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O Burro de Ouro


Apuleio (1978). O Burro de Ouro. Lisboa: Editorial Estampa.

É preciso ter cuidado com as jovens bruxas da Tessália. Podem ser fogosas debaixo dos lençóis, mas se quisermos experimentar os seus encantamentos, rendidos como estamos aos seus encantos, algo pode correr mal. Como se comprova pela história Deste Lúcio, viajante grego que se vai metendo nalguns sarilhos libinosos nas Suas Viagens, e no seu desejo de novas experiências, pede a uma aprendiz de feiticeira que o transforme num pássaro, tal com a Sua Ama consegue fazer. A jovem feiticeira não é tão destra nas artes mágicas quanto a sua ama, e o pobre Lúcio descobre-se feito num burro. 

Não é o pior dos destinos, basta que o homem transformado em animal coma uma rosa para regressar à condição humana. O problema, é que tudo lhe corre mal. É roubado por ladrões, usado como jumento de carga, trocado entre amos, alguns brutamontes, outros mais agradáveis. Acaba, até, no leito de uma matrona especialmente lúbrica (esta parte do romance seria impublicável, hoje...). Depois de muitas desventuras, será graças à intervenção da deusa Ísis que regressará à condição humana. A partir daí, as suas viagens de descoberta irão assumir um caráter mais espiritual, com a sua iniciação nos mistérios da deusa, e, posteriormente, nos de Osíris. 

Romance de impenitente impertinência, entre o obsceno e o libertino, é também uma história que contém histórias. Quer como Lúcio, quer como burro, o personagem cujas desventuras seguimos cruza-se com outros viandantes, que contam histórias. Há pequenos romances e tragédias dentro deste grande romance clássico, que estão entre o moralista e o humorista, lidando quase sempre com traições conjugais, e inclui ainda um detalhado contar do mito de Cupido e Psiché. Apesar de o ter lido numa tradução algo maçuda do século XIX, é fácil de perceber a sedução irreverente desta história sobre a busca constante de novos conhecimentos, experiências e limites, de ir mais longe mesmo que se vivam consequências funestas dessa vontade. E, confesso, não me é difícil imaginar um antigo romano a rir-se às gargalhadas de algumas das passagens mais escabrosas deste romance.



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