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DILATAÇÃO TÉRMICA DOS SONHOS




Estou vazio. Uma espécie de zen-trocado, de zen com sinal negativo. A solidez do meu mundo que agora ameaça a derreter me faz questionar, não sem certa severidade, se pretensamente ela existiu.

Minhas pálpebras estão pesadas, toda a culpa, toda a minha culpa e vergonha que são e não são minhas pesam sob poucos centímetros de pele... Estou com o aviso de despejo da sucumbência afixado nas portas, saídas, rampas e acesso e escadas da minha psyché.

Eu estou com frio... Para ser sinceramente inconveniente: eu estou gelado. Estou anoitecido e geando. Posso sentir nos olhos de outrem as acusações. Acusar já é condenar, tudo isso amplificao pela paranóia e pelo meu super-ego orenado e paramentado. Nesse momento meu eu-todo é uma catedral medieval gótica, de pedra... Opressiva, úmida. Meus pensamentos ricocheteiam na caixa craniana como disparos de uma bala perdida. Estou vazio. Estou repleto de ausência, transbordando o nada, exalando sombra pelo poros... Eu estou frio, não é calma. É gelo.

Evitar a dilatação térmica dos meus sólidos (será?) sonhos através de um inverno artificial. Meus olhos são o souvenir desse Natal. Essa neve não é isopor, é medo.

Estou vazio e com um osso entalado na garganta. Estou anestesiado, estou esperando a porrada. Estou como Cassius Clay: "Bate! Quer bater? Então bate, filha da puta! Bate porque minha vitória é deixar você saber que eu quase desejo a dor que você me causa! Não é mais tão divertido, não é? Então? Bate! Filha da puta".

Eu suportaria tudo, as piores condições, por muitos e muitos anos. Até aqui eu não tive um osso quebrado; a alma em coma, a psyché respirando por aparelhos, mas nenhum osso quebrado. Eu sou um sobrevivente de mim mesmo. Sou um adaptado à minha própria inaptidão; mecanizando reações e interrompendo a dor até o desmaio... Tenho estancado essa veia. Aprendi a mentir dizendo a verdade, e a dizer a verdade com mentiras. Desenvolvi o hábito de me ocultar estando em eterna exposição.

A questão não é "se" eu suportaria, a questão é "por quê?". Não sei o que me corta mais, se o que me causa mais tédio é o pesadelo em si ou as navalhas espalhadas pelo meu lençol.



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