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CEFALÉIA PAULISTANA

Tags: sempre


A cabeça Sempre explode. É sempre assim. Eu sempre bato a cabeça quando a vida bate em mim.

Enxaquecas quase diárias. Uma Olimpíadas de Cefaleias; cada dia uma modalidade diferente. As áreas do meu cérebro se degladiam em acirradas competições para decidir qual dói mais.

Final de mês é sempre uma dor de cabeça: acabou o inheiro, a paciência e o analgésico. Final de mês é sempre uma merda mesmo.

Paro na padoca, peço um café, já pelo aroma seu que oxidou. Ao espresso sempre preferi o café de coador; preferencialmente do coador velho e imundo de meia-calça. Aquele café preto e melado servido em copinhos plásticos mais descartáveis que minhas esperanças, nos quiosques imundos dos terminais rodoviários e estações de metrô. Parecem todos iguais, estes quiosques. Todos em cor amarelo e vermelho, com uma estufa repleta de pão-de-queijo. Quer dizer, "pão-de-queijo"(sic!). "Oito por um real", para ser preciso.  A última coisa coisa de que aquele isopor é feito, é queijo. Sempre sei quando estão assando aquela borracha, por conta do futum que impregna até nos mais recônditos cantos da minha alma.

Penso no serviço. Estou sempre pensando no serviço. Em todos os diários e redações para corrigir. Flagro-me incógnito caçando ironia nas covinhas de um sorriso indigente qualquer quando recebo uma menção honrosa pela escolha do meu tripallium. Não obstante, é visível a ira abafada no meu próprio riso quando ouço um "coitado!", como se ao pronunciar meu ofício, emitisse uma nota trágica de falecimento ou coisa que o valha.

Que espécie de orgulho com esquizofrenia é esse? Impossível é não sucumbir, ainda que de maneira romântica, ao saudosismo a época em que não se viveu, mas da qual a profissão herda senão o nome e seu oficial ostentava certo valor intrínseco. Tudo bobagem! Además, nem aquilo é mais a coisa que era, nem cá e agora é coisa mesma, senão, coisa outra que não serve nem de sombra, tampouco de comparação.

Acendo um cigarro. Passa um carro. Um mendigo pede um trago. Ofereço-lhe um pito zerado. Ele agradece, desculpa-se e se afasta; embrulhado no cobertor que, somando-se ao cigarro recém fumado, quiçá seja o único conforto em sua vida. Que espécie de caridade as avessas é essa? À um tipo de gente que se quer descer ao cadafalso do túmulo em boa hora e companhia! As vezes tenho dessas de ser o Jesus do pós-punk. De anar pelo lixo me purificando do cheiro de gordura trans impregnado nos meus cabelos e cílios que exala das lixeiras humanas que são as praças de alimentação dos shoppings, e cuja comida (sic!) tem valor nutricional idêntico ao das bolinhas de isopor que acompanham os eletrônicos em suas caixas.

As veias da fronte pulsam. Posso ouvir meu coração. Imagino-o tal qual àquelas máquinas de lavar roupas jurássicas. Azuis e com um grande botão prateado no meio do painel. Aquelas máquinas silenciosas e tímidas como marmotas no cio. Grandes, enormes mamortas azuis com botões prateados, trepidando área de serviço afora! Mamotas indo mochilar o mundo enquanto batem meus panos de prato. O que será que meu coração-marmota-azul-no-cio está lavando agora? Pouco me importa desde que eu passe logo por uma farmácia.

Começo a desconfiar que, afinal, fotofobia é fome. A última refeição que fiz foram cacos de vidro. Pelo menos assim me pareceu o arroz empapado com legumes. Isso foi lá pelas nove ou dez da noite de ontem, e no atual momento da nação, já é quase meio dia de hoje. Uma camionete passa buzinando pela extensão inteira da avenida. É hoje que meu cérebro derrete como a um tomate que se espatifa no vidro traseiro do carro da Dilma Rousseff. Tem ketchup escorrendo dos meus ouvidos! O estômago ronca, mas não existe nada comestível nessas pocilgas do centro. Comeria um prato de analgésicos. Sem ketchup, por favor.

Nesses dias prefiro o ônibus ao metrô. Há quem diga que as janelas do busão são a última escola de filosofia. Até gostaria de rir da brincadeira, mas sempre há algo trágico em se atrasar propositalmente a viagem de volta para casa. Os meus tão necessários, amados, venerádos e honrados analgésicos ficam sepultados no armarinho o banheiro. Armarinhos de banheiro tem o péssimo - o péssimo! - hábito de possuir espelhos. Espelhos guardam sempre muitas coisas com as quais não queremos dar vistas.

Cochilo. É o dia terminando. É o dia que se vai deixando de souvenir promocional a sensação de não ter acontecido, como um sonho ou uma lembrança ruim... vago como uma parada e outra, morto como eu, incógnito, entre o banco e os solavancos de apenas um ônibus, em alguma rua, em alguma São Paulo.






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