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NOVO ROMANCE GANHA RESENHA NO BLOG ACRÓPOLE REVISITADA


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TODOS ELES ENTRARAM, SEM COMBINAR, NUM RITMO DE TREINO PARA A VIDA

(Luigi Ricciardi)
Lugares ermos, com pouca conexão com o mundo exterior, são, quase sempre, um bom espaço para grandes romances. O desbravar, de terras inóspitas, também. Junte a tudo isso uma grande carga de cultura popular em uma narrativa bem construída praticamente do começo ao fim. O resultado é Além do Rio dos Sinos, novo romance de Menalton Braff que saiu há pouco pela Reformatório, em mais um belo trabalho de capa e edição.
            O protagonista, durante boa parte do livro, é Nicanor, um homem de poucas palavras que desde a tenra idade precisa trabalhar na terra para tirar seu sustento. Mora em um morro no Vale do Rio Dos Sinos, um lugar distante dos grandes centros e até mesmo de pequenos vilarejos. A solidão parece ser a única companheira desse homem.
            No início do romance, Nicanor é ainda apenas um rapaz que se viu sozinho no morro em que mora após a morte do pai. A memória já começa a se perder, o rosto dos familiares mortos são apenas sombras na sua cabeça. Um por um foram todos morrendo, a mãe, o irmão, a irmão. Agora o pai. Nicanor está sozinho e precisa aprender rápido a tirar leite de pedras daquele lugar inóspito onde mora.
            Pensando em negociar a terra com um investidor, acordo que acaba nunca acontecendo, Nicanor vai ao cartório do vilarejo mais próximo. Aproveita o momento e passa ali o final de semana, conhecendo assim Jesualdo, um rapaz, oposto dele, de conversa fácil e animada. A partir desse encontro a vida do protagonista vai mudar, pois com o estreitamento da amizade, ele conhece Marialva e Florinda, as duas irmãs do amigo, mulheres que marcarão sua vida.
            Entremeada à história da juventude de Nicanor vemos também sua história de casado. Capítulo sim, capítulo não, vemos o protagonista, agora com sua esposa Florinda e seus filhos, voltando a morar no morro de sua propriedade. Deduz-se que Nicanor havia deixado o morro e alguma coisa muito ruim aconteceu para que ele voltasse para aquele fim de mundo.
            Falando em fim de mundo, o espaço da narrativa é um lugar ao qual chegam, de maneira esparsa, notícias do país. Sabe-se que o país entrara em guerra, depois que o presidente se matou, depois que há militares no poder. Nesse meio tempo, pouca coisa chega da cidade grande para o Morro da Caipora, a não ser personagens que ali viveram suas vidas e voltam para visitar a protagonista da última parte do livro: Florinda.
            Essa também é uma das grandes personagens do livro. Em um momento histórico no qual só cabia às mulheres a obediência e subserviência, Florinda, contrariando a família, escolhe seu próprio destino. Luta, nesse meio opressor, para manter sua dignidade e pela sobrevivência em meio a tantos espinhos.
            Uma das forças do romance é retratar o cotidiano desses personagens, a lida diária com a terra, desde a aragem, colheita, que é pouca, passando pelo trato com os animais, ordenha, exploração das redondezas, a refeição modesta que beira a fome. O livro também retrata muito bem as relações pessoais, comportamentos da gente do interior, as leis não assinadas mas cumpridas.
            A vida desses personagens é cheia de infortúnios, restando apenas a esperança de que aquela difícil terra possa dar a eles sustento para que não morram de fome. Outra esperança, que toca pouco a pouco os filhos de Nicanor e Florinda, é deixar aquela terra para ter finalmente uma vida digna longe daquele lugar que parece até amaldiçoado.
            Além do Rio dos Sinos é um livro sobre a passagem do tempo, sobre memória, sobre pobreza, traição, fidelidade e esperança. Fala de tantas outras coisas que é difícil enumerar. Rico e convidativo à leitura, o romance mostra um pedaço diferente do Brasil, mas semelhante a tantos outros lugares esquecidos onde a dureza chega bem antes da alegria e da fartura.
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TÍTULO: Além do Rio dos Sinos
AUTOR: Menalton Braff
EDITORA: Reformatório
GÊNERO: Romance
ANO: 2020
PÁGINAS: 280
TRECHOS:
“Mais para o fundo, para perto do pé do morro, ele viu a cabeça de algumas sepulturas. Era o cemitério dos outros, os que não frequentavam a igreja, onde toda sua família estava enterrada. Primeiro de todos, pelo menos que se lembrava, a terra tinha engolido a Tininha. Não conseguia mais se lembrar da imagem da irmã. Também, ele era muito novo quando ela se foi”.
“Dez, doze meses sem o pai, a memória deste começava a desmanchar-se, principalmente a memória dos dois mais novos. Começaram então a comportar-se como se um Nicanor jamais tivesse existido. Todos eles entraram, sem combinar, num ritmo de treino para a vida, que faz parte do instinto de sobrevivência. Além do mais, luto nenhum é eterno, e perda, por maior que seja, não sendo da vida, em algum tempo é preenchida com alguma compensação. A tristeza cansa e pede trégua, é impossível chorar vinte e quatro horas todos os dias”.


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