Havia umas 500 pessoas na fila para ter o recém-lançado livro Era uma vez o fim – como superar o termino de um relacionamento sem traumas - autografado pela autora da obra, Mariá Backenbouer. Ela é uma psicóloga renomada, inclusive internacionalmente, com diversos artigos e livros publicados e traduzidos em várias línguas. Mariá começou a ganhar destaque quando passou a abordar o universo dos relacionamentos, e a partir, inclusive, de experiências próprias, elaborou uma série de métodos para ter um relacionamento sadio. Mas como nem tudo são flores, as vezes, os relacionamentos mais sadios podem acabar sendo infectados por algum vírus letal e vir a morrer. Nesse livro ela aborda como se portar diante da perda de um grande amor.
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- Próxima! Chama uma assistente que organiza a fila.
Uma mulher se aproximou da mesa onde Mariá autografava os livros, abraçada com o seu exemplar.
- Muito obrigado por ter vindo! Qual seu nome? Perguntou a autora.
A mulher ficou parada olhando para ela sem nada dizer criando alguns segundos de constrangimento.
- Hei! Você está aqui para eu autografar o seu livro não é? Em nome de quem eu faço a dedicatória?
- Ahh sim sim... Me desculpe, me desculpe! É que não sei o que falar.
- O seu nome querida. Para eu fazer uma dedicatória a você.
- Meu nome é Doralina... Mas não é isso... É que eu preciso da sua ajuda. Não consigo esquecer meu ex marido. Nós terminamos. Na hora parecia o melhor, mas acho que hoje ele está com outra. Eu não consigo esquecer ele. Não sei o que fazer. Já fiz de tudo pra tirar esse homem da minha cabeça. Você é a minha ultima esperança! Me diz como você consegue lidar com a dor, como você faz para lidar com o fim. Me diz, me ajuda... Por favor... Desculpe, acho e falei de mais. É que estou um pouco desesperada.
- Então... seu nome é Doralina, certo?
- Isso, Doralina!
- Então Doralina, está tudo nesse livro que você acabou de comprar. Disse a autora apontando para o livro nos braços de Doralina.
- É verdade né! Me desculpe...
- Tudo bem querida, o importante é sabermos que o tudo na vida tem um ciclo. Como é na vida humana, nas plantas, nos animais. Cada relacionamento também possui seu próprio ciclo. Alguns podem durar até a morte outros e outros por meses ou anos. Quando entendemos isso fica mais fácil aceitar que o fim, de alguma forma sempre vai chegar. E chegando o fim desse ciclo o importante é não projetar a frustração no outro. Devemos respeitar o outro e desejar, tanto para ele quanto para você, que novos ciclos de felicidade e harmonia se estabeleçam na vida de ambos.
- Nossa você fala de uma forma que fica muito mais fácil superar a dor.
- A dor também é um ciclo que chega ao fim.
Num café próximo ao local onde aconteceu a tarde de autógrafos, Mariá foi se encontrar com seu companheiro, Humberto Souza, com quem mantém um relacionamento de quase oito anos. Sentados frente a frente, eles pedem um café e começam a conversar.
- Mariá, acho que nosso relacionamento completou o ciclo.
- Como Humberto?
- Eu estou terminando com você?
- Como Humberto?
- Há um tempo eu sinto isso, e percebo que não é mais a mesma coisa. Pensei bem para não ser precipitado. Acontece que o amor acabou.
- Mas como isso aconteceu? Quando...? Sempre conversamos muito e você nunca me falou que se sentia dessa forma.
- Eu sei, me perdoe por isso. Mas é que eu precisava ter certeza. E agora eu tenho.
- Você está certo disso Humberto? Essa é sua decisão final? Você pensou bem a respeito?
- Sim Mariá, estou decidido!
- Enfim, não tenho o que fazer a respeito, claro que fico triste pelo fim do nosso relacionamento de anos, pela não realização dos planos que fizemos juntos. Mas se essa é sua decisão, desejo a você muita felicidade e harmonia. Que alguém consiga fazer você feliz e te complete. E claro... desejo o mesmo pra mim também.
- Mariá, você é fantástica. Sabia que iria me entender. Também... você é Mariá Backenbouer, sabe tudo sobre relacionamentos. Por isso me apaixonei por você. Obrigado por ter feito parte da minha vida.
- É verdade, sei tudo sobre relacionamentos! Bem, acho melhor eu ir embora, tenho que resolver algumas coisas a respeito do lançamento do livro. - Disse Mariá se levantando.
- Acho que não escolhi um dia bom para falar isso né, me perdoe mais uma vez.
- Não tem problema não Humberto. Fique bem e seja feliz!
Mariá saiu do estabelecimento e Humberto permaneceu sentado à mesa tomando seu café. Mas não demorou 30 segundos, ela retornou abrindo a porta com agressividade e sentou-se novamente frente a frente com Humberto.
- Quem é a puta?
- Não entendi a sua pergunta Mariá!
- Eu perguntei quem – é – a – pu - ta?
- Como assim?
- Como assim o que Humberto? Eu entendo que não queira mais ficar comigo, que resolveu terminar do nada. Mas eu tenho direito de saber quem é a vaca que você está comendo agora para resolver me largar assim.
- Puta? Vaca? Comendo? Mariá, não estou entendendo esse seu jeito de falar! O que é isso? Está tudo bem com você?
- É sério que você está me perguntando se está tudo bem comigo? É sério isso... É SÉRIO ISSO HUMBERTO!
