira quente e suada por uma noite eu aceito. –– Kendra se pronunciou.
–– Sabe que uma vez dei de cara com ele naquela Starbucks do centro? Nossa Senhora! Quase inundei a loja com a minha baba. O homem é lindo de doer os olhos.
–– Com quem? –– Kendra e eu perguntamos juntas.
–– Com o Ian é claro! Porque se fosse o Cavill, vocês teriam de me tirar da cadeia, pois com certeza eu teria pulado em cima dele e obrigado ele a me mostrar seus poderes do Sul. –– Julie disse balançando as sobrancelhas sugestivamente.
Rimos.
–– Cavill que se cuide então, –– murmurei roubando uma colherada de brigadeiro. –– Agora, eu tenho de ir, minha hora já deu. Obrigada pelo jantar e pela noite agradável, meninas.
Despedi-me delas, porém antes que saísse Kendra disse:
–– Sabe que não está sozinha, não sabe? Iremos te apoiar sempre.
Eu sorri intercalando meu olhar entre as duas.
–– Eu sei meninas.
–– Amanhã eu entrarei em contato com a senhora Evans, –– Julie informou solene.  –– Talvez possamos ver alguns apartamentos ainda esta semana, porque é claro que iremos com você.
–– E você e Violet podem vir pra cá a hora que quiserem. Imagino que não vá ser fácil estar no mesmo ambiente que ele, e bom, há um quarto sobrando que vocês podem se instalar até que achem o lugar perfeito pra vocês duas. Ou se quiser podemos morar todas juntas.
Assenti forçando um sorriso fraco.
–– Agradeço. Mas Violet e eu precisamos de um canto só nosso. –– Eu disse com sinceridade. –– Além do mais, vocês já têm suas vidas e coisas para fazerem, precisam de privacidade e com uma criança na casa, privacidade e sossego é quão último temos.
–– Sabe que amamos nossa bonequinha e não acharíamos ruim estragar ela um pouquinho. E quanto à privacidade, sempre podemos dar um jeito. –– Julie disse.
–– Certo. Eu vou pensar.
Kendra me olhou por um breve momento, a diversão tinha ido embora dando lugar a uma expressão séria, que me intrigou. Ela suspirou e pegou minha mão na sua. Julie estava ao seu lado.
Lambeu os lábios e disse:
–– Eu sei que sempre disse pra você dar um pé na bunda daquele babaca, mas sei lá, agora me sinto um pouco culpada.
–– Kendra...
–– Não Gaby..., me deixe falar. Sei que não tomou essa atitude porque eu ou Julie te dissemos isso tantas vezes, se fosse assim teria feito isso há muito tempo, mas eu me sinto um tanto culpada agora. Quero dizer, é fácil pra eu e Julie te encher de soluções, mas também sei que quando se está dentro da situação à coisa toda muda de figura... Acima de tudo, eu e creio que Julie também, queremos a sua felicidade quer seja com o Lautner ou qualquer outro. Eu me sinto mal que você tenha de passar por isso, embora saiba que é inevitável, mas...
Apertei sua mão na minha e tentei soar animada quando disse:
–– Sei disso tudo, no entanto, não há felicidade sem luta, né?
–– Sim. –– E acrescentou. –– Eu nunca tive nada contra Taylor pessoalmente, tenho contra as atitudes dele em relação a você.
–– Eu idem.
Kendra continuou:
–– Gostaria muito que tudo entre vocês fosse diferente e desse certo, porque sei que está sofrendo mais do que realmente demonstra pra nós.
Tomei um fôlego profundo engolindo o bolo em minha garganta e espantei as lágrimas.
–– Não se aflija por mim, nem você nem Julie. Sim, é verdade, estar fora do furacão torna as perspectivas melhores e mais fáceis, porém vocês duas não estavam de toda errada em seus conselhos, é só que é difícil tomar uma decisão, se desprender... Mas a vida segue.
–– Eu sei que serei contraditória ao perguntar isso nesta altura do campeonato, mas preciso fazer, se não vou morrer com a dúvida na consciência, –– Julie particularizou. –– Tem certeza que quer fazer isso? Quero dizer, ele teve uma aversão a ideia da separação, talvez, sei lá, isso indique algo?
Kendra não disse nada e eu olhei a Julie como se ela tivesse enlouquecido.
–– Julie, –– comecei tranquila ––, mesmo que hoje houvesse uma pontinha que seja de vontade dele, honestamente eu não tenho certeza se aceitaria. Eu o amo, não nego. Mas cansei. E não é como se ele estivesse preocupado em me demonstrar qualquer coisa.
–– Talvez ele não saiba como agir... Pra ele deve ter sido um choque quando disse que o amava. Pensou nisto?
–– Não quero mais saber disso.
Julie suspirou.
–– Tudo bem.
E Kendra me surpreendeu.
–– A decisão está tomada, mas sempre pode voltar atrás e isso não é vergonha nenhuma se realmente há uma possibilidade real de fazer as coisas darem certo entre vocês. –– Kendra disse, e eu estreitei meus olhos. –– O que quero dizer é que você não deve se sentir compelida a fazer valer sua decisão por vergonha do que vamos pensar se acaso quiser dar-se uma nova chance. Ou por medo de si mesma. Se existir uma possibilidade, não se preocupe com ninguém mais que não seja você, porque no final não serei eu, Julie ou qualquer outro que terá de conviver com sua decisão final.
