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DE REPENTE, TODO MUNDO GOSTA DE VIDEOGAME. ATÉ AS MENINAS...



Nos últimos anos, temos visto um boom de garotas geek. De repente, esse tipo de pessoa, que muitos duvidavam que existisse, começou a aparecer em pages do Facebook, em eventos de cultura nerd, no bairro da Liberdade trocando as toquinhas de Mokona por camisetas do Batman.

Experimentem digitar “geek girls” ou palavras-chave semelhantes na busca de imagens do Google. A Maior Parte Das imagens vai trazer meninas bonitinhas com camisetas de algum super herói, de calcinha (também do super herói) e mordendo o controle do Wii (ou de algum outro console). Agora experimentem digitar “cosplay girls”. Centenas de moças vestidas de personagens de animes/games/mangás/HQ – alguns diriam “vestidas”. A maior parte das roupas deixa a mostra o máximo possível do corpo das personagens – logo, das meninas que se vestem como tal.



Primeira coisa, sem julgamentos morais. Cada um/uma se veste, se fotografa e se expõe na internet e na real life como quiser, e não cabe a ninguém julgar. Estou constatando apenas (no entanto, sempre fico curiosa pra saber se essas meninas conseguem passar da Green Hill Zone...). Já vi textos escritos por MULHERES aconselhando a “tirar fotos nuas com o videogame dele” para seduzir o namorado. Com a associação de “acho videogame sexy, mas não me troque por eles, faça sexo comigo” ou algo do tipo. Not a real geek (?). Claro que mulheres geek podem ser sexy, podem usar roupas sexy e fazem sexo sim. E podem até tirar fotos sensualizando com o controle, com a calcinha do Superman e blusa do Batman, se elas quiserem. Não pra agradar ninguém além dela.

Ultimamente a moda é o sutiã de pokebola. Eu tenho um (!) – pra fazer brincadeira mesmo, sair do “sutiã de renda”. Lendo tutoriais de como se pintar um sutiã, além dos engraçadíssimos (not) comentários de “Gotta Catch’ Em All!/Temos que pegar!”, sempre tem um “Meninas, façam e me mandem fotos”. Meninos, sério: parem com isso. Fica ridículo – para vocês.

Recentemente li as declarações de Tony Harris (criador de comics, com grandes trabalhos na DC e na Marvel, entre outros) em sua página no Facebook. Resumindo o conteúdo do texto, Harris diz que “são raras as mulheres que de fato entendem algo da cultura geek, e a maioria quer apenas exibir os peitos nos eventos”. Okay.



Certo, sr. Harris. Minha pergunta é: e daí? Eu, sinceramente, não faria um cosplay mais sexy do que ele já é (de acordo com o original) – mas porque pessoalmente prezo pela fidelidade ao desenho e não acho que preciso encurtar 3 palmos numa saia ou fazer um decote maior para prestarem atenção no trabalho que tive com a roupa – ou nos meus peitos. Ao mesmo tempo que penso isso (para a minha vestimenta), para o resto do mundo penso que cada um sai com o decote que quiser. E não tem problema sair na rua com decotes se a pessoa quiser.

Nunca vi um cara ser criticado por ir a um evento vestido como um de seus personagens favoritos – mesmo que este use camisa rasgada, aberta, não use camisa, use roupas apertadas que valorizem o corpo. Os personagens masculinos são desenhados para darem impressão de força, poder, raiva, agressividade, confiança. Por que os personagens femininos são sempre secundarizados (quantas heroínAs conhecemos? E quantas são, de fato, personagens principais, que não estão ali só para ser a “princesa” do herói?), retratados como objetos sexuais, com personalidades fracas, tontas, burras? Além disso, obviamente, sua aparência é explorada ao máximo, principalmente adequando-as ao padrão de “mulher gostosa”.

O corpo da mulher, sem novidades para ninguém, é utilizado para potencializar vendas, mercantilizando algo que só a própria dona deveria ter poder sobre. Em comerciais dos mais diversos produtos, vemos modelos com roupas justas paradas ao lado do produto. Em exposições de carros, nunca vemos homens ao lado dos produtos (afinal, querem deixar claro: apenas homens são consumidores de carros – e, ao comprar aquele produto, o cara COM CERTEZA vai conseguir uma mulher incrível para combinar.). Comerciais de cerveja, de camisinhas... Tudo é muito sensual, perfeito, e as mulheres sempre sentem atração pelo cara (que, ao contrário da moça, é retratado de bermuda e camiseta com o cabelo desgrenhado – ou de qualquer maneira “largada”).

O universo geek se apropriou também do machismo presente na sociedade e a maior parte das vezes vemos a representação degradante dos personagens do sexo feminino (afinal, não são necessariamente mulheres) nas histórias, nas animações, nas HQs e nos games. Nem Chun-Li, uma das mais celebradas e poderosas personagens femininas nos games, escapa da sensualização extrema a cada releitura de seu visual.

O mais incrível é que, indo na contramão do movimento, os jogos da série Pokémon se mostraram conscientes de seu público feminino e, a partir da segunda geração, com o jogo Pokémon Crystal, os e as jogadores/as puderam escolher entre o personagem masculino e feminino. A grande diferença entre eles é o sprite (“o bonequinho”) do personagem. Mesmos diálogos, mesma história. Mas a inclusão de uma personagem feminina mostrou que nem só os meninos podem ser Mestres Pokémon. Com a pergunta (que virou meme) “Are you a boy? Or a girl?” feita pelo professor (ou professora, dependendo da geração) que recepciona o/a jogador/ra, os jogos já começam diferentes.



A opção de jogar com personagens femininos está presente também nos games de Sonic, the Hedgehog – de maneira mais discreta que em Pokémon. Dependendo do jogo, é possível escolher, além dos personagens masculinos como Sonic, Tails e Knuckles, jogar com personagens como Cream e Amy Rose.

Muitos sempre se lembrarão dos jogos do Mario – que basicamente seguem o roteiro “Mario precisa passar por diversos perigos para salvar a indefesa princesa Peach, sequestrada pelo vilão Bowser”. Tirando os poucos jogos como Mario Kart e Mario Party, quase todos os outros jogos onde Mario está envolvido reforçam a velha história da moça coitadinha que precisa ser resgatada por um homem (alguém sempre tenta me convencer que é uma situação diferente porque “o Mario é baixinho e gordo, e é encanador! Não é nenhum príncipe!” – cada uma com seu príncipe). 



Fora, claro, a princesa Zelda, sequestrada por Ganon e Link indo atrás para salvá-la. E April O’Neil, que foi salva pelas Tartarugas Ninjas. Lara Croft é sempre citada como exemplo de heróina. Sim. Que nunca desarruma o cabelo, não importa a situação. Sempre retratada de maneira sensual, com olhar sempre sexy. Ninguém gosta da Lara Croft suada.

Enquanto mulher que passou anos jogando videogames e mergulhada em cultura geek, fico seriamente preocupada com comentários imbecis como o de Tony Harris, ou de blogueiras estimulando meninas a tirar fotos nuas segurando os controles na frente dos peitos SÓ para seduzir homens. Mas se você quiser fazer isso, ok – afinal, o corpo é seu.

Mulheres também jogam videogame, leem quadrinhos, gostam de ver tudo explodir em uma luta. Parem de achar que somos apenas peitos de pokebola.


***** 



Anna G Coelho é estudante de jornalismo da PUC-SP, geek, membro da Frente Feminista da PUC-SP e a partir de agora passa a colunar no Fagocitando SP.






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