- Você está meio desequilibrada.
- Meio desequilibrada? Estou muito desequilibrada Humberto! Você tem noção que você terminou comigo, aqui nesse local de merda, no dia mais importante da minha vida?
- Mas Mariá, por você ser você achei que isso não seria um problema.
- Em que planeta você achou que não seria um problema Humberto. Você é um babaca insensível.
- Babaca insensível? Você que é uma fraude. Escreve livros de autoajuda e não segue nada do que escreve?
- Não sou uma fraude Humberto, sou mulher Humberto! Não é para fazer sentido Humberto. E eu com todo conhecimento que tenho sobre relacionamentos eu não quero fazer sentido nenhum Humberto. Quero matar você Humberto.
- Acho que você está exagerando!
- Não estou exagerando. Eu amo você seu idiota e você termina comigo como se tivesse devolvendo um produto de merda para uma loja de merda. Despois desses anos todos você termina assim? Eu não sou um produto de merda Humberto!!! QUE ÓDIOOOO!!!
- Você não está sendo coerente, você está gritando, todos estão olhando pra cá.
- FODA- SEEEEEE! FODA-SEEEEE!!! Grito onde eu quiser. Não ligo de as pessoas saberem que você é um monstro. QUEM É A PIRANHAAAAA HUMBERTO?
- Calma Mariá! Por que você acha que deveria ter uma mulher envolvida?
- Humberto... olha bem pra mim... quem é ela? ME FALA LOGO?
- Tá bom ... tá bom ... tem alguém!!!
- Eu sabia que tinha alguém! Como isso aconteceu?
- Isso é relevante?
- Claro que é relevante. É muito relevante , por sinal. Preciso saber o grau de idiota que eu fui, e qual escroto você foi.
- Mas e essa história de desejar o melhor e a felicidade para o outro e para si mesmo.
- Humberto, eu desejo ardentemente que todos os seus dentes e os dela caiam. Desejo que vocês tenham uma morte lenta e dolorosa. Desejo que fiquem carecas e gordos. Desejo quem um milhão de pulgas africanas enfestem os fundilhos de suas roupas intimas e vocês não possam coçar, pois, estarão sofrendo de paralisia muscular. Desejo sabe mais o que Humberto, que você fique muito, mais muito brocha.
- Que isso Mariá?
- Que isso? Isso é pouco! E você não falou quem é a vadia com quem você está agora.
- Vou te falar. Mas me prometa que não vai surtar.
- Eu nunca surto!
- Teve aquela vez que fui a São Paulo, resolver os detalhes da publicação do seu novo livro. Você não pode ir por que estava palestrando em um congresso.
- Sim me lembro dessa ocasião. Me lembro também que você me falou que teve que ficar mais alguns dias para resolver alguns imprevistos.
- Então, foi nessa época que tudo aconteceu.
- Pera ai... a Ludymilla estava lá com você!!!! Você está transando com a minha assistente? Que agora mesmo estava organizando a fila da minha tarde de autógrafos. Você me trocou pela maior piranha história dos 500 anos do Brasil? Quando você procura no google o termo piranha, o nome dela aparece? PUTA QUE PARIU HUMBERTO!!!
- Ela não isso que você está falando!
- Agora você está defendendo aquele deposito anoréxico de doença venérea! Não acredito nisso Humberto. Como você foi capaz de me trocar por alguém que se chama Ludymilla?
Nesse instante o celular de Mariá toca. Ela descoordenadamente procura o aparelho em sua bolsa. Quando ela o encontra atende a ligação. É Ludymilla, sua assistente.
- Alô, Mariá! Tudo bem? Olha estou ligando pra dizer que já resolvi tudo por aqui tá. Do jeito que você pediu. Quando quiser podemos ir embora.
- Ludymilla, você sempre foi muito prestativa. Muito obrigado por cuidar tão bem das minhas coisas como se fossem suas.
- Que isso! Você sabe que eu faria tudo por você.
- Tenho certeza disso. Você está na livraria ainda?
- Estou sim!
- Ótimo! Estou indo aí agora te encontrar. Não saia da aí.
Mariá desligou o celular o guardou dentro da bolsa e se levantou novamente e saiu apressadamente .
- Espera Mariá! Você está indo aonde? - Perguntou Humberto.
- Estou indo matar a Ludymilla.
- Não que isso, espera... Mariá!!!!
Passado uns três anos desse epsódio, uma grande fila está formada para mais uma tarde de autógrafos do mais novo beste-seller de Mariá Backenbouer, O amor é foda: Como identificar pessoas que ferrarão com a sua vida e destruirão seu coração.
- Próxima, por favor! - Chamou a nova assistente que não faz a sobrancelha tem uns cinco anos, parece ter bigode, não cheira muito bem, deve pesar uns 300 kg e se veste como uma refugiada de guerra.
Aproxima-se da mesa uma mulher muito cabisbaixa e com um olhar lacrimejante.
- Qual o seu nome? -Perguntou Mariá.
- Edna. Mas eu gostaria de um conselho seu. Noivo me abandonou e ...
- Edna, ele te trocou por outra.
- Isso... o que eu faço?
- Tem uma coisa que não coloquei no livro, mas digo a você. Mate os dois, compre um vestido e arrume outro que faça mais gostoso que ele. E seja feliz.
Edna saiu da fila meio assustada e a nova assistente chamou a próxima pessoa da fila.
Bruno Nasser
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