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O conto de um maníaco



Caros Senhores, o caso que relato, não é um conto de fadas, ou mero romance, mas, algo macabro, que os fará gelar o sangue ou não, pois se trata de perversão, minha própria. Não me julguem ou condenem, isso vos peço.



Janeiro de 1889

Ela se arruma, coloca seu melhor vestido, penteia os cabelos encaracolados, olha-se no espelho e tenta criar coragem, sabe que esta é sua única chance, e se fracassar, seus filhos morrerão de fome. À meia noite, se encaminha para o bordel mais nojento da cidade, onde seu primeiro cliente a espera, sente nojo o que fará, mas, se submete mesmo assim, infelizmente está à mercê do sadismo, ou muitos diriam: fetichismo de alguns homens, seu corpo é torturado, sodomizado ao bel prazer.

Pouco depois das duas horas da manhã, sente-se exaurida, e o último cliente entra, ele a olha com indiferença, como se olhasse para um animal repugnante, delicadamente coloca suas mãos enluvadas em torno do pescoço da vítima, e o aperta até que a língua saia para fora, e com um hábil movimento a corta, deixando o corpo se exaurir em sangue até o óbito, faz uma breve prece e diz mentalmente: “ Deus a abençoe”, como se tivesse feito um ato de piedade.
Agradece ao dono do bordel, paga a quantia devida e um pouco à mais como gratificação e sai carregando um pequeno embrulho, contendo a língua da pobre moça.

O perfil da segunda vítima escolhida, se diferia da primeira, esta era uma dama da sociedade, embora sua ambição e luxúria, a levassem a perdição. Se vangloria de sua maldade, principalmente quando açoitava seus criados, colocava filhotes de cães no fogo, ou incitava os cães adultos a torturarem os criados.

Era uma mulher de posses, e usava de sua posição para humilhar os demais, em especial uma pobre camponesa, que trabalhava para esta, marcando-a à ferro, como um boi, até que ela não suportou e abandonou o emprego. Tal dama, foi envenenada, não sem antes ter suas costas retalhadas e salgadas, cujos vermes dormiam, devido aos dias, que ficou desaparecida, uma morte digna eu diria.

Por fim, distintos senhores, vos apresento a terceira e última vítima, lembrando que o que importa não é a quantidade de veneno administrada, mas, a eficácia dos mesmos, meus crimes não foram muitos, mas, macabros de certo modo. Mas, voltando ao que é  pertinente: Encontro vagando pelas ruas um bêbado, descobri onde morava e como vivia, e irão concordar comigo quando lhes apresentar o quadro: era um inútil, de todos era o que mais merecia morrer, não por compaixão, mas, por ser odioso.

Era uma noite quente e abafada, o homem sai de casa, não sem antes violentar sua esposa depois de surrá-la e colocar seus filhos na rua para pedirem esmola. Segui-o até um beco escuro, onde quebrei a garrafa que ele estava segurando e retalhei sua garganta, o observei lentamente sucumbir, cavalheiros, não sabem o prazer inexprimível que senti.

Acredito que fui condicionado a ser o monstro que sou, minha vida nunca foi fácil, meu pai era violento, acostumado a bater em minha mãe e nos filhos, minha querida mãe trabalhava em uma casa onde era humilhada por sua patroa, sendo assim, abandonou o emprego e se tornou prostituta, morrendo, devido a doenças obtidas na profissão. Meus irmãos e eu nos separamos, me envolvi em assassinatos, jogatinas e roubos, simplesmente para ter um pedaço de pão para comer, muitas vezes tendo que brigar com os cães de rua para isso.

Para mim, sou um justiceiro, para outros assassino impiedoso, no final pouco importa, nossos atos não ecoam na eternidade, são sepultados com os vermes quando descemos ao túmulo, e como rezo por isso.
De qualquer forma os agradeço por me ouvir .

Atenciosamente,
Ninguém em especial


A criança mais velha dorme tranquilamente, repousada em uma cadeira, enquanto a mãe esquenta um pouco de leite em uma chaleira imunda, para dar ao pequeno que chora desesperadamente em um caixote de madeira, a mãe também chora em silêncio, já não tem mais leite para alimentá-lo e como se não bastasse, também não havia comida para os outros.

O marido estava a vários dias fora, mas, não se importava com isso, era até melhor, pelo menos não apanhara naquela semana, hábito que ele adquirira, desde que ela fora morar com o mesmo.

Termina de servir o leite, pega uma flanela, a umedece no liquido e leva aos lábios do bebê e de seu irmão, os outros filhos também não estão em casa, receia que o marido tenha posto o filho para pedir esmolas, e as duas meninas para se prostituir, por ora apenas concentra-se no choro do menor e no lamento do maior:
- Mãe, estou com fome.
- Eu sei querido,, volte a dormir que ela irá embora.

