Primeira vez que chorei de nervoso com um filme... esse é extremo...
Pearl
Pearl é um longa de 2022, feito pela a A24, que conta a história da velhinha que antagoniza "X"... mas é... lindo... de um jeito... perturbador...
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Eu preciso tomar um ar...
Bem... boa leitura...
O Mesmo Cenário Diferente
O filme retrata a fazendeira Pearl em sua juventude, cuidando de um pai deficiente, e uma mãe controladora, e sonhando em ser uma estrela de cinema, dançarina, que seja.
Ele se passa em 1918, durante a guerra, mas retrata apenas a Fazenda que vemos no primeiro filme. Inclusive, o formato dele lembra muito mais os filmes clássicos da década de 50.
A música também é constante e cheia de tons melódicos suaves e alegres, como em romances de época, sempre tocando junto das cenas, pra passar as emoções que estas teriam de transferir, assim como filmes mudos faziam.
Apesar do cenário limitado, o filme vai muito além do que "X" faz, e sua temática, essência e principalmente atmosfera é muito mais marcante, ainda mais pro terror.
O filme junta um estilo de filmagem limpo, colorido e feliz, com uma história pesada, intensa e cruel. Ele não mostra nenhum clichê do terror, e mesmo assim é puro terror.
Apavorado e Encantado
Não sentia esse tipo de medo desde que era criança assistindo Bruxa de Blair com meu tio cochichando que era tudo real e eu seria o próximo, ou com a menina de Exorcista descendo as escadas de costas enquanto a luz da minha casa caia e minha mãe aproveitava pra me assustar.
É um medo esquisito que se enraíza na alma e fica, permanece e traumatiza. E talvez isso ocorreu pela sutileza e serenidade com a qual o filme mostra o que mostra.
Ele é natural, ele é fluído e chega a ser bonito, em tudo que mostra, seja bonito de fato, ou não.
As mortes foram pesadas e cruéis, e nem por isso deixaram de filmar como se fosse uma obra de fantasia, e essa estética contribui pra sensação de medo.
Tem gore, e muito gore, mas ele é muito mais limpo e claro do que estou acostumado a ver. Eles literalmente filmaram de forma "artística", coisas que são grotescas e impactam.
É como se, mesmo nas situações mais felizes, a tragédia fosse inevitável, e a qualquer momento o belo se torna o terrível. Diria mais, é como se o belo nunca existisse, e fosse só um disfarce pra aproximar e tornar qualquer um uma preza.
Falando assim até aprece que o filme é sobre uma encantadora jovem que atrai suas vítimas e as aniquila, mas não... na verdade nem chega perto disso.
Verdade e Fantasia
O filme não mostra uma mescla de ilusão com realidade, não é isso que ele faz. Ele mostra apenas o mundo sempre pelo lado belo, aos olhos de alguém que não enxerga seu lado ruim.
Um momento que me fez perceber isso foi com o aspecto da lua. Em uma cena, a lua aparece normal, pequena como realmente é, pois o foco da protagonista não era ela. Ironicamente, a lua dessa cena surge durante o dia, como naquelas tardes raras em que ela compartilha com a luz do sol.
Porém, poucas cenas depois, ela aparece grande, enorme, em um céu estrelado e mágico, assim como todo filme que retrata a mesma. Algo que sempre me chamou a atenção, por ser um vício de Hollywood na retratação de Selene (nome real da lua curiosamente), e aqui serviu exatamente pra retratar isso.
Como um filme é capaz de distorcer a realidade para dar a impressão de que tudo é muito maior e melhor do que realmente é, mesmo já sendo lindo.
Paixão e Desejo
Este filme não tem nudez explícita, nem o mesmo tipo de abordagem sexual que "X", mas ele tem a mesma linguagem quando isso surge, e causa uma estranheza até maior.
A ideia das cenas sexuais estão relacionadas aos desejos carnais em contraste com a ingenuidade, tão somente. Quando algo do tipo surge, é pra ilustrar o que Pearl pensa, sente, mas esconde, sem ir muito além nem explorar de mais o assunto.
Há um trecho por exemplo em que ela assiste um filme mudo pornô, como tática de um coadjuvante de estimula-la (ao que parece), mas a ideia é mais pra mostrar sua percepção inocente, e explicar o quão delicada a