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PAULO OLIVEIRA ESCREVE TEXTO SOBRE OS ATINS, EM GUIMARÃES, ONDE MORREU O POETA GONÇALVES DIAS



                                           REALIDADE DOS ATINS
(Paulo Oliveira)


Acerca de doze anos atrás, ou seja, 3 de novembro de 2001, durante o segundo mandato do então prefeito de Guimarães, doutor Artur Farias, tendo como Secretário de Educação, o prof. Osvaldo Gomes, foi organizada uma excursão estudantil direcionada à praia de Araoca. A finalidade da mesma era a de homenagear doutor Antônio Gonçalves Dias, que completava nessa data, cento e trinta e sete anos de falecimento.

Na ocasião, a praia de Araoca foi escolhida para tal manifestação, por ter sido sua área geográfica onde se encontram os Atins, em que aconteceu o famoso naufrágio do navio francês Ville de Boulogne, em 3 de novembro 1864, no qual pereceu o nosso ilustre poeta maranhense. Oportunidade em que essa praia serviu de palco para manifestações culturais endereçadas ao dito poeta, expressadas por meio de canções, declamações poéticas e discursos tanto da parte de alunos, como de professores e autoridades ali presentes. Também, para simbolizar aquela circunstância, na frente do bar do senhor Valdivino, foi erigido um pequeno monumento, constituído de um agrupamento de pedras cimentadas, e sobre o mesmo, uma placa comemorativa àquele evento. Inclusive, recentemente, no dia 12 de agosto, como parte das comemorações dos cento e noventa anos de nascimento desse ilustre maranhense, foi fundando na cidade Vimarense, o Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães, sob o patrocínio do IHGM e da prefeitura municipal local. No dia seguinte, pois, a comitiva desse instituto achou por bem excursionar até a área dos Atins, a fim de melhor conhecê-lo dentro de sua realidade histórico-geográfica.
Na verdade, os Atins compreendem toda uma área marinha, na qual se incluem bancos de areia, arrecifes de pedra, praias e uma longa faixa de areia, formando uma ilha iniciada à leste, junto do Atlântico e, depois seguindo rumo à oeste, até fazer uma bifurcação para a esquerda e para a direita, a qual se estende até encontrar-se com o mangue, à noroeste. Observando se que, o atual mapa geológico dessa região jamais pode ser comparado ao do tempo do referido naufrágio, ocorrido em 1864. A partir dessa época, a constante força e mudança das marés, nesse trecho, associadas à perene ação dos demais fenômenos naturais, alteraram, sensivelmente, a formação geológica da mesma.
E mais, à oeste dessa extensa faixa de terra há o igarapé Espadarte, que separa Araoca dessa ilhota, principalmente, durante a maré cheia, quando a travessia do dito trecho é feita por meio de canoa, enquanto, na maré seca, pode-se atravessá-lo com águas nas canelas. Informando, ainda, que as águas do dito igarapé se unem com a foz do igarapé do Vura, ao sul.
Para conhecer mais ainda os Atins, é bom lembrar que, antes da construção da estrada de Guimarães a Araoca, o percurso era feito a pé, iniciado desde a sede da vila, passando por Cumã, Salina, Peri, Guajerutíua, Genipauba, Puca, Araoca e Atins, rompendo sempre denso areal. Sendo este o ponto final ou inicial, da caminhada feita entre os municípios de Guimarães e Cedral, de onde se realizava a travessia do canal que liga esse ponto com a praia de Outeiro, situada do outro lado, a nordeste; com o detalhe de que, o passageiro que se encontrava em Atins tocava um foguete, a fim de que o canoeiro, do outro lado do canal, ouvisse o estampido e viesse buscar o interessado.
Eis, afinal, uma pequena noção geográfica da localidade onde aconteceu o predito naufrágio, a cerca de cento e quarenta e nove anos atrás. Todavia, analisando com mais profundidade às circunstâncias desse sinistro, convém especular-se de que tenha havido alguma falha por parte do capitão do navio, uma vez que, quem parte do porto de Havre, França, com destino a São Luís do Maranhão, Brasil, deveria obedecer sempre à rota sudoeste e não navegar naquela estranha direção, mais a oeste do roteiro inicial. Ainda mais que, pelas informações do dito Capitão Etienne, o navio vinha contornando boa parte do litoral norte maranhense, como quem tivesse vindo das bandas da Guiana Francesa, tradicional porto de escala de muitos navios mercantis, na época. Interromper, pois, sua viagem, ali no extremo nordeste da baía de Cumã, significa uma barbeirada das grandes por parte do referido mestre francês.
