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Emergência Cardíaca

Eram quase três horas da tarde e o telefone tocava insistentemente no consultório do Dr. Hilário.

- Alo! Atende a secretária.

- É uma emergência! É uma emergência! Grita a voz do outro lado, de forma desesperada e ofegante.

- Que emergência senhor?

- Acho que Estou enfartando, preciso falar com o Dr. Hilário. Não sei o que fazer.

- Senhor, mantenha a calma, vou transferir a ligação para o consultório dele. Qual o nome do senhor?

- É Clézio. Pelo amor de Deus, me transfira logo.

- Um instante Sr. Clézio.

- Dr. Hilário, tem um homem enfartando na linha. Eu sei que você está de saída, mas o senhor atente? O nome dele é Clézio?

Dr. Hilário era um reconhecido e respeitado cardiologista. Uma referência quando se tratava de doenças coronárias. Na hora em que Clézio ligou, o Doutor já estava se arrumando para ir embora do consultório. Iria tirar alguns dias de folga com sua companheira em Fernando de Noronha. Não poderia correr o risco de perder o vôo. Apesar pressa, não deixaria de atender a ligação diante de uma situação como essa.

- Enfartando!? Claro que atendo, me passe a ligação.

A secretária rapidamente transferiu.

-Alô! Alô! Senhor Clézio. O que o senhor está sentindo? O Senhor está ai? 


- Sim estou.

- O que o senhor está sentindo?

- Estou enfartando doutor.

- Mas o que você está sentindo, que sintomas?

- Dor no peito, falta de ar, suando frio, tremedeiras, dormência. Eu vou morrer!

- Clama senhor Clézio. É a primeira vez que o senhor sente isso?

- Sempre que minha mulher me deixa doutor.

- Não entendi muito bem Sr. Clézio.

- Ela sempre me abandona, mas sempre volta pra casa. Toda vez que ela vai embora sinto essas dores. Dá ultima vez ela ficou quatro meses fora de casa. Voltou tem dois meses. Mas dessa vez é pior. Dessa vez ela escreveu num bilhete que nunca mais voltaria pra casa.

- Acho que você precisa se acalmar Sr. Clézio.

- Não tem como me acalmar doutor, ela foi embora e não volta mais. Meu coração não vai agüentar doutor.

- Como o senhor disse, ela sempre volta, vai que ela volta novamente. O senhor precisa se acalmar.

- Ela não vai voltar doutor. Ela levou todas as coisas dela. Deixou um bilhete em um cartão de natal que dei a ela no ano passado. “Clézio, não me espere para jantar, nem para o café da manhã de amanhã, nem para o almoço de domingo. Dessa vez eu não volto. Estou indo embora com um homem que me completa de verdade. Ele é rico, bonito e é um médico bem sucedido. Estou indo para Fernando de Noronha com ele. Adeus. Élida.”.

- Um instante Clézio... Sua mulher se chama Élida?

- Se chama sim doutor.

- Que constrangedor. Não sei o que lhe dizer Clézio, mas estou acho que esse tal médico sou eu. Vamos viajar hoje.

- Eu sei. É o senhor.

- Você sabe? E por que está me ligando? Isso é algum tipo de armadilha? O que você está tramando?

- Não estou tramando nada doutor.

- Como não está? Você ligou para meu consultório com que objetivo?

- Por que eu estou enfartando.

- E aonde conseguiu meu telefone, procurou nas coisas dela?

- Não doutor. No mesmo bilhete ela escreveu: “PS: se por acaso novamente você passar mal, ligue para o Dr. Hilário, ele é um ótimo cardiologista. Mas ligue antes das três da tarde. Nosso voo é às cinco.



Bruno Nasser


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