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Avelina; Elogio da Nobreza; As Noites Quentes do Cruzado D Egas

José Vilhena (1971). Avelina. Edições Branco e Preto. 

Por detrás do humor picante e mordaz, esconde-se uma nada discreta crítica social a um Portugal ultra-conservador, de virtudes públicas e vícios privados, pobre e injusto. Avelina é a história de uma rapariga tirada de casa por pais que a dão para servir pessoas abastadas. Pessoas que a vêem como menos que humana, sujeita às imposições de uma emproada mãe de família. Família que, como todas as pessoas de bem da zona, vive das aparências de virtude pública, enquanto em privado fazem o contrário do que apregoam. O pai de família é um médico local com negociatas e que almeja tornar-se presidente da câmara da terra e, claro, não só anda metido com a criada da casa como abusa das mulheres que frequentam o consultório. A filha que estuda para professora costuma deixar exausto o namorado, filho estróina de agricultor abastado, e o filho anda sempre à cata de Avelina, enquanto se deixa catar por uma prima quarentona solteirona. Desde que não se saiba, é o que interessa, embora todos sabem das tropelias, apenas fingem ignorar. É a receira para uma história picante, mas mordaz e afiada na crítica ao país contemporâneo de Vilhena. Sob a lupa do humor, tudo fica a nu. A pobreza e ignorância, a violência, a fome, as negociatas dos poderosos, a concupiscência da Igreja e dos senhores de bem e notáveis. A sátira é tão óbvia, o mau retrato do país tão nítido, que surpreende que a censura do estado novo tenha deixado passar a publicação.

É curioso como a personagem principal, apesar de atirada aos leões, não é de todo uma vítima. Defende-se e joga o jogo, percebendo que é manobrando as regras viciadas que consegue não ser prejudicada. Num mundo de pobreza extrema, há que sobreviver.


José Vilhena (1962). Elogio da Nobreza. Edições Branco e Preto. 

Neste opúsculo, a mordacidade visceral de Vilhena vira-se contra o emproadismo aristocrata, traçando a história de uma dinastia brasonada, entre a ascensão medieva, a pilhagem dos descobrimentos, a queda no final do século XIX e o ressurgir nos novos corredores de poder político e econónico no século XX. É sátira, demolidora, com a subtileza de um rolo compressor, que desmonta à bruta os ideários de superioridade inata e pedigree das classes altas, apontando os nepotismos e desmandos, tenuemente velada sob sucessão de piadas.


José Vilhena (1973). As Noites Quentes do Cruzado D. Egas. Edições Branco e Preto. 

Quando um rico nobre portuense decide ir de cruzada para a terra santa, rodeando-se de uma fiel tripulação onde não falta uma rija mocetona para lhe aquecer as noites, acaba por se meter numa série de peripécias que culmina numa espécie de assalto às costas da moirama, que acaba por se revelar a algarvia Albufeira. Entre um piloto pitosga que não se sabe orientar e as tropelias de Vilhenice típica, é uma história absurda e picaresca que cruza a visão do passado mítico e a ironia com o mundo contemporâneo. Uma leitura divertida, mas não das melhores obras deste autor tão independente.



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