–– Isso é verdade, por isso te perguntei se tem certeza. Não posso imaginar o quanto foi difícil pra você todo esse tempo, ver quem ama... Bem, coragem você já provou que tem de sobra e tudo que poderia fazer para o bem estar daqueles a sua volta, você já fez. Agora é a sua vez.
Eu mirei a ambas, sem palavras.
–– Tudo bem, estamos te confundido agora... Seja feliz fofa. Agarre qualquer oportunidade que acredite que te fará bem. Sabemos que tem maturidade suficiente e não irá cometer loucuras.
Bem, eu não sabia o quê dizer. Sacudi minha cabeça ligeiramente e abracei a ambas.
–– Obrigada por tudo. Eu amo vocês.
–– Também amamos você. –– Elas disseram em uníssono.
–– Não se esqueça de que terça nós temos um encontro. –– Kendra avisou quando entrei no meu carro, se referindo ao dia dos namorados nos Estados Unidos.
–– Não esquecerei. –– Prometi.
Já se passavam das nove e meia da noite quando deixei sua casa e segui para a minha, morrendo por um banho e cama. Deixei o carro na garagem e segui pelo corredor que ligava aquela parte ao interior de casa. O silêncio me cumprimentou quando alcancei o hall, as luzes estavam apagadas, sinal de que todos dormiam ou ninguém estava em casa, o que era estranho.
De qualquer forma, eu passaria no quarto de Violet somente para conferir e se ela não estivesse lá ligaria então para minha sogra, pensei.
Estava distraída em meus próprios pensamentos quando cheguei à escada, e de repente uma voz vinda do escuro bateu nos meus ouvidos.
–– Onde você estava?
Sobressaltei-me levando a mão para o meu peito enquanto meu coração escalava a garganta.
–– Jesus! Droga Taylor quer me matar de susto?
Desci o pé que tinha subido e olhei na direção que supus de ele estar, mas somente pude ver sua sombra imóvel no umbral da porta, que dava acesso a sala de estar.
Ele me lembrava um pai à espera da sua filha adolescente rebelde, que tinha desobedecido a um castigo e fora pega no flagra. O pensamento me fez rir baixinho.
–– Por que está no escuro? Violet está bem? –– A diversão tinha ido cedendo lugar para a preocupação.
Ele deu um passo à frente, porém ainda não podia vê-lo claramente.
–– Violet está dormindo no quarto dela. –– Ele respondeu ignorando minha primeira pergunta.
–– Bom... Boa noite então. –– Murmurei
–– Com quem você estava? –– Eu parei e o mirei em silêncio processando aquela pergunta sem noção. –– Com quem, Gabriela?
Seu tom mais forte fez-me cerrar os olhos.
–– Acho melhor nós dormimos e amanhã conversaremos.
No intervalo de uma respiração para outra, ele esteve na minha frente e apesar da pouca luz no ambiente pude ver seus traços faciais transtornados nas sombras.
Não tive medo, apenas desconfiança.
–– Há quanto maldito tempo? Quem é ele?
–– O quê? –– Minhas sobrancelhas estalaram pra cima em choque, mas ao puxar uma respiração senti o odor forte de álcool desprendendo-se dele e compreendi sua postura, embora não fosse de seu feitio se embebedar. –– Taylor, você está bêbado. Amanhã nós conversamos, eu estou muito cansada para ter qualquer conversa agora.
Ele estava me cheirando?
–– Esse cheiro não é meu. –– Ralhou nervoso fitando meus olhos.
–– É difícil discernir um cheiro de outro quando se está bêbado. –– Particularizei calmamente.
Sua mão correu nervosa pelo cabelo, e eu pensei que ele ficaria careca.
–– Maldição Gabriela. Apenas responde, porra!
Olhei para ele por longos segundos.
Agora de fato não devia mais nem uma explicação a ele, mas dado a sua determinação e seu estado de embriaguez, achei melhor ignorar sua acusação descabida e dar a ele o que queria.
–– Não há ele. Eu estava com minhas amigas, Julie e Kendra. Se duvide ligue e pergunte, agora se me dá licença eu preciso dormir, tenho de acordar muito cedo amanhã..., como sempre.
Sua postura relaxou visivelmente ante meus olhos, e eu sacudi a cabeça incrédula. Não disse nada nem tinha vontade de fazê-lo. Dei-lhe as contas e me precipitei para os degraus.
–– Eu não pedi pra você esperar? Custava ter esperado Gabriela? –– Questionou num tom mais calmo, e se não fosse por conta de sua embriaguez eu diria que ele estava magoado.
Intrigada, olhei-o por sobre o ombro.
Algo em sua mão direita chamou-me a atenção, olhei mais atentamente e percebi que eram papeis. Demorei um breve momento para compreender do que se trava e fechei minha cara quando o fiz. Aqueles eram os papeis do divórcio, que meu advogado ficara de enviar ao advogado dele assim que estivessem prontos, só não achei que seria tão breve.
Levantei meu olhar para o seu rosto.
–– Não estamos tendo esta conversa agora. –– Assinalei ignorando a pontada em meu peito.
Aquele não era o momento, ainda mais com ele embriagada para ter tal conversa. Se tivéssemos de conversar sobre o assunto que fosse com ele completamente sã.
–– Gabriela...
Recusei sua mão estendida pra mim.
–– Eu disse que não! Caramba, está surdo? Não é não!
