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MOTIVOS

A partir de agora, publicaremos periodicamente textos de Menalton Braff nos quais ele expõe os motivos que o levaram a escrever cada um dos seus 23 livros publicados até o momento.

Como sempre me aconteceu, não escrevo contos para um livro. Meus contos, cada um tem sua motivação. Se houver entre eles algum encadeamento, algumas uniformidade, isso é inteiramente casual.

O livro A coleira no pescoço não teve origem diferente do que afirmo acima. O primeiro conto, que dá título ao livro, nasceu de uma cena a que assisti de dentro de um hotel em Poços de Caldas. Sob um vento forte e irritante, um Velho, caminhando com alguma dificuldade na calçada do outro lado da rua, vai puxando um cachorrinho com jeito de velho, que se deixa arrastar, mal movendo de quando em vez suas patas.

Imediatamente me lembrei do velho do Camus que perde seu cachorro e lamenta o fato, pois não terá mais em quem descarregar os safanões de sua vida infeliz. Mudei a motivação, dando ao cão a identidade do velho, o modo como convive com dificuldade com sua velhice.

Em Alice e o violoncelo, a ideia do conto surgiu num concerto da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto ao perceber o modo como uma das violoncelistas manuseava seu instrumento. Foi impossível
não ver na cena um ato sexual, pois o instrumento estava preso entre suas pernas. Ora, o design do instrumento com sua cintura não podiam dar ideia diferente.

Em branco e preto nasceu em São Sebastião do Paraíso, numa manhã, já perto do meio dia, ao olhar pela janela da sala de aula onde estava, reparei um velho, cabelos brancos, debruçado no parapeito. O prédio era um hotel, com janelas de um estilo meio árabe/espanhol. Pensei: o que faz o velho hóspede do hotel, ficar observando o movimento da rua? Nasceu o conto.

Signo de touro é uma releitura da Odisseia, de Homero. Claro em um só sentido, que é a espera de Penélope, sua firmeza, a certeza de que Ulisses vai voltar.

Toda uma noite: o prêmio tem origem incerta. Um homem adulto ainda virgem recebe como prêmio uma noite com uma prostituta.

Uma tarde de domingo retoma a tragédia do Racine, Hipólito, mas fazendo algumas inversões, como o homem no papel de sedutor e sua enteada no lugar do Hipólito.

Caminhos cruzados me nasceu da Thaïs do Anatole France. Com algumas adaptações, é claro.

Homens magros é um conto idiota que nem deveria aparecer neste ou em qualquer outro livro.

Aquele primeiro dia, quase noite depois de algumas pessoas terem me definido como impressionista, me deu vontade de escrever um conto expressionista. A deformação, a brutalidade expressionistas.

Os sapatos de meu pai a história que a Rô* me contou a respeito da irmã de uma amiga sua, suas relações com o pai que as tinha abandonado.

De pombos e gaviões: suas distâncias, origem desconhecida.

O caso das digitais perdidas foi a história de um aluno da Rô que, pintor, perdeu as impressões digitais. Um conto mal realizado.

A cerca numa viagem de ônibus para São Paulo, dentro de um cercado vazio de tela, um homem com capote, estavas frio, estava sentado como se estivesse guardando aquele local sem nada dentro.

De cima de seu muro resultou da simples vontade de escrever um conto na linha do realismo mágico antológico.

O outro lado da rua há muito vinha pensando naquelas pessoas que, em multidão, esperavam conduções na praça Pedro II, em São Paulo. Aquilo me angustiava. 

O bezerro de ouro também está na linha do realismo mágico, fruto da observação das usinas no entorno e da preocupação pecuniária da maioria da população.

O gorro do andarilho novamente o desejo de uma incursão no expressionismo.

Dois mendigos, um mata o outro.

Um dia apagado realismo mágico metafísico, uma cena absurda. Não me pareceu um conto bem realizado.

O rico riso de Rita a motivação é essa exigência de algumas empresas com relação a funcionários que atendem ao público. São forçados a rir sem parar. O conto está na linha do realismo mágico metafísico.

O zelador a inutilidade da vida, o absurdo das ações. Novamente uma experiência na linha do realismo mágico metafísico.

Como se vê, além de pontos muito distantes, como o absurdo, nada dá liga aos contos. Mas foram editados pela Bertrand Brasil em 2006.




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