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O OLHAR FLAMENCO

por Bibiana Estevez*

 

Descobri que a técnica no Flamenco não subjuga ou condena os instintos, muito menos os aprisiona em movimentos esteticamente pré-estabelecidos. A técnica é um condutor, sendo por si só insuficiente para desencadear o olhar...que tão facilmente identificamos em uma boa dança flamenca. A busca pelo virtuosismo plástico ou sonoro (sapateado) sem a compreensão cultural e visceral da alma flamenca, transforma o intérprete em um operário da arte. Operário este que se configura desprovido de vida, pouco interessante para o olhar da plateia.
As paixões, os sentimentos instintivos, são o combustível do flamenco. Com eles podemos dar expressividade a anseios, desejos e vivências à medida que o Corpo amadurece dentro do processo pedagógico do dançar. É através do casamento entre técnica e vivência que o flamenco se manifesta mais fielmente, independente de nacionalidade no olhar e aos olhares de quem se propõe a ver; olhar verdadeiro de si mesmo como artista  se expressando, com sua mirada ao horizonte enquanto está sob o efeito das hipnóticas melodias espanholas.
No flamenco o corpo fala em poesia sobre sensações avassaladoras que a razão não pode controlar: ciúme, raiva, dor, sofrimento, egoísmo, sexualidade. O flamenco é um canal de expressão destas sensações sem a necessidade de um mergulho nesse denso universo interior que cada um intimamente carrega. E isto vai impregnado no olhar de quem dança, toca ou canta. Trata-se de uma linguagem que incita uma auto percepção atenta para uma melhor aceitação de nossa própria condição humana limitante e limitadora dentro do conceito social esteticamente estabelecido como belo. No flamenco o corpo é submetido a uma pedagogia cinética que aparentemente não o deforma, que não parece exigir flexibilidade e agilidade de anjos, que não precisa de corpos leves ou sempre jovens dentro dos cânones gregos, que não pede estatura de gigantes. O flamenco é também para quem é humano, falho, feio, sexual, velho, cheio de rugas e cicatrizes de paixões. Dança-se a cultura, a experiência, a história e o restinho de orgulho no peito e na garganta daqueles que são a minoria do mundo. Não é pedido sorrisos ao corpo e muito menos ao olhar. Por isso o olhar geralmente é denso, seco, introspecção, cheio de fúria ou prazer
 
*Palestra apresentada no DEART- Departamento de Artes da UFRN. XIV Semana de Humanidades, no evento 'Ciranda do Conhecimento - Expressões da dança: consciência corporal, dança circular, biodanza e dança flamenca '.  06 de outubro de 2006, Nata-RN.


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