Taylor não me seguiu quando lhe dei as costas e rumei para o meu quarto pisando duro, e eu dei graças a isto. Não queria brigar, na verdade, estava tão saturada que apenas a menção de uma discussão com ele me cansava. Suas palavras não me diziam nada; suas atitudes idem.
O que ele queria agora? Enlouquecer-me com sua loucura?
Ele não me amava, nem mesmo sabia o porquê de não querer a separação. Aliás, saber ele sabia e era o que eu sabia também: comodismo!
Para ele tudo se tratava de manter a perfeição ilusória perante os demais e pelo jeito, não se importava muito se me feria mais ainda.
Deus, eu mal poderia esperar para me ver livre daquele inferno
–– Vem, vem mamãe. –– Violet cantarolou correndo na minha direção.
Abandonei a caneta por um instante e lhe dediquei um olhar amoroso quando ela jogou seus bracinhos sobre o meu colo, e me olhou com os olhos brilhantes do pai.
–– Por que está tão afobada, hein?
–– Passa alala azul.
–– Certo. E onde está sua meia?
–– Pedeu. –– Ela disse olhando para os pés, um com meia e outro sem.
Retive meu riso imaginando como ela tinha perdido a meia e como Taylor deveria estar reclamando por isso. Ele não gostava de andar descalço e apesar de seus inúmeros esforços, Violet adorava ter os pequeninos pés em contato direto com o chão.
Por vezes o peguei no jardim resmungando atrás dela que ela devia colocar as sandálias enquanto ela corria dele pela grama e ria, provavelmente, achando muito divertido ter seu pai perseguindo-a com as sandálias nas mãos. E devo confessar, eu também me divertia.
Balancei a cabeça e suspirei.
–– Onde seu pai está?
–– Papai na sala.
–– Okay. Então vai lá com ele que a mamãe precisa estudar e, diga pra ele achar sua meia e colocá-la no seu pé. Não pode ficar andando descalça.
Ele murchou fazendo bico.
–– Mamãe tamém sisti alala azul.
–– Amor espere um pouquinho, –– murmurei acariciando sua cabeça. –– Mamãe já está terminando aqui. Assim que acabar irei até vocês, está bem assim?
Ela se endireitou com uma expressão séria, teimosa, e apertou sua mãozinha no meu braço tentando me puxar com ela.
–– Nãããão. Agola.
Ponderei por um minuto olhando para os livros a minha frente, cujos eu tinha enfiado minha cara desde a primeira hora da manhã. Depois olhei para minha pequena indiazinha esperando por minha decisão com uma expressão de expectativa, que dava vontade de beijar todo seu rostinho.
–– Tudo bem. –– Rendi-me com um suspiro. –– Que tal você ir com o seu pai enquanto eu faço pipoca pra nós?
–– Ehhhh! –– Comemorou jogando os bracinhos pro ar.
Sorri quando a observei correr de volta para a sala, com uma animação palpável. Tirei meus óculos de grau e me levantei indo para o armário, onde peguei um pacote de pipoca, colocando-o no microondas, em seguida. Ajustei os minutos e apertei iniciar.
Considerando meus estudos de mais de uma semana para a prova que teria no dia seguinte, eu já estava amiga íntima das filosofias de Sócrates e Platão.
Um intervalo com minha bebê faria muito bem, pensei olhando através da janela da cozinha. Uma chuva fina tinha se estabelecido desde manhã e pelo jeito seguiria por algumas horas mais.
O microondas bipou avisando que a pipoca estava pronta. Logo que a tive na tigela caminhei para a sala de tevê. Mal tive entrar e Violet se voltou pra mim largando a capa do DVD sobre a mesa central e mostrou-me todos os seus dentinhos. Sorri de volta e meu olhar caiu para seus pés, agora ambos estavam com meias.
Taylor estava sentado no sofá de três lugares. Por um momento, ele me olhou e eu pensei que não tinha sido uma boa ideia me juntar a eles. No entanto, havia minha filha, e eu não estava disposta a abdicar de meu tempo com ela, ou, até mesmo deixar de dar a ela um momento em família quando ela não tinha qualquer culpa em nossos erros.
Respirei profundo e fui até eles então coloquei a tigela sobre a mesa de centro.
–– Nããããoo... co papai. –– Ela se exaltou quando fiz menção de me sentar numa poltrona.
Forcei um sorriso e mudei de lugar sentando-me ao lado de Taylor, mas evitei aproximar-me mais do que nossas posições já faziam. Ainda não tínhamos conversado sobre o ocorrido da noite anterior, e aquela espera pela conversa inevitável deixava o clima entre nós constrangedor.
–– E o que vamos assistir mesmo? –– Inquiri casualmente, desejando acabar com o clima embaraçoso que se instalou entre ele e eu.
–– Alala azul. –– Violet respondeu animada, com as mãozinhas cheias de pipoca.
–– Ah, sim.
–– Posso apertar o play agora? –– Taylor perguntou distraído.
–– Sim, sim, sim. –– Violet repetiu dando pulinhos.
Sorri e Taylor me imitou finalmente dando o play. O filme começou e aos poucos desvaneceu o clima pesado entre nós. Também não tinha como ser diferente assistir filme com Violet sempre se voltava mais divertido do que o próprio filme em si.
