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LIBERTAÇÃO ANIMAL: A PEÇA PERDIDA


De: Nekeisha Alexis-Baker
Tradução: Diego Gatto

"Em vez de batalhas individuais, a visão do anarquismo social nos encoraja a ver as lutas como intercontectadas, e a agir apropriadamente pela construção de alianças e solidariedade entre elas... Ainda que o anarquismo social tenha se situado na linha de frente desafiando várias formas de opressão, muitos anarquistas sociais não tem sido muito ativos - tanto histórica, quanto atualmente - no esforço de mudança da dominação humana sobre os animais" (1)

Um dia como o Dia de Ação de Graças, onde vários corpos mutilados e carbonizados são servidos nas mesas estadunidenses  o principal sentimento em meu coração não é o de gratidão, mas de luto e até mesmo raiva. Que a pessoa mediana não enxergue o descompasso entre a ação de graças e a graça em torno da morte não é supreendente, agora que este descompasso permaneça sublimado ou rejeitado nos meios do Cristianismo radical e do anarquismo é algo mais confuso. Como Bob Torres, anarquista, vegano e autor de Making a Killing: The Political Economy of Animal Rights [sem edição em língua brasileira] eu afirmo que a falta de atenção cuidadosa e permanente relativa à a liberação animal, esquece uma das formas mais óbvias e persistentes de opressão não contestadas. Além disso, também contribui para a análise incompleta e fragmentada em torno das outras formas de opressão e resistência. Abaixo estão alguns pensamentos sobre movimentos importantes que sublimaram a parte do discurso concernente da libertação animal, bem como as consequências dessa omissão.

CRITICA DO CAPITALISMO



Uma das mais salientes críticas no anarquismo clássico gira em torno das questões sobre a propriedade, trabalho, e classes na construção do sistema capitalista. Pensadores de vários tipos tem explorado a natureza inerentemente exploradora do capitalismo, incluindo sua necessidade de uma classe trabalhadora e pobre que vende sua força de trabalho; o problema da propriedade privada dos meios de produção; criando um lucro às custas do planeta e dos trabalhadores que convertem as criações em mercadoria; e sua filosofia de expansão e crescimento ilimitados, para nomear algumas. No entanto, o foco tem sido muitas vezes sobre o impacto deste sistema sobre o animal humano.  Sem nos atentarmos para a libertação animal, nós perdemos as várias múltiplas ligações que temos com os animais não-humanos, simultaneamente: de ser/estar sujeito à propriedade privada dos meios de produção, trabalho e mercadoria. Animais não humanos, especialmente àqueles utilizados para nosso entretenimento, alimentação, vestuário e experimentação, são uma classe escrava, explorada até mesmo pela classe trabalhadora dentro de um círculo de opressão que serve a humanidade. Quando a libertação animal é parte da discussão, nós reconhecemos que os animais que são ao mesmo tempo "fábrica" e "produto" precisam ser libertados. Resistência ao capitalismo, então, seria mais do que se importar apenas com os meios se produção não-sencientes. Seria transbordar-se para o esvaziamento das tendas de circos e dos laboratórios de experimentação animal (2), para o resgate de animais não-humanos a partir das fazendas industriais e suas contrapartes mais benignas, e sempre que possível, mudar nossa relação com os outros animais de "produtos de consumo" para aliados e parentes. (3)

