Como quase toda menina de cinco anos de idade, Pietra brincava apenas com as meninas. Não gostava de brincar com os meninos. Um dia, sua tia Fátima – uma mulher amargurada em razão das dores que a vida lhe causou - a pegou e colocou em seu colo e perguntou:
- Pietra, por que você não gosta de brincar com os meninos?
- Meninos são maus! Eles não sabem brincar. Batem e machucam sempre.
- Isso mesmo Pietra. Não se esqueça disso e será feliz sempre. Meninos sempre machucam as meninas.
Dezoito anos mais tarde, Pietra estava chorando sentada no chão debaixo do chuveiro. O seu namoro de cinco anos chegou ao fim. Igor não apenas terminou tudo, ele a trocou uma menina que conheceu na faculdade.
Pietra sempre foi ciumenta, mas havia uma garota específica que só de ouvir Igor pronunciar o nome, já lhe provocava grandiosas aflições internas. Ele, por sua vez, sempre afirmou veementemente que eram caraminholas típicas da cabeça de uma mulher insegura e surtada. Hoje Igor está namorando Valéria, a tal garota provocadora de aflições internas.
Ele não falou isso claramente, mas deu a entender que já estava se relacionando com outra pessoa quando terminou com Pietra por SMS. Ela descobriu que a outra pessoa era a Valéria quando se deparou com os dois juntos se beijando apaixonadamente no banco da praça onde eles costumavam ficar. Inclusive no local onde ela e Igor se beijaram pela primeira vez.
O mundo desabou, Pietra enlouqueceu, alternava entre comer como um javali e ficar dias sem comer. Estava em crise. A dor do seu coração fez a conta de água aumentar absurdamente. Ela criou o hábito de chorar sentada horas no chão debaixo do chuveiro todos os dias, pelo menos nos dias em que tomava banho.
Um dia foi convidada a uma festa e tentava encontrar ânimo para se arrumar. Pietra se lembrou do dialogo que teve com sua tia quando ainda era pequena. Lembrou-se por que não brincava com os meninos: “Eles sempre machucavam as meninas”.
- Por que eu não dei ouvidos aos conselhos da minha Tia Fátima? – Se questionou Pietra. – Antes que eles me machuquem vou machucar primeiro!
Resolveu então dar um basta na fase da negação e revolta, e resolveu reagir. Começou a fazer dieta, entrou na academia para perder os quilos que adquiriu. Vestia-se cada vez melhor e ficou ainda mais vaidosa. Mudou o corte de cabelo.
Pietra decidiu se vingar de todo o gênero masculino em razão da dor que Igor lhe causou. Agora ela era a poderosa e pisava nos homens, parecia um ser das sombras que se alimentava da alma masculina. Ela iludia, brincava com os sentimentos, confundia, bagunçava a vida deles apenas por diversão.
Um dia Pietra conheceu Pedro. Ele era diferente dos outros, era mais legal, mais amigo, mais companheiro, não necessariamente mais bonito, porém o mais charmoso. Eles começaram a se ver com mais freqüência. Pedro passou a mudar sua rotina e hábitos para estar com ela. Ele se apegava cada vez mais e Pietra retribuía todas as manifestações de carinho de dele. Pareciam estar apaixonados.
Pedro quis fazer uma surpresa. Comprou flores, se arrumou, se perfumou e foi a casa de Pietra surpreendê-la. A Ideia era dar as flores e convidá-la para um jantar romântico à dois, mas ele não esperava encontrar Pietra beijando intensamente outro rapaz no portão da casa dela. Pedro foi o surpreendido.
Pietra nem tentou argumentar quando percebeu que havia sido pega em flagrante. Ela olhou nos olhos de Pedro e se viu há alguns meses atrás, quando ela sentiu aquela dor. Ela percebeu que de fato havia conseguido quebrar de verdade o coração de um homem. Olhou e apenas ficou olhando Pedro se distanciar lentamente. Ele largou o buque no chão, com lagrimas nos olhos se virou e foi embora. Pietra ficou ali, na porta de sua casa na companhia do outro rapaz. Por alguns instantes ela ficou se perguntando como ela se tornou esse monstro, qual era o sentido de tudo aquilo e principalmente porque ela resolveu beijar Igor outra vez, e justamente na porta de casa. Era por maldade? Era para magoar apenas? Era por que ainda amava Igor? Era por que ela era burra? Ela não sabia dizer.