Em alguns momentos era uma calmaria, permitindo-nos acompanhar o filme, mas na maioria somente podíamos a ouvir tagarelando, inquieta. A verdade é que ela não sabia onde ficava se no colo de Taylor, no sofá, no tapete ou na frente da grande tevê tocando a tela cada vez que a arara azul do filme Rio 2 aparecia na tela. Quando a música começou e os bichos dançaram, Violet ficou eufórica na frente da tela acompanhando cada passo e arrancando risos meus e de Taylor. Não era de se admirar que ela soubesse praticamente todos de cor pelas quantas vezes que assistiu a aquele filme.
Ela amava animais, mas era um pouco exótica. Roxy, a cadelinha maltês de Taylor, já não dava conta de sua energia, e então, Taylor decidiu dar a nossa filha seu próprio animal de estimação.
Bel, uma coelha Fuzzi lop² muito dócil, que Violet adorava.
Em certo momento, o silêncio reinou no ambiente. Eu estava distraída com o final do filme quando senti algo cutucar a sola do meu pé descalço e um arrepio gélido atravessou minha espinha, meu coração bateu na boca. Antes que eu pudesse sequer pensar ou deter minha reação, eu pulei levantando minhas pernas para junto do meu corpo.
–– Jesus! –– Exclamei ofegante, com meu olhar arregalado pregado no chão, procurando.
–– Cuidado com seu joelho, minhas bolas não são de ferro. –– A voz baixa e divertida de Taylor soou muito próxima, tanto que pude sentir sua respiração morna em minha orelha colocando meus pelos eriçados.
–– O que...? –– Minha voz se quebrou e as palavras morreram em minha garganta quando virei meu rosto pra ele, e só então me dei conta do que tinha feito.
No terror do momento eu não percebi que tinha pulado em cima da primeira coisa que encontrei. E lá estava eu praticamente empoleirada em seu colo, com meus braços enrolados em seu pescoço.
Não tive a decência de me envergonhar pela minha atitude, embora minhas bochechas queimassem. Era uma medrosa de alma e não tinha vergonha nenhuma de admitir que uma simples barata poderia me colocar em cima do teto em questão de segundos.
Tirei meus braços dele e me afastei, não sem antes perceber que seu braço estivera em volta do meu quadril, segurando-me.
–– Suba na poltrona agora Violet. –– Murmurei quando a olhei.
Ainda cagada de medo engatinhei no sofá e varri o chão com meu olhar, ciente da minha posição constrangedora, ainda mais por ter Taylor sentado atrás de mim.
Mas foda-se!
Estava apavorada com a possibilidade de haver algum daqueles bichos pavorosos dentro de casa.
Deus, como eu iria descer de lá agora? E se fosse um rato asqueroso, daqueles bem feios? Meu corpo inteiro estremeceu e meus olhos cresceram em pratos enquanto minha mente fritava.
–– Violet, volte aqui menina! Violet? –– Ralhei quando de soslaio a vi descer da poltrona e correr em volta do sofá. Olhei pra Taylor que até o momento não tinha movido uma palha. –– Você vai ficar aí parado? Tire-a do chão, ou melhor, use seu gene de macho e veja se há algum bicho aqui, porque eu juro que alguma coisa cutucou meu pé.
–– E perder a visão que estou tendo daqui? Nah.
Se eu não estivesse tão apavorada com a possibilidade de algum inseto ou animal imundo subir pelo sofá, eu diria que seu olhar pra mim foi terrivelmente perverso.
Rapidamente me endireitei, mantendo minhas pernas no sofá.
–– Você sabe que os únicos animais na casa são Roxy e Bel. A casa foi dedetizada há pouco tempo, então relaxe, okay? Provavelmente foi Roxy que cutucou seu pé e você se assustou.
Fechei a cara e fiz bico, consciente de estar me comportando como uma criança quando retruquei:
–– Você acha que eu não iria reconhecer Roxy, Taylor? Não foi ela. Merda. Foi alguns desses bichos nojentos.
–– Susto Bel, mamãe. –– Violet me acusou, com a cara amarrada quando voltou à sala. E eu me perguntei em que momento isso se sucedeu.
Laura veio logo atrás dela com um sorriso no rosto e o bicho na mão.
–– Esse animal mi... –– Um aperto firme em minha coxa nua me calou.
Olhei para a mão de Taylor e depois pra ele. Demorou uns dois segundos para entender seu gesto e não me zangar com ele por imaginar que o mesmo estava se aproveitando da situação.
Não falávamos palavrões na frente de Violet.
Respirei fundo controlando meu gênio, mas minha voz não saiu menos irritada quando falei:
–– Bel não deveria estar dentro de casa, por isso tem uma casinha no quintal própria pra ela.
Não tinha nada contra a coelha, ao contrário, gostava dela. Mas o animal tinha colocado o inferno fora de mim.
–– Ela deve ter escapado senhora. –– Laura explicou.
–– Ou alguém a trouxe pra dentro, –– murmurei olhando diretamente para Taylor.
Ele colheu os ombros e desviou seu olhar inocente pra Laura.
–– Leve-o pra fora Laura, por favor.
–– Nãããão. –– Violet gritou.
–– Já parou de chover?
–– Ainda não senhor.
–– Se incomoda de levar Violet pra varanda dos fundos e olhá-la por alguns instantes enquanto ela brinca com Bel? Não quero que ela arranque as orelhas da coelha por acidente.
Laura deu uma risadinha.
