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É investimento. Mas pra quem?

Este é o momento em que devo abrir o texto com uma frase de efeito que justifique a ausência de artigos desde julho. Para a maior parte dos voluntários do movimento, é conhecido o fato de que escotismo não oferece upgrade no saldo em conta bancária e que, às vezes, é preciso dispensar o voluntariado para se dedicar ao ofício assalariado.

Entendendo que a justificativa foi dada – e ciente de que desde julho, uma vez mais, o escotismo brasileiro tem dado uma série de pautas fáceis a este blog – passo a discorrer sobre a última ação do CAN, que trata sobre a política de administração da loja escoteira da Escoteiros do Brasil.

Resolução 002/2016

Para quem acompanha este blog, não é novidade que os setores nacionais da associação sempre primaram por entorpecer e diminuir a força das regiões, promovendo uma absorção de sua autonomia para centralizar e ampliar os poderes da Diretoria Executiva Nacional e do Conselho de Administração Nacional.

Este processo de alienação ficou evidente, entre outras questões, no travamento da estatuinte que a UEB ainda sofre, e que previa a figura das regiões como meros órgãos operacionais. Com tal barreira prevista no estatuto, a DEN, com a ajuda do CAN, pretende governar por decreto e, para transformar seus sonhos em realidade, partem para as resoluções. É aqui que se fez aparecer a Resolução 002/2016, que passa a limitar a atuação comercial das regiões e associados, prevendo inclusive sanções – aquele método punitivo de praxe, usado pela diretoria regional de São Paulo, por exemplo, para obrigar grupos escoteiros a participarem em eventos.

A resolução 002/2016 instaura um regime de monopólio dentro da associação, onde os beneficiários não serão grupos escoteiros ou associados, mas a própria diretoria nacional. Ao contrário da edulcoração em uma nota de péssima redação e recheada de termos genéricos, a proposta é o engessamento de qualquer atividade comercial (um evento, uma rifa, um artesanato) sob a nomenclatura “escoteiro”, e o fim das lojas regionais. Para aqueles que queiram se arriscar, terão que assinar um contrato comercial com a nacional.

Sobre o uso do vocábulo, este blog já dedicou diversos artigos sobre a impossibilidade de seu uso exclusivo, e deixo aqui ao discernimento de cada um a análise da desonestidade intelectual que é a simples insinuação da construção de um “dono” para esta palavra. Mas a questão, aqui, não seria uma outra associação ou quem inventou o escotismo, mas a própria limitação dos associados da UEB, que terão que pensar duas vezes antes de promover qualquer campanha de arrecadação com o nome “escoteiro”.

Melhoria

Diz a resolução que esta é uma medida para dar continuidade ao “investimento em melhoria”, em inclusão e preço justo para o movimento escoteiro. Isto não é verdade, tanto pela realidade dos grupos como pelos próprios dados que a associação nos fornece. A começar pelo fato de que as atividades nacionais e internacionais não são subsidiadas por eventuais (e inclusive) superavit que a associação possui – como foi comemorado pela DEN ao cobrar ágio sobre o dólar e inflar a inscrição no Jamboree do Japão.
Já em eventos nacionais, como o Jamboree Nacional, ainda não conseguimos passar da participação do pífio 6% de efetivo nacional das últimas quatro edições. Já o Joti, com sua estrutura precária e amadora, também sofre com falta de manutenção e investimento, o que causou vários problemas na atividade deste ano.

Por outro lado, somado aos 12 milhões de reais em receita anual da UEB, temos o Escotismo nas Escolas, um projeto que fracassou pela alta rotatividade, por favores políticos, mas que gera cerca de 400 mil reais anuais (como no caso do Paraná). Na medida em que as ações para melhorias na base diminuem, cresce a frequência de pagamento para viagens ao exterior em eventos onde dirigentes servem como figuras ilustrativas para a representação brasileira.

Portanto, é lógico que se “investimento para a melhoria no escotismo” fosse a realidade vivida pelos grupos escoteiros, teríamos uma maior participação em eventos pela consequente subvenção da associação e teríamos uma melhor estrutura e conteúdo em cursos, que supostamente também seriam subvencionados. Portanto, o que se vê aqui não é “melhoria”, é apenas “investimento”. A pergunta é: investimento pra quem?

Questão política

A direção nacional, talvez por ter seus membros longe de grupos escoteiros, ignora a realidade das unidades locais, impondo uma resolução que faz com que escotistas e diretores locais se desdobrem ainda mais para manter o escotismo como opção de fácil acesso para a juventude.

Neste momento, o que representaria a linha de representatividade seria justamente o oposto que a associação nacional vem propondo através dessa resolução. Seria necessário oferecer maior autonomia, descentralização e, quem sabe, até a construção de uma federação. Mas a resposta da direção nacional foi ampliar os poderes (econômicos também) da diretoria executiva que, lembremos, não é eleita por voto direto, senão pelo CAN que, por sua vez, é escolhido sob uma mínima representação nacional de delegados.

Precisamos de um giro de 180º.




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