Por outro lado, existe e persiste uma tamanha confusão quanto ao verdadeiro lugar, com essa denominação de Atins, onde teve ensejo à tão propalada tragédia. Alguns desinformados ou maus pesquisadores, afirmam, equivocadamente, que o fato aconteceu na costa marítima do município de Barreirinhas, onde há um lugar praiano com esse mesmo nome. Aliás, para agigantar mais o engodo, alegam que, na costa daquele município, existe ainda um caveirame de ferro de um navio que dizem ter sido o do Ville De Bologuiner. Só que, essa famigerada tese é amplamente contestada pela própria história da navegação marítima, uma vez que, naquela data de 1864, não havia sido ainda construído nenhum navio metálico no planeta Terra. Essencialmente, quando há uma prova mais que irrefutável , no dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão, de autoria do doutor Cesar Augusto Marques, até hoje o maior pesquisador da história e geografia deste estado. Em sua afirmativa, pois, ele diz que Atins é uma área localizada no extremo nordeste da Baía de Cumã, e cujo ponto cardeal não pode ser, em hipótese nenhuma, confundido com o nordeste do estado do Maranhão. Além do mais, essa informação erratificada pelo depoimento do dito capitão francês, no inquérito que fora instaurado pela Capitania dos Portos, à época do sinistro, onde o mencionado comandante, declara que, depois de falar sobre o que aconteceu antes do episódio, por volta das quatro horas da tarde, chegaram numa choupana de pescador,onde tomaram café e comeram algo e de ondes seguiram em direção ao povoado de Genipauba, onde relatou o fato ao inspetor de quarteirão, que tomou as providências cabíveis, remetendo um emissário, à vila de Guimarães, a fim de noticiar o fato ao delegado de polícia.
Como se não bastassem tão absurdas interpretações, existem também professores de História e de Letras, insinuando de que o dito naufrágio ocorreu na costa marítima de Tutóia, onde há um outro esqueleto de ferro de navio. Erro este, por sinal, igual aos do que afirmam que o poeta tenha nascido na cidade de Caxias, quando a verdade histórica informa de que seu nascimento ocorreu na antiga povoação de Jatobá, hoje município, embora pertencesse, naquele tempo, ao município caxiense.
Quanto às demais provas materiais relacionadas a esse episódio, existem algumas de especial importância, como o pedaço de tábua com a inscrição de “ Ville De Bologuiner”, que se encontra no Museu Histórico e Geográfico do Maranhão, à rua do Sol, em São Luís. Consta no informativo geral que a dita peça de madeira fora encontrada lá nos Atins, na costa Vimarense, próxima a alguns arrecifes de pedra, ainda existentes naquela localidade. Além disso, ali também pode ser encontrada um grande número de pequenas pedras amareladas, com textura lisa, as quais contém um estranho brilho, principalmente à noite, e as quais dizem ter vindo a bordo do Ville De Bologuiner. Essas mesmas pedras se encontram no lugar onde, até poucos anos atrás, encontravam-se alguns velhos cavernames de madeira, que afirmam os pescadores da região delas terem pertencido à estrutura do predito navio.
Em meados de junho de 1864, quando Gonçalves Dias decidiu atravessar o Atlântico, seu estado de saúde já se encontrava bastante comprometido, com uma tuberculose bem agravada, e cujo estado foi confirmado pelo próprio comandante Etienne, quando disse que, dez dias antes do naufrágio, o passageiro havia piorado bastante, enquanto dois dias antes da fatalidade, pouco acordo dava de si, querendo dizer que o poeta já se encontrava semimorto. Agonia esta que teve seu ponto final quando o navio bateu na croa, partindo-se em dois, ou mais pedaços, momento em que tudo foi invadido pelas águas, quando o poeta foi vítima de afogamento. Ou como melhor informou o capitão:
- Quando o navio bateu e se partiu, ele correu até a câmara, onde encontrou o passageiro já morto. Revelações que não se sabem de sua autêntica veracidade. O que se sabe, pois, é que o piloto francês e sua marujada trataram apenas de salvar suas vidas e seus pertences, numa espécie de corporativismo pátrio, principalmente porque não sabiam da importância e nem conheciam a identidade daquele estranho passageiro. Enfim, restara para trás, abandonado por entre os escombros de um velho navio de madeira, o corpo de um ente que, em vida chamara-se doutor Antônio Gonçalves Dias, brasileiro, maranhense e jatobaense. Desta forma, perdera ele a vida, aos quarenta e um anos de idade, quando foi obrigado a desembarcar de uma viagem marítima, de quarenta e nove dias, para ingressar em outra, de duração perpétua, mas, coroado pela glória e pelo fulgor do título de maior poeta indianista brasileiro.
Eis os Atins.
Paulo Oliveira (Pauliver), promotor aposentado, pintor, historiador, poeta e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão


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