–– Não senhor. Eu ficarei com ela.
Ele olhou pra filha, que já sorria satisfeita.
–– E você mocinha, coloque os tênis, senão não vai brincar com Bel. –– Seu olhar se dirigiu a mim. –– Eu vou pegar uma água pra você.
Ele saiu levando a tigela de pipoca.
–– Bel boa mamãe. –– Violet defendeu sua coelha enquanto eu colocava o tênis em seus pés.
>> Se ela me assustar assim novamente, ela será uma Bel boa na panela. <<
–– Bel não pode ficar dentro de casa, meu amor. Ela não é como Roxy, que faz as necessidades nos lugares certos, entende? –– Ela ficou me olhando, como se eu tivesse falado russo ao invés de inglês, e eu suspirei. –– Sabe aquelas bolinhas no jardim, que papai e eu pedimos pra você não mexer?
–– Caca.
Sorri um pouco mais calma.
–– Exatamente. Ela faz caca pela casa toda se deixarmos ela aqui dentro. Então vamos mantê-la no jardim, okay? Lá tem bastante espaço pra ela brincar.
–– Eu tamém.
–– Sim, você também. Mas só quando não estiver chovendo. –– Terminei de colocar o segundo tênis. –– Prontinho.
Taylor retornou e me entregou uma garrafinha d’água. Coloquei-a pra baixo, no meu colo, e então, segurei o rosto da minha filha e beijei sua bochecha. Ela pulou do sofá e foi para Laura.
–– Obedeça a Laura, meu amor. –– Murmurei a Violet antes que ela saísse.
Destampei a garrafa percebendo minhas mãos ainda um pouco trêmulas e bebi alguns goles de água enquanto observava Taylor desligar a tevê. Ele se sentou ao meu lado deixando seu corpo arriar no sofá, e me olhou.
–– Mais calma?
–– Isso não tem graça Taylor.
–– Sei. Desculpe. –– Ele suspirou. –– Não há nenhum bicho nojento na casa, fora apenas Bel. Provavelmente foram os bigodes dela que você sentiu.
Apreciei sua justificativa em me relaxar.
–– Mas ainda não a quero dentro de casa. E eu sei que foi você quem permitiu Violet trazê-la.
–– Culpado. –– E se justificou. –– Não pude negar a ela, mas permiti só por algum momento. Acabei me esquecendo de devolver ela para o jardim.
Assenti e o silêncio caiu entre nós.
–– Preciso voltar para os meus estudos. –– Murmurei de repente angustiada com seu olhar sobre mim. Ainda sentia algum vestígio do terror de há pouco, mesmo assim joguei meus pés para o chão.
–– Por que não esperou como prometeu? –– Ele soltou quando me precipitei para levantar.
Não havia acusação em seu tom, apenas... Frustração.
Bem, eu não poderia fugir daquela conversa por mais que quisesse, pensei deixando meu traseiro deslizar novamente no sofá. Respirei fundo e o olhei.
–– Eu não te prometi que esperaria, –– esclareci.
–– Tampouco disse não, e eu realmente acreditei que daria o tempo que pedi antes de... Seja por consideração ao nosso casamento, a nossa filha, não sei.
–– Acredito que minha oposição á esse tempo foi suficientemente clara, não?
Ele se voltou totalmente pra mim.
–– Está tão ansiosa assim pra se desfazer do nosso casamento?
Estreitei meus olhos.
–– Você pode me culpar? E eu não estou ansiosa pra me desfazer do casamento, mas da infelicidade que ele me causa.
–– Mesmo me amando.
–– Justamente por isso. –– Corrigi.
Ele apoiou os antebraços nas pernas e me olhou.
–– Eu não vou assinar. –– Disse sério.
Engasguei um fôlego, subitamente as palavras se perderam em minha boca. Eu não sabia o que pensar. Porém, uma coisa era certa. Se a intenção dele era me confundir com suas controversas, ele estava no caminho certo porque no momento eu não sabia se ficava feliz, ou com raiva dele.
Com um suspiro frustrado, eu disse:
–– Por que está fazendo isso? Eu juro que já tentei entender, mas nenhumas das conclusões que cheguei foram favoráveis a você. Então o que você quer Taylor?
Seu olhar suavizou sobre mim e uma pontada de desconfiança emergiu.
–– Você não sabe?
Neguei realmente interessada em sua resposta.
–– Eu quero uma mulher, Gabriela. Uma de verdade. –– As palavras saíram como um sussurro erótico ludibriando meu coração e aquecendo meu corpo.
–– O quê? –– Através da perplexidade, indaguei como uma débil.
Seu sorriso surgiu lento e sensual quando ele sutilmente me espreitou no sofá.
–– Nós éramos bons juntos... Lembra-se de como nos dávamos bem? Do desejo que sempre nos queimou vivos? Fazíamos bem um para o outro.
Meus dedos seguraram firme no estofado quando eu me inclinei pra trás lutando para as minhas costas não se esparramarem sobre o sofá. Minha mente se esforçou para entender o que estava acontecendo, inutilmente. Sua boca se aproximou fazendo meu coração dar saltos para a garganta e parou, quase roçando na minha, tão perto que minha vontade de beijá-lo foi quase insuportável.
 –– Você foi à primeira mulher com quem dormi na casa dos meus pais e não foi porque morávamos na mesma casa, mas porque você mesmo inexperiente me induzia a querer fazer loucuras... Seu jeito inocente, mas ao mesmo tempo tão desinibido e travesso me deixava louco.