O menino levanta-se e sai pela porta, sem ao menos olhar para sua mãe.
Vai até o açougueiro, o qual tinha a fama no bairro, de ter um apetite sexual por crianças, oferece-se como um animal é oferecido em sacrifícios, já na rua, enxuga as lágrimas que rolam por seu rosto, e cantarola baixinho uma música, carregando embaixo do braço, o precioso embrulho, contendo a imensa língua de um boi, que fora abatido no mesmo dia.
Tarde da noite, após o jantar, seu pai chega, bêbado como sempre e desta vez traz consigo seus três irmãos, a mãe tenta acalmar o irmãozinho que novamente volta a chorar, o choro estridente irrita o homem, que avança sobre o bebê tentando sufocá-lo, mas é impedido pela mulher.



Nesta noite não dormiu um segundo, ouvindo as pancadas vindas do quarto dos pais, nunca entendeu como a mãe suportava sem nem ao menos gemer diante da dor.
Mesmo quando, na manhã seguinte, ela acordou com os olhos roxos, lábios rachados e sem alguns tufos de cabelo, mas, neste dia, estava diferente, arrumara-se como nunca tinha, e saiu, pedindo que uns cuidassem dos outros, o pai novamente sumiu, quando questionada onde iria, disse que iria trabalhar, e assim o fez, indo até um bordel.


Quando a mãe saía, ele também ia até o açougueiro, não, para conseguir carne, e sim, algum dinheiro, infelizmente as carícias se tornaram agressivas, e muitas vezes nem recebia, aumentando seu ódio e ambição.


Por isso, se envolveu com vários homens e algumas mulheres em busca de dinheiro.
Olhando para traz, acredita que este foi o momento crucial, em que sua ganância foi aflorada, muito antes da sua perversão.


Um ano após este fato, sua mãe morreu, em uma noite chuvosa e fria, nem mesmo o sol ousou aparecer, no velório estavam apenas o menino e seus quatro irmãos, tinha sido uma semana difícil, pobre, após o enterro, foram jantar, foi servida uma carne com sabor diferente, o que mais tarde confessou ser o cão da família vizinha, o qual, alegou estar gordo e latir demais.


Esta foi a última vez que viu os irmãos, mas, nunca se esqueceria do olhar de nojo, que lançaram em sua direção, e, pela primeira vez na vida, entendeu porque a mãe agüentava calada o que lhe era imposto: porque não se sentia viva, e o mesmo lhe acontecia, não sentia nada, não era nada, uma caixa vazia, ninguém em especial.



Quando minha mãe morreu, consegui emprego na casa de uma viúva, não sabem o inferno que passei, além de ter que lutar com seus cães pelo resto de comida que caía de sua mesa, fui marcado a ferro, sem contar as humilhações constantes.


Senhores, um dia me cansei desta rotina impiedosa, me muni de coragem e puz um plano em ação: coloquei sonífero na bebida desta mulher, levei-a para uma cabana afastada,esperei que acordasse, eu não cometeria o ultraje de tocá-la dormindo, qual o prazer disso?


Quando o efeito passou, ela estava amarrada e amedrontada, arranquei lentamente todas as suas unhas, vendo o desespero escorrer com as lágrimas, em seus olhos, a mordaça em sua boca impedia que gritasse, afiei a navalha e retalhei lentamente a pele de suas costas, nesta hora, retirei a mordaça, precisava escutar seus gritos implorando para viver, seu sangue impregnava o chão, exalando um cheiro ocre no ar, queimei seus talhos e língua, após isto, salguei suas costas, creio que a dor tenha sido abrasadora, pois, perdeu a consciência, aproveitei-me da situação, coloquei seu corpo para fora do casebre, deixei que a lama o cobrisse, eu não podia deixar que os animais  a devorassem, isso os vermes o fariam.


Passaram-se dias, era costume viajar sem contar a ninguém onde ia, ou quando retornaria, por isso ninguém dera por sua falta, entretanto, os malditos cães, em uma caçada farejaram e retiraram o corpo já sem vida e em estado de putrefação, a polícia nem sequer desconfiou de mim, pois eu era dissimulado o bastante para demonstrar tamanho apresso à patroa, mesmo quando era duramente castigado.


Com sua morte, fui dispensado, indo trabalhar como garoto de recados de um bordel, lá conheci Mariam, a moça mais bonita que já vi, além de bela, era tão amável, atributos desfavoráveis para se ter, uma vez que, o mundo é tenebroso, sua bondade não cabia nele, a pobre criança, contou-me sua história, me comovi, apaixonei-me perdidamente por seus cabelos encaracolados.


Nesta época, eu já me envolvia com jogatinas, consegui um bom dinheiro, o suficiente para passar uma noite com ela, mas não se enganem cavalheiros, meu romantismo era passageiro, sufoquei-a e arranquei sua língua, ela era um anjo e não merecia estar naquele lugar imundo, assim como minha mãe não mereceu, arranquei a língua porque não sabia se estava morta, mesmo sufocando-se com o sangue, fiquei receoso de que me delatasse.
E, mais uma vez, o destino ou demônio me ajudou, ela tinha vários clientes, gente da pior espécie, além disso, quem se importaria com uma prostituta, mero objeto de prazer?


