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Critica - Django Livre - Amor, sangue e vingança

Crítica: Django Livre – Amor, sangue e vingança

- 23 Janeiro 2013 / por João Barreiros / Comentar / Classificação:     

O Melhor: O elenco, os diálogos, o sentido de humor e a banda sonora.
O Pior: Nada de relevante.

Crítica

Três anos depois de Bastardos InglóriosQuentin Tarantino está de volta às salas de cinema com um filme composto por todos os ingredientes a que o cineasta nos habituou; elementos que, juntos, mais uma vez, formam uma experiência única, verdadeiramente inesquecível. Os diálogos magnéticos, que são destaque em Pulp Fiction e Cães de Aluguel, bem como a estilização da violência, que atinge o seu expoente máximo em Kill Bill, e ainda o humor retorcido e as personagens marcantes, emprestados de Bastardos Inglórios, são pontos fortes de que o realizador não abdica. Mas se é verdade que Django Livre possui a característica assinatura de Tarantino, menos verdade não é que possui também um importante diferencial: maturidade (uma maturidade que a Academia tem vindo a reconhecer ao realizador). É, provavelmente, um dos seus filmes mais completos.

“Kill white folks and they pay you for it? What’s not to like?”



Passado às portas da eclosão da Guerra Civil americana, o filme conta-nos a história de Django (Jamie Foxx), um escravo que é libertado por Dr. King Schultz, um caça-recompensas interpretado por Christoph Waltz. Schultz e Django formam uma dupla inigualável na captura dos mais infames criminosos do faroeste, mas é só durante a tentativa de libertação da mulher de Django que as habilidades dos dois são realmente postas à prova.
É Django quem dá o nome à história, mas é Schultz quem nos faz apaixonar por ela. Christoph Waltz, colaborando pela segunda vez com Quentin Tarantino, mostra novamente o seu enorme talento. Schultz é uma figura exuberante, com a língua afiada, que sabe sempre quais as palavras mais persuasivas, e Waltz dá-lhe vida com uma naturalidade impressionante. A sua representação é portentosa e não há uma vez em que, estando em cena com o protagonista, não lhe consiga roubar a atenção. Não é defeito de Jamie Foxx, que até faz um bom trabalho como figura central do filme; é antes uma consequência do dom extraordinário de Waltz e, por outro lado, da argúcia da sua personagem, que é, porventura, uma mais interessante que Django.
A trama de Django Livre versa fortemente sobre a liberdade e a responsabilidade de concedê-la a alguém que, até então, dela havia sido privado. A relação de Django e Schultz é desenvolvida de forma muito pertinente, ao criar um curioso paralelo entre a libertação de um escravo e uma relação entre pai e filho. Quantos deveres acarreta a ação de dar vida a alguém? Schultz assume todos os encargos inerentes a tão importante comportamento e, durante o primeiro ato do filme, isso é posto em evidência, com Dr. King a ensinar Django a viver no mundo que conhece, em especial todos os segredos do bounty hunting.
Só incidentalmente é Django Livre um filme sobre racismo. O novo filme de Tarantino é um conto sobre liberdade, conduzido pela ânsia de vingança, com sangue e amor à mistura. Se versa sobre a igualdade e sobre a situação dos escravos antes da Guerra Civil é só por acaso, e sempre de forma imparcial, amoral, dando inclusive destaque a várias acções controversas de Django e ao polémico Stephen, interpretado por Samuel L. Jackson. O actor é, pela quinta vez, uma das escolhas de Tarantino, sendo o Stephen que agora representa absolutamente imperdível. Quase se pode dizer – mesmo sabendo-se que não é verdade – que o papel foi feito à sua medida! Stephen, que tem tanto de detestável como de divertido, é mais um exemplo paradigmático da irreverência e pujança das personagens criadas por Quentin.
“Them old boys done rode a lot of miles, went through a lot of trouble, just to get that girl.”
O cineasta aventura-se pela primeira vez dentro do gênero western e, como sempre, é bem sucedido. Tarantino filma o sul americano esclavagista com a simplicidade que distinguia o mesmo, não o adornando ou embelezando, preferindo antes estilizar as cenas de ação  O sangue, ora a inundar um cavalo a galope, ora a pintar um campo de flores brancas, desempenha um papel importante (como, aliás, em todos os filmes do realizador). Também as paisagens frias e áridas são presença constante, bem como as corridas a cavalo, o TNT, as grandes plantações e todos os outros componentes que compõem um belo western.
Os dois últimos atos do filme são dominados por Leonardo DiCaprio. Esclavagista orgulhoso e apologista de lutas de escravos, Calvin Candle é uma “criança grande”, um homem que, tendo herdado uma grande plantação, não teve razões para crescer, pelo que a sua única preocupação é a satisfação dos seus próprios desejos. DiCaprio interpreta-o com a mesma dedicação que lhe conhecemos de outros trabalhos. Uma das maiores sequências do filme (a do jantar) tem-no como protagonista indiscutível. A sequência é, para além de um testamento à capacidade do ator, a prova da primazia dos diálogos à ação, em Django Livre. O sangue é fundamental, mas são as trocas (e os jogos) de palavras que fazem deste um filme fantástico.
“I think we all think the bags was a nice idea. But, not pointing any fingers, they could of been done better. So how ‘bout, no bags this time, but next time, we do the bags right, and then go full regalia.”
Django Livre tem perto de três horas, mas envolve com extrema facilidade, devido aos diálogos inteligentes, repletos de sarcasmo e de humor refinadíssimo. De entre todas as situações cômicas, uma fica claramente na memória, pela abundância do nonsense e pela improvável duração, responsáveis por muitas gargalhadas na sala de cinema. A abranger tudo, uma excelente e diversificada banda sonora que é difícil não querer voltar a experienciar, ao voltar a casa.
É, em suma, um filme brilhante (um que, sem qualquer dúvida, daqui a um ano, figurará nas listas de melhores filmes de 2013), em que só modificaríamos a extensão, para lhe retirarmos dez ou quinze minutos de duração. De resto, só há coisas boas a dizer de Django Livre. É bonito. É envolvente. E é Tarantino – este nome, pelo menos até agora, tem sido sinônimo de cinema ao mais alto nível.


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