Mas o quê...?
–– Sente Gabriela, –– seu quadril pressionou na minha coxa fazendo-me ciente do volume em sua pélvis e meu corpo não perdeu isso reagindo a ele. –– Eu sempre estive assim por você.
Ele estava me seduzindo, era isso mesmo? Aliás, quando o clima tinha mudado tão drasticamente?
Perdi a linha de pensamento quando senti sua língua deslizar por meus lábios roubando-me as batidas do meu coração. O ar a minha volta esquentou.
–– Você sempre foi um mistério pra mim. –– Murmurou rouco. –– Um delicioso mistério.
Minha respiração se deteve quando meu corpo mole deslizou abaixo, e não havia nada em que eu pudesse me agarrar, a não ser ele. Taylor pairou sobre mim. Seu peso sustentado apenas por seus braços quando ele permitiu seu corpo sobre o meu.
Aproveitando-se de minha inércia, seus lábios saquearam os meus. Um beijo que foi provocante, incendiário. Sua língua contornou meus lábios e deslizou pela comissura. Eu não tive reação, fiquei e recebi seu beijo quando sua língua invadiu minha boca sensualmente, entrelaçando-a na minha com suavidade e erotismo. Ele me beijou sem demora até que meus lábios se moveram.
Minhas mãos foram para os seus braços, e eu suspirei apertando meus dedos em sua pele quando ele empurrou seu quadril contra o meu. Sua mão prendeu minha cabeça enquanto seu joelho forçava as minhas pernas abertas e meu corpo trabalhou sozinho dando espaço a ele.
Senti sua outra mão deslizar por minha coxa, que estava levantada sobre o seu quadril, e então, apertar minha carne. Sua ereção, deliberadamente, esfregou-se contra minha vagina, fazendo-me úmida e ofegante. Então sua boca rasgou para o meu pescoço.
Longe do sabor doce de sua boca pude respirar e ter um fio de coerência em meio a nevoa de desejo, que seus beijos em meu pescoço e colo induziam em mim.
Quanto tempo eu tinha desejado que ele viesse assim pra mim? Quanto tempo eu aguardei ansiosa para me sentir desejada por ele? Pra me sentir mulher outra vez?
Muito, tanto que me parecia uma eternidade, mas então, ele estava ocupado demais...
Meu desejo retrocedeu o bastante para que um fio de razão se abrisse em minha mente, e minha raiva, apenas uma fagulha furtiva surgisse ganhando formas.
–– Se você não tivesse sido tão safado poderíamos... –– Me vi dizendo em voz baixa, mas suficiente para ele cessar seu ataque.
Ele levantou a cabeça, seus olhos se prenderam aos meus. Escuros e quentes. Sua expressão estava apertada numa tormenta de excitação, e eu engoli às secas.
–– Eu queria te foder, eu ainda quero.
Meu desejo festejou; minha cabeça negou.
–– Esquece não vai rolar. –– Sussurrei com muito esforço. –– Da última vez fizemos uma criança, e bem, estamos aqui.
–– Nós já somos casados. –– Ele murmurou com um sorriso na voz quando esfregou seus lábios nos meus.
–– E daí?
–– E daí que se rolar um bebê, não tem de haver casamento. Nós não estávamos esperando que uma gravidez acontecesse, mas hoje já sabemos o que esperar.
Sabe quando você quer muito uma coisa, mas não pode se permitir tê-la porque sabe que se atrever-se você irá se arrepender profundamente depois?
Eu queria Taylor. Meu corpo, cada parte de mim, do meu coração bobamente inchado de alegria ansiava tê-lo mais uma vez. Eu tinha sonhado com um momento assim, dormindo e desperta. Mas nos meus sonhos, apesar de toda excitação do ato, Taylor era meu.
Era um Taylor que me amava e se preocupava com o meu bem-estar, com a minha felicidade, com o nós. Aquele sobre mim não tinha nada disso exceto o tesão.
Bem, era isso que tinha mudado. Não era arrependimento; desejo.
–– Entendi..., –– sorri sem humor enquanto balançava minha cabeça para os lados. –– Além de toda comodidade, também quer uma comidinha em casa pra quando não estiver disposto a ir pra rua procurar uma vagabunda.
–– Você está entendendo tudo errado.
Minha sobrancelha fez um arco.
–– Estou?
–– Está, –– disse sério. –– E está buscando uma discussão que não quero.
–– Eu não penso assim. Até dias atrás você sequer me olhava, Taylor. Nada. Somente quando trouxe o divórcio sobre nós que você subitamente acordou, e com ele seu desejo por mim. Isso depois de quase três anos... Eu teria de ser muito tola para acreditar que este desejo súbito seu vai além de uma tentativa nula de colocar minha decisão em panos quentes.
–– Eu quero você e você também me quer. Não pode negar isso.
–– Não nego, mas se eu estivesse à procura de uma foda rápida, eu teria tido isso há muito tempo.
–– Eu não quero uma foda rápida com você, e não gosto quando fala assim diminuindo você e me colocando como um estúpido, que só quer trepar e nada mais.
–– Desculpe se magoei seus sentimentos, Taylor. Mas se queria que eu tivesse outra opinião a seu respeito não deveria ter esfregado seu cio na minha cara nem seu caso com sua amiginha.
