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Figuras do Mito


Maria Mafalda Viana (2022). Figuras do Mito. Lisboa: Tinta da China.

É impossivel escapar à sedução da antiguidade clássica. Tanto da sua herança tornou-se parte de nós, mesmo que já não recordemos a origem de algumas das nossas estruturas culturais. Olhar para os Mitos não é um desporto de elitismo académico, mas refletir como as histórias, ideias e modos de ser de um povo há muito desaparecido são parte do nosso tempo. 

O elemento mais cativante Dos Mitos Gregos é o seu profundo humanismo. Mantemo-los na nossa memória através de textos que sobreviveram às vicissitudes do tempo, fragmentos de um todo maior que está parcialmente perdido. Mas o que sobrevive, é suficiente para nos dotar de ideias, apaixonar, perceber as ligações culturais que se enraizaram ao longo dos séculos na cultura europeia ocidental. É interessante notar que a mitolologia grega chegou-nos mais por poemas, teatro e histórias onde o homem confronta os seus deuses, do que por uma teologia distante que explora os atribuitos das divindades.

Este livro leva-nos a refletir isso, analisando três dos grandes personagens dos mitos gregos. Personagens não divinos, mas cujos destinos estão entrelaçados com as ações dos deuses, os seus destinos, e também a sua liberdade, que implica consequências. Olhamos para Ariadne, a trágica mulher do fio, que deu a Teseu o meio para sobreviver ao labirinto cretense, e foi recompensada com o abandono pelo homem que amou, e pelo qual traiu a sua pátria. Ariande é o sinal do berço das histórias gregas, que se fazem em amalgama das tradições das diferentes cidades, mas cujo ponto de partida é traçado à civilização minóica que se ergueu em Creta.

Ulisses é a segunda figura analisada nestes ensaios. A história do viajante que não desiste do regresso a casa, da sua fiel esposa, das vicissitudes que tem de enfrentar por estar sujeito aos caprichos e castigos dos deuses, a tenacidade de quem coloca o seu desejo acima das tentações momentâneas, o quasi-eterno périplo pelas terras misteriosas de um mediterrâneo de fábula, a sua imbativel argúcia. O livro termina com Édipo, a metáfora da fatalidade do destino, daquele que procura fugir ao futuro que lhe vaticinaram mas, ao fazê-lo, acaba por cumprir as profecias funestas. Uma história sobre inelutabilidade, a incapacidade de escapar aos nossos papeis. 

É uma curiosa escolha de figuras em analise: a mulher potenciadora mas vitimizada, o herói inabalável nas suas convicções, o anti-herói vítima de um destino que lhe foi imposto. Três historias clássicas, essencialmente focadas no humano. Os deuses estão lá, mas mais como pano de fundo. São nucleares aos mitos, mas o que o torna estas histórias tão ricas, e tão pertinentes milénios após as tradições onde foram forjadas desaparecerem, é o seu foco nos humanos, nos seus sentimentos, vontades, forças e tragédias.

O livro termina com um apontamento sobre ninfas e adamastores, um delicado voo erudito sobre outras figuras míticas que se relacionam com a nossa tradição portuguesa através do poema de Camões. Uma obra erudita, que cruza os mitos com os seus reflexos literários ao longo dos séculos, mostrando como a base da cultura europeia (é dela que falamos, sem tentações globalizadoras) está enraizada nas terras gregas.



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