CRÍTICA DA TECNOLOGIA



O anarquista e cristão Jacques Ellul é bem conhecido por sua análise incisiva sobre a tecnologia e o impacto do sistema tecnológico sobre os indivíduos, comunidades, e sobre a forma como construímos a sociedade. No entanto, como eu me lembrei no início desta semana, muitos daqueles que seguem sua análise, ao contrário de Ellul que condenou a vivissecção - se furtam do fato que as primeiras vítimas conscientes da marcha tecnológica são muitas vezes os animais não-humanos. Tomemos por exemplo o anúncio desta semana sobre a última "tecnologia inteligente": as novas lente de contato biônicas que poderiam trazer a informação digital ainda mais penetrante do que ela já é, aumentando ainda mais o colapso do artificial com o biológico. Em um artigo (4), o autor casualmente menciona que estas lentes foram testadas em coelhos com sucesso, estando a um passo da utilização por humanos. Imediatamente, comecei a imaginar técnicos de laboratório forçando objetos estranhos feitos para um propósito nos olhos de um sem número de coelhos - objetos que não trazem benefícios para suas vidas e que os distanciam para muito além da vida que Deus planejou pra eles.  Enquanto eu digito, milhões de outros coelhos, ratos, esquilos, chimpanzés, gatos, cães e outros animais estão sendo enjaulados, torturados, manipulados, contidos e sacrificados de outras maneiras no altar da tecnologia por produtos que servem aos seres humanos. Repudiar a tecnologia sem citar a maneira devastadora que animais não-humanos domesticados são usados é perder um elo crucial na cadeia. Criticar a tecnologia sem expor a irracionalidade de um sistema que atormenta animais não-humanos que nos são tão próximos para, inclusive  serem nossos substitutos experimentais e manter a ideia de que essas criaturas são apenas meros recursos é perder uma importante ferramenta para a resistência.

RUINANDO O RACISMO, SEXISMO, E OUTRAS FORMAS DE OPRESSÃO HUMANA



Como eu já articulei em outros espaços  há sobreposições calaras entre as formas que dominam os indivíduos humanos e as formas que dominam os outros animais. No entanto, o conceito de libertação animal não-humano é muitas vezes esquecido ou deliberadamente excluído das tentativas de desconstituir o racismo, o sexismo, o heterossexismo, e uma infinidade de opressões que nos afligem uns sobre os outros. Em todo antropocentrismo feminista, anti-racismo, gay, etc, animais não-humanos são vistos como "distrações e suas experiências como vítimas da opressão enxergadas como muito insignificantes para nossa consideração. No entanto, quando a libertação animal se Torna Parte Integrante da discussão, começamos a ver como nossa liberdade é enlaçada com a dos animais. Quando a libertação animal se torna parte integrante da discussão, a porta está aberta para a análise que nomeia a maneira que mulheres brancas, homens e mulheres de cor, pessoas com habilidades diferentes, estrangeiros e gays individualmente é feita para compartilhar nossas posições sociais com nossos parentes de duas e quatro patas de outras espécies. Há espaço para a análise interseccional que pergunta por que os animais são usados como epítetos para os povos oprimidos e por que as pessoas são tão alérgicas à reivindicar nossa animalidade.

Há espaço para a teologia criativa que vê Deus como não apenas transgredindo os binários macho e fêmea, mas também transgredindo a dicotomia humano-animal. Há espaço para modelos de apoio mútuo de liberação que não sacrificam um grupo para o outro. Quando a libertação animal se torna parte integrante da discussão, entendemos que todas as criaturas marginalizadas suportam uma lógica semelhante e sistema de opressão em que "outros" criam hierarquias, justificam as desigualdades e normalizam os abusos. Inversamente, quando a liberação animal é ignorada estamos basicamente dizendo que a liberdade está reservada para a classe já privilegiada da Criação e que há uma forma de dominação que estamos dispostos a aceitar.