–– Agora você está sendo sarcástica. –– Disse áspero e acrescentou. –– E eu não estou com Sara. Não nego que saímos algumas vezes, e também que fui eu quem deu as joias a ela. Mas terminei qualquer coisa que tínhamos naquele dia. Ela não deveria ter aparecido lá–.
Eu cortei-o.
–– Transou com ela?
Ele se levantou sentando sobre as pernas e plantou as mãos nas coxas.
–– Por que está trazendo Sara a conversa?
–– Ela está aqui muito antes de eu trazê-la, Taylor.
Suas mãos esfregaram no rosto.
–– Isso é passado Gabriela. Não há mais Sara ou qualquer outra.
–– Um passado muito presente. –– Mofei-me quando me levantei na posição sentada e ajeitei minha blusa. –– E a pergunta é muito simples Taylor. Transou ou não?
Observei seus ombros caírem numa demonstração de derrota.
–– Transei.
Exasperei bruscamente.
–– Eu não quero mais.
–– Você escutou o que eu disse? Não temos mais nada. Acabou. Juro a você.
Eu acreditava, mas aquilo não fazia meu ciúme e humilhação diminuir.
–– Qualquer valorização que sua atitude poderia ter se perdeu quando transou com ela, Taylor. Porque temos de convir, se você foi até ela naquela noite para acabar com o caso de vocês, transar com ela foi no mínimo contraditório, não? Mas quer saber? Não importa. Apenas assine os papéis e acabaremos com isso de uma vez.
Contornei o sofá, pronta para deixá-lo sozinho.
–– Não vou assinar.
Parei e o enfrentei.
–– Prefere o litigioso?
–– Prefiro que deixe de ser tão teimosa e me ouça. –– E completou. –– Mas se quiser entrar com o litigioso, entre. Porque eu não vou assinar qualquer coisa e, você sabe bem como um processo desse pode ser demorado e doloroso não somente pra nós dois, como para Violet também. E eu não acredito que deseja trazer ela para uma briga dessas quando tem a opção de não fazê-lo.
Peguei meu queixo no chão.
–– Você é um cretino.
–– Por quê? Por que não quero acabar com nosso casamento quando você insiste nisto, mesmo dizendo me amar? Bem, eu sou um cretino então.
A irritação se assentou em minha pele.
–– Certo..., vamos lá Taylor. Fingiremos que eu te dei seu pedido de um mês, porque pelo o que fala é como se você tivesse feito grandes coisas para manter, aliás, tentar construir alguma relação real entre nós. E bem, já se passou uma semana desde que me fez este pedido descabido. Então me diga: o que você tem feito pra arrumar nossa relação além de tentar confundir-me? Porque querido, eu tenho de dizer que o fato de ter diminuído suas saídas não é grande coisa. A propósito, você não fez mais que sua obrigação.
–– Eu estou tentando, está bem? Mas não é como se você desse muita abertura quando está, obviamente, mais preocupada em pintar o diabo em mim e se fazer de pobre vítima do que concertar algo entre nós.
Eu ri de raiva, de incredulidade.
–– Eu estou me fazendo de vítima? É isso mesmo que eu escutei? Como você se atreve a dizer isso quando você é o filho da puta da história? Acha que tenho que agradecer aos céus por ter me traído mais do que pode contar? Tenho de ser feliz quando você não demonstra um pingo de respeito por mim? –– Respirei fundo. –– Eu não tenho que concertar nada entre nós quando foi você, só você quem estragou tudo! Eu estive aqui o tempo todo enquanto você estava sabe-se lá Deus onde.
Enquanto eu ofegava de nervoso, ele apenas me olhou com calmaria.
–– Você tem me acusado de desrespeito e traição sem ao menos pestanejar, mas já parou pra pensar que é você quem sempre se intitula de pobre coitada?
–– Eu não...
–– Sim, você, Gabriela. Porque eu nunca disse qualquer coisa do tipo, já você não pode dizer o mesmo. Acho que você está precisando ver o seu valor, não eu. Pare de tentar ortorgar a mim responsabilidades que não me pertencem.
–– Agora quem está sendo sarcástico é você.
Ele veio até mim.
–– Estou? Ou vai dizer que me amava quando nos casamos? Amava-me, Gabriela? –– Meus lábios se apertaram e meus punhos também. –– Não, você não me amava... Amou-me assim que disse sim ao padre?
–– Não. –– Empurrei a palavra entre os dentes.
–– Eu te enganei em algum momento? Menti pra você quando propus o casamento? Eu te obriguei a aceitar as condições da nossa relação?
–– Não, mas também não é como se tivesse me dado escolha.
–– Na noite que conversamos e juntosestipulamos como seria nosso relacionamento, eu te dei todas as malditas escolhas. Fizemos tudo junto.
–– Eu não sei aonde quer chegar com isso. Não tem relevância nenhuma. –– Murmurei angustiada, sentia meu coração pesado demais.
Cada palavra me machucava por que... Era verdade.
–– Claro que não tem. E sabe por quê? Porque isso não faz mim o diabo que quer que eu seja, ou melhor, te desnuda da pobre vítima que finge ser, porque você, Gabriela, estava malditamente de acordo com os termos da nossa relação. Em momento algum deixou qualquer brecha para que o real pudesse ser uma possibilidade entre nós. Você não me queria para nada além do desejo que nutríamos um pelo outro. Era sexo, caralho!
