Ewa Brzozowska
entre os pobres são curtas as infâncias. depressa se ouve dizer: acaba com isso! já não és uma criança. é pena que os sonhos maus não recebam a mesma informação.
também não se importava muito de crescer. os crescidos eram livres. não pediam autorização a ninguém para nada. faziam o que queriam, quando queriam.
aceite a notícia de não ser criança com alívio até, começou a ter sonhos para quando mulher. sonhar era a sua riqueza. nunca a perdeu de vista.
nunca? não. no dia em que a mãe, muito cansada, ficou na cama e não foi para o mercado, não sonhou. a mãe conseguiu adormecer mas já não teve força para despertar.
naturalmente, esse dia mudou a sua vida.
ligou para a única pessoa que conhecia, o homem que as visitava. ele veio. trouxe flores. ligou para a funerária. pagou tudo e ficou a olhá-la.
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nunca vira flores em casa antes da mãe morrer. pensou isso e sorriu, com ironia.
- eu hei-de tê-las antes, muitas!
Gabor
- vou tomar um banho. vim sem passar por casa. se quiseres, depois jogamos cartas. vai ser uma noite longa de passar...
- não.
- como queiras. vai fazer café, então.
e não voltaram a falar até amanhecer.
suspended time
enroscou-se aos pés da cama da mãe, com muito medo de dormir, para não sonhar.
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(cont.)