CRÍTICA DA CIVILIZAÇÃO




Das críticas mais recentes de opressão o anarquismo anti-civilizatório, conhecido por alguns como "anarco-primitivismo", parece bem amigável em relação a questão da libertação animal. No entanto  se existe algo nesse sentido, o caminho para a libertação da domesticação e da civilização humana permanece focado nas formas ideológicas que o humano atribui aos animais, e literalmente, sacrificado em prol da recuperação da natureza selvagem pelo homem. Embora esteja a evidencia antropológica que dá motivos aos esforços anti-civilizatórios aberta a interpretações diversas da vida humana em seu início, a história e o modelo que tende a dominar a imaginação do movimento é de sociedades humanas "caçadoras-coletoras", porém a cativação do humano caçador-coletor pelo primitivismo é perlplexante por vários motivos. Primeiro e mais importante: o fato de a dominação da "natureza" ser muitas vezes apontada como um dos blocos de construção da cvilização, mas, sem a atenção para a libertação animal, a dominação dos outros animais (não-humanos) é muitas vezes deixada de fora da análise. Tomemos por exemplo o capítulo "Patriarcado, Civilização e Origens do Gênero" em "Crepúsculo das Máquinas" de John Zerzan. Lá, ele identifica o patriarcado como o "domínio sobre as mulheres e a natureza"(5) e sugere que as duas formas de opressão são sinônimos. No entanto, ele não presta uma atenção explícita ao fato de que "a natureza" incluí animais não-humanos, nem se compromete a ideia, como os outros fazem, que a mudança de uma relação baseada no mistério/divindade com animais não-humanos para uma de poder sobre os animais através de assassinatos organizados pode muito bem ser uma das raízes das opressões diversas que caracterizam a civilização.

A bem da verdade, o rótulo de "caçadores-coletores" é em sí enganoso dado que 1), estima-se que 80% da alimentação humana primitiva foi recolhida e saqueada de outros grupos e 2) é uma questão em aberto saber se nossos primeiros ancestrais hominídeos eram caçadores (uma prática que se acredita ter começado apenas há 20.000 anos atrás) ou catadores de corpos de animais em momentos de pressão ambiental. Dadas as várias teorias que abundam, por que é que a imagem do "caçador-coletor" é predominante do que significa o retorno á vida selvagem e não o "frutariano-vegetariano", ou até mesmo - distinguindo por frequência - o "coletor-caçador"? Será que a caça deve ser vista como uma parte da libertação da civilização se a libertação animal da dominação humana é uma grande parte do ethos anti-civilização?

Ao colocar estas questões e marcar as lacunas que eu vejo em cada uma dessas críticas que valem a pena, minha intenção não desconsiderá-las. Pelo contrário, minha identificação com estas formas de resistência a opressão pode ser reforçada por dar atenção as criaturas ao nosso lado. A libertação de animais não humanos não é uma "ameaça" para outros movimentos de justiça social e resitência, justamente porque a situação de nossos parentes animais não-humanos está entrelaçada em muitos aspectos com a nossa própria. De onde estou sentada, os radicais de qualquer lado não podem esperar  para "abolir a opressão" ao usar ou aceitar a uso de outras criaturas como nós fazemos atualmente em circunstâncias em que outra realidade é possível.


N. do T. : Algumas notas de rodapé 
foram omitidas em relação ao texto original.

Confira o artigo original.

A AUTORA:

Nekeisha é a co-fundadora da Jesus Radicals e co-organizadora de sua conferência anual "Anarquismo e Cristianismo". Ela é uma escritora ocasional e palestrante com interesses diversos, incluindo ética animal a partir de uma perspectiva cristã e anti-opressão. Também participa de projetos ecumênicmos, como por exemplo o Projeto Ekklesia.




1) Bob Torres. Making a Killing: The Political Economy of Animal Rights. Oakland: AK Press: 2007, 126–127. 
2) Eis um projeto de lei que está sendo proposto para acabar com o uso de grandes símios em várias formas de pesquisa:
http://www.humanesociety.org/news/news/2011/11/chimpanzee_update_110911.html 
Embora os meios legislativos sejam problemáticos em muitos aspectos, a comunidade anarquista além da ALF (Animal Liberation Front) teve muito pouco a oferecer, tanto quanto outras formas de resistência.
3)Eu entendo que há lugares no mundo em que métodos agrícolas menos brutais e industrializados são o principal método pelo qual as pessoas podem receber seu sustento básico. Esse ponto aplica-se apenas a estas fazendas "humanitárias" que existem em lugares onde uma alimentação e vestuários éticos estão prontamente disponíveis.
4)Michelle Roberts. “Bionic contact lens ‘to project e-mails before eyes.’” November 21, 2011. http://www.bbc.co.uk/news/health-15817316 
5)John Zerzan, Twilight of the Machines. Port 
Townsend: Feral House, 2008: 11







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