Nesse meio tempo, conheci outra mulher, Sophia lembrava-me muito minha mãe, a conheci quando aluguei um quarto em sua casa, além de muito bonita, fazia a melhor sopa que já experimentei, sempre haviam cobertores extras, mesmo eu pagando apenas a taxa básica, ela foi o que de melhor me aconteceu na vida, a única coisa ruim era seu marido violento.
Sim,Senhores, o matei, cortei sua garganta com a garrafa que segurava, foi o ato que mais me deu prazer, fiz um favor a Sophia, penso que se alguém tivesse feito isso por minha mãe, as coisas teriam sido diferentes.
Se cometi outros crimes?
Sim, tanto contra homens, quanto mulheres, inclusive tive um filho.


Raptei-a no mercado, enquanto andava em meio aos produtos, havia algo em seu olhar, que me agradava: determinação, levei-a para um depósito abandonado, onde a estuprei diversas vezes, até que ela gerou uma criança, a qual, quando nasceu, joguei contra as paredes, até que morreu, cozinhei seus órgãos internos e obriguei sua mãe a se servir também, o bebê chorava demais, além disso, havia tornado-se o dono de toda a atenção, o que eu não podia suportar.


Eu não estava enganado quanto a índole de minha companheira, era tão feroz quanto eu, e minha atitude só acentuou sua raiva, diminuindo o efeito de meu sadismo.
Açoitá-la não era o bastante, queimar as plantas de seus pés, não surtia nada, privá-la de alimentos também não, demorei a querer matá-la, porque gostava do jogo que se estabeleceu entre nós, estava o tempo todo, testando minha força em seu corpo, e ela nada emitia, apenas certo prazer, o que com o tempo, passou a me deixar descontente.


Certa manhã, fui visitá-la, entramos em luta corporal, Gabrielly feriu-me na mão com minha navalha, espanquei-a até quebrar seu braço, ateei fogo no barracão e tranquei-a, mas, não existe crime perfeito, e eu havia gasto toda a minha quota de sorte, mesmo tendo várias queimaduras, me delatou as autoridades legais, e agora estou diante dos Senhores, sendo exposto diante deste júri.



Fevereiro de 1911, o réu a ser julgado, veste roupas modestas, porém limpas, sua barba fora aparada, está pelo menos quatro quilos mais magro, suas unhas estão roxas, devido á pauladas que levou na prisão, além disso, por baixo de suas roupas encontra-se uma miríade de ferimentos.
Foi torturado, humilhado e hostilizado, de formas que nunca imaginara ser possível: mergulhos constantes no tanque d’água com seu corpo imobilizado por cordas, colheres aquecidas sendo inseridas em sua boca, açoites e respingos de ácido em seu corpo, além disso, os ratos constantemente caminhavam sobre seu corpo.



Os crimes que cometera, foram taxados de barbárie, e mesmo diante das técnicas nada ortodoxas que foram utilizadas para sua confissão, nada o amedrontava, começou seu relato de maneira tranqüila e coerente, sem arrependimentos, o júri chocado com sua naturalidade e postura desafiadora, decidiu ser mais prudente, condená-lo à prisão perpétua, sem direito a apelação, embora a população geral, ansiasse por morte.



Sendo assim, foi sentenciado em uma manhã gélida e opaca, não houve lamúria de sua parte, era inteligente demais para admitir que sua situação era desfavorável, o dinheiro que acumulou de nada servia nesse momento. Por isso, se resignou, e foi sentenciado.
Distintos Senhores, meus dias têm passado lentamente, e de maneira tediosa, estou enclausurado em um recinto que mal cabe minhas pernas, há um pequeno vitrô que oferece uma parca iluminação, sinto falta de algumas coisas, pelo menos me entregaram, papel, tinteiro, para que possa escrever.



Não tenho companheiros  de cela, porque fui taxado como perigoso o bastante e eis o que vos digo: a morte para mim seria um alento, que não me permitem, e este é meu maior castigo, tento manter a dignidade, o que tem sido tarefa árdua e dispendiosa.

Cavalheiros, tenho um intento: sair daqui, não em carne, mas, espírito, dar descanso à minha existência, ainda não sei como, mas o farei, há momentos em que não me lembro de coisas importantes como meu nome, de onde venho, a única coisa constante são as visitas que o diabo me faz e o sussurro constante em meus ouvidos, dia e noite, tal demônio me atormenta e diz coisas maléficas, não suporto sua voz áspera, dói meus ouvidos e me entorpece, pare com esse sussurro! Oh Deus, me ajude, Oh Deus, afaste-o de mim!


( Carta encontrada ao lado do cadáver de Henri James, detento de uma prisão em Londres, James cometera suicídio, cortando sua jugular com aborda de um prato de latão,  fora condenado à prisão perpétua, em seu histórico havia crimes envolvendo perversão, sadismo, cometera o suicídio em meio à um surto Esquizofrênico, sufocando-se com seu próprio sangue.)


Dedico este pequeno conto a Paulo Henrique Alves de Oliveira.Obrigada por me fazer a rosa na redoma de seu jardim.
Com carinho: Núbia Dayane Martins de Souza







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