Tenho estado um pouco assoberbada com trabalho, mas queria falar aqui de um assunto que me apoquenta: o Brexit.

Leio muito em inglês. Leio em inglês desde os meus 16 anos, há quase metade da minha vida. Houve alguns motivos que me levaram a ler mais em inglês, sendo os principais:

 - a indisponibilidade de imensos títulos na língua materna (inegável, amigos);

 - o facto de tentar perceber o que o original diria, frequentemente, aquando da leitura;

 - sou bastante forreta.

Foquemo-nos no último. Se, num momento inicial, comecei por comprar os meus Livros na FNAC, rapidamente a comodidade e maior disponibilidade de títulos me encaminhou para a Wook (na altura, ainda WEBBOOM, para quem se recordar. Há pessoas que me acusam de tentar parecer mais e melhor que os outros por me lembrar disto. A mudança para "Wook" foi talvez em Março de 2008). Na Wook, comprei livros novos por ninharias: imensos Wordsworth Classics por 1,80 EUR; o MacBeth, novo, por 0,80 EUR. Isto, antes dos "descontos em cartão", quando havia frequentemente 30% de desconto directo em tudo, incluindo os livros em inglês. Talvez não fosse "em tudo", aliás, tendo em conta a lei do preço fixo, mas a verdade é que durante anos não olhei para livros em português.

Em 2011 conheci o serviço MBNET (percursor do actual MBWAY - devo estar a datar-me imenso com estas referências a denominações antigas...) e comecei a comprar roupa e livros em lojas estrangeiras. Porque este é um blog sobre livros, e não sobre farpelas (em cujo caso poderia eventualmente ser um hobbie lucrativo, não obstante o pijama e o fato de treino reinarem há mais de um ano), também me irei focar nestes.

Foi nesta altura que conheci o BookDepository e, meses depois, a Amazon UK (que, até 2 de Abril de 2014, entregava grátis em Portugal encomendas de livros acima de 25£). Esta última foi uma grande amiga minha quando escrevi a dissertação de mestrado, porque encomendava de lá alguns livros para estudo e acrescentava sempre qualquer coisa em promoção simpática para perfazer o montante definido para a entrega sem custos. Sei apontar vários livros na estante que comprei na Amazon UK. Cheguei a chatear-me com a transportadora e ter de ir buscar livros a Campo de Ourique, não obstante ter estado em casa à hora da alegada entrega.

Se a Amazon ficou para trás, o BookDepository foi um amigo presente nos últimos dez anos. Lembro-me de quando havia .com e .co.uk (e de ir comparar em ambas as páginas para ver onde ficaria mais barato), já tive grandes discussões com o customer service, conheci a alegria constante de comprar imensos livros e ir recebendo aos pacotinhos. Repito: fomos grandes amigos. Entretanto, em Dezembro de 2015 descobri a Déjà Lu, em Cascais, e rendi-me aos livros usados; pouco depois, no Verão de 2016, descobri o Awesome Books e a enorme perdição dos "bargain bundles" (que já não existem) com portes fixos.

A Wook, como a Amazon, foi ficando para trás (excepto para o ocasional livro em francês que demora dois meses a chegar, ou mesmo a ocasional necessidade ou vontade lusófona).

Mas, amigos, tudo isto mudou: o Brexit é, finalmente, uma realidade. Perante isto, entrei em loucura compradora, para entrar em grande recolhimento nos tempos vindouros. Tive uma encomenda da Awesome Books retida na alfândega e, embora os livros tenham ficado baratos na mesma (3€ por livro, no fundo, a contar com as taxas todas), saber que esta é agora a realidade deixa um sabor muito amargo para o leitor forreta (eu).

E, por isso, meus amigos, o Brexit faz-me entrar num possível buying ban. Há algumas livrarias com opções em inglês, é certo, temos ainda a FNAC e a Wook continua a prestar o mesmíssimo serviço. A Amazon Espanhola também tem vindo a ganhar terreno, e tem opções em inglês. Mas, especialmente para quem, como eu, é absurdamente forreta, não é mais a mesma coisa. A alegria dos livros baratos morreu.

De qualquer modo, a estante já anuncia muita falta de espaço e, quiçá no próximo Black Friday, adquira um Kobo.