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Children of Memory


Adrian Tchaikovsky (2023). Children of Memory. Londres: Pan Macmillan.

Esta série de Adrian Tchaikovsky leva-nos a olhar para os conceitos de inteligência a partir da ficção especulativa. No seu cerne, está a questão de como seriam inteligências não humanas, mas com traços evolutivos paralelos. A premissa desta Space Opera intrigante leva-nos a um futuro distante, em cujo passado a humanidade se começou a espalhar pelo espaço, levando a sua biotecnologia para terraformar Planetas, plantando-lhes sementes de vida e guiando o seu crescimento. Um processo que tem um fim abrupto, quando um golpe provocado por uma facção terrestre que se opõem à expansão emite um vírus que desabilita os sistemas das naves e instalações orbitais, aniquilando as futuras colónias, aqueles que vivem em estações espaciais, e quase a vida na Terra.

Mas o acaso tem bizarrias, e se a penetração do vírus aniquila ou isola irremediavelmente as equipas de cientistas que terraformam os planetas, não os destrói por completo. Há planetas em que o processo de terraformação já se iniciou, onde a vida biológica se estabeleceu. Planetas que terão de ser redescoberto por uma humanidade que, recuperando da queda, se lança novamente ao espaço, agora em naves geracionais em trajetórias sem regresso, fugindo de um planeta-mãe que já não é capaz de suportar a vida humana.

O problema, é que os planetas terraformados são imprevisíveis. Nalguns, a vida despontou e deu origem a espécies inteligentes. Outros, apesar dos esforços de cientistas condenados que, mesmo nos seus últimos dias, tentavam cumprir a sua missão, continuaram inóspitos. E em todos, a vida seguiu por caminhos imprevisíveis, adaptando as bases terrestres às novas condições ambientais.

No primeiro livro da série, fomos levados a um planeta onde aranhas desenvolveram inteligência, tecnologia e civilização, empurradas por uma inteligência artificial que incorporou as memórias e personalidade de uma das maiores cientistas terrestres, há muito falecida no seu satélite. Aranhas essas que conseguem estabelecer uma comunidade multi-racial com sobreviventes humanos chegados ao planeta, depois destes ultrapassarem as óbvias reticências de lidar com aranhiços com mais de um metro de envergadura. 

O segundo livro anuncia périplos, com estas comunidades aracnídeo-humanas a explorarem o espaço em busca de planetas terraformados, e artefactos da antiga Terra. Deparar-se-ão aí com toda uma nova ideia de inteligência,  num sistema solar com dois planetas habitáveis. Num, planeta coberto de oceanos, deparamo-nos com uma espécie inteligente de cefalópodes, evoluída a partir de lulas colocadas nos mares extraterrestres, que vive em habitats orbitais e é extramente paranóica no contacto com outras espécies. A razão para isso está no outro planeta habitável do sistema, um ecossistema anómalo cuja biodiversidade é colonizada por um único organismo, uma bactéria inteligente que distribui a sua consciência por uma mente-enxame, e contamina todos os restantes organismos. Uma rede bacteriana inteligente, consciente e com uma enorme curiosidade que a leva absorver todos os seres vivos com que se depara, sem se aperceber que ao fazê-lo está a destruí-los.

Civilizações aracnídeas, cefalópodes no espaço e mentes-enxame bacterianas. Poderá esta série tornar-se ainda mais especulativa? No final deste terceiro volume, percebemos que sim. Neste, somos levados a uma colónia que luta contra a sua desagregação, condenada à extinção dos seus recursos num planeta inóspito, na qual a vida mal se aguenta. E um planeta onde se encontra um artefacto misterioso, de origem não-humana. Quando uma missão que reúne uma tripulação representativa da união de espécies inteligentes pós-humanas chega ao planeta, parece despoletar-se o completo colapso da sociedade. 

Note-se que esta tripulação pós-humana é, adivinharam, um misto de inteligências artificias incorporadas, pares simbióticos aracno-humanos, cefalópodes, bactérias que assumem forma humanóide, e uma nova adição à pós-humanidade: uma espécie de corvos inteligentes, que individualmente não parecem ser conscientes, mas funcionam em pares, com um elemento analítico e outro actuante. Só por isto já percebemos que se nos livros anteriores Tchaikovsky especulava sobre as ideias de inteligências não-humanas, aqui entra nos terrenos mais pantanosos da inteligência e consciência, dos comportamentos inteligentes de grupos compostos por indivíduos que em si não revelam inteligência.

Vai um pouco mais longe. A história da decadência da colónia humana segue em vagas repetitivas, como se o tempo fosse anómalo. A razão disso é-nos revelada no final, a colónia de facto pereceu, mas é mantida num simulacro de vida virtual, uma simulação que recria constantemente os cenários possíveis de evolução da colónia, falhando e reiniciando. Se se estão a perguntar se Tchaikovsky segue o caminho de questionar se uma simulação que imite o mais completamente possível a realidade em que se baseia poderá conter consciência, claro que sim, é essa a via. 

Space opera clássica, especulando seriamente sobre evolução, inteligência e consciência, Children of Memory é uma belíssima continuação de uma série intrigante.



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