–– Isso não justifica seu descaso comigo, Taylor. Não seja tão baixo assim!
–– Mas o seu comigo sim? Quer me culpar Gabriela? Culpe se isso a faz se sentir melhor, eu não vou me isentar da minha fatia do bolo, mas querida, você também tem a sua. E deixa eu te dizer isso, ela é do tamanho da minha.
–– Eu nunca te desrespeitei Taylor. –– Mordi fora.
–– Não? Quando me julgou um cara inútil por conta da minha carreira, não me desrespeitou? Quando achou que por causa dela eu não era homem pra um relacionamento sério, senão pra uma boa foda? Que nome eu devo dar a isso? Você me julgou antes mesmo de me conhecer Gabriela, tanto que me evitava como praga, até o dia em que esteve com sua guarda baixa... No entanto, eu nunca te culpei por pensar assim, porque eu já estava acostumado que todos fizessem isso. Um ônus da minha carreira.
–– E você não está me culpando agora por me sentir ferida por suas traições? –– Devolvi.
Ele exalou pesado e fixou seus olhos nos meus.
–– Não a culpo por se sentir infeliz pelas minhas saídas, mas você não tem o direito de me culpar por elas, tampouco. Eu não sentia nada por você nem você por mim. Não queríamos uma relação entre nós, apenas sexo. Mas então você ficou grávida e ao contrário do que pensa, não fora você quem me deu qualquer coisa com o casamento, embora não nego que tenha me ajudado.
–– O que está dizendo?
–– Não é óbvio? Gabriela, você é tão cega. Esteve tão presa dentro das suas perdas e da gratidão que sentia por minha família, que não enxergou que eu somente propus o casamento pra dar a você algo de concreto, algo bom e por inteiro quando você já não tinha mais nada nem ninguém. Acorda Gabriela, a gravidez nunca foi um problema pra mim ou pra minha carreira.
–– Não foi o que seus pais pensaram e nem você quando descobrimos a gravidez.
Ele riu, um som breve que estava longe de ser por diversão; nervoso.
–– Meus pais já te amavam e te queriam bem como querem pra Makena, e pra mim. Ou pensa que eles pulariam de felicidade se Makena hoje aparecesse grávida?
Eu o olhei sem saber o que dizer, um tanto envergonhada pela suposição que fiz aos Srs. Lautner quando eu sabia que eles eram incapazes de quererem o meu mal.
–– Quanto a mim, ser pai não era exatamente a notícia que eu esperava receber aos 22 anos e, apesar disto eu não corri da minha responsabilidade... Eu poderia ter mandado você para qualquer parte do mundo, onde nunca descobririam sobre nossa filha e as manteria de longe. Sabe que eu tinha condições de fazer isso, e sabe também, que você não recusaria. Assim como aceitou o casamento por gratidão a minha família e porque pensou em Violet, você aceitaria ter ido para qualquer parte que eu te mandasse pelos mesmos motivos... Você disse que eu estraguei tudo, porém a culpa não é somente minha, ou é?
–– Não Taylor, não é. Mas nada justifica seus erros. Eu não faço caso omisso da minha culpa, sei o que tratamos há quase três anos, sei também que não tínhamos o compromisso de fidelidade entre nós, mas tínhamos o de respeito. Embora somente o sexo nos ligasse e ele tenha acabado quando descobrimos a gravidez naquele consultório, e não houvesse amor de minha parte por você, eu te respeitei, e você sabe disso. Realmente não posso te culpar por ser um asno, porém não sou obrigada a viver com você quando isto está acabando comigo.
–– Isso é porque você me ama. Quero dizer, é tão fácil assim abrir mão, mesmo que eu queira tentar?
–– Não Taylor, você pode até ter razão em muita coisa do que disse, mas em uma você está enganado. Não é fácil pra mim, porque se fosse eu teria entrado com o pedido de divórcio na primeira vez que me feriu sem perceber. Fácil é pra você dizer tudo isso quando tem feito tudo que quis e não sofreu isso aqui..., porque eu sempre te respeitei. E não é somente por amor não, é respeito por você, pessoa, seu idiota. Porque se você acredita que eu seria capaz de ficar com outra estando casada com você, mesmo que não houvesse me apaixonado. É sinal que não me conhece, nem me merece... Eu já fiz muito pelos outros, não estou disposta a me anular novamente só porque você agora diz querer.
–– Me desculpe, eu... Não estou pedindo que se anule, apenas que me dê uma chance.
Eu o olhei por um comprido minuto, minha garganta apertada e meus olhos queimando.
–– Não.
–– Infernos, Gabriela! O quê que custa me dar só uma chance? A nós? A nossa família?
–– Custa o meu bem-estar, custa todas as feridas que me fez, toda dor que senti ao saber que estava se dedicando, dando as outras e aquela vadia o que deveria ser meu. –– Eu pausei puxando um fôlego, mas não foi suficiente para deter as lágrimas que segurei até então. –– Não vou, não posso e não quero me arriscar mais. Começamos errado e dificilmente dará certo, então o melhor que temos de fazer é cada um seguir a sua vida.
Ele cruzou os


This post first appeared on Dayalukiná's Fanfictions, please read the originial post: here

Share the post

Capítulo Seis

×

Subscribe to Dayalukiná's Fanfictions

Get updates delivered right to your inbox!

Thank you for your subscription

×