O telefone de Igor tocou. Era a Valéria.
- Pietra tenho que ir, Valéria está me esperando. Desculpe por ter te atrapalhado hoje.
- A culpa foi minha Igor. Vai embora logo.
Igor foi ao encontro de Valéria, Pedro foi embora com o coração partido e Pietra ficou sozinha no portão. Quando entrou, como sempre, estava no sofá da sala sua tia Fátima assistindo novela e reclamando da vida. Pietra começou a imaginar que daqui a alguns anos estaria exatamente como sua ela: Sozinha, frustrada, amargurada e reclamando da vida. Então foi para o quarto, entrou no banheiro, ligou o chuveiro, sentou-se no chão e começou a chorar.
Em outro bairro da cidade, havia outro chuveiro ligado banhando outro coração partido. Pedro, sentado no chão do banheiro, deixava a água levar suas lagrimas para o ralo. Ele ainda estava se recuperando de um termino doloroso e Pietra entrou na sua vida e reabriu feridas e criou outras mais profundas. Ele nunca entendeu o porquê de Valéria tê-lo abandonado tão de repente. Ficou se perguntando durante muito tempo o que havia de errado com ele. E mais uma vez ele se perguntou o que tem de errado com ele. Cada vez que ele se apaixona ele se machuca. Duas vezes seguidas era demais para ele.
Então... o mundo desabou, Pedro enlouqueceu, alternava entre comer como um javali e ficar dias sem comer. Estava em crise. A dor seu coração fez a conta de água aumentar absurdamente. Ele criou o hábito de chorar sentado no chão debaixo do chuveiro todos os dias, pelo menos nos dias em que tomava banho.
Algum tempo depois Pedro se recordou de quando era criança, e de que naquela época não gostava de brincar com meninas. Ele se lembrou de uma conversa que teve com seu Tio Rubens – um homem mulherengo, semi – alcoólatra, que se relaciona com as mulheres apenas com um objeto de satisfação pessoal -. Tia Fátima e Tio Rubens namoravam quando eram jovens. Mas o relacionamento teve um fim doloroso. Fátima achou que Rubens tinha outra mulher. Para se vingar, ela o traiu com o melhor amigo de dele. Rubens, revoltado, acabou namorando a mulher que Fátima morria de ciúmes. Mas isso é assunto para outro conto...
- Porque você não gosta de brincar com as meninas? – Perguntou Tio Rubens ao pequeno Pedro
- Todas as vezes que brincamos juntos elas estragam a brincadeira toda! Hoje nós deixamos elas brincarem junto com a gente. Aí elas queriam mudar tudo, brincar de outra coisa. Mas os meninos não queriam e elas começaram chorar. A brincadeira parou e os meninos ficaram de castigo.
- Meu sobrinho, todas as vezes que as meninas entram na nossa vida dá nisso. Tenha certeza de que sempre que deixar uma menina brincar com você, no final você sempre vai se dar mal.
Lembrando disso, Pedro pensou:
- Por que não dei ouvidos ao meu Tio Rubens, ele estava certo. Não vou deixar mulher nenhuma entrar na minha vida. Antes elas chorando do que eu.
- Por que não dei ouvidos ao meu Tio Rubens, ele estava certo. Não vou deixar mulher nenhuma entrar na minha vida. Antes elas chorando do que eu.
Pedro decidiu se vingar de todo o gênero feminino em razão da dor que Valéria e Pietra lhe causaram. Agora ele era o poderoso e pisava nas mulheres, parecia um ser das sombras que se alimentava da alma feminina. Ele iludia, brincava com os sentimentos, confundia, bagunçava a vida delas apenas por diversão.
Um dia Pedro conheceu Carla...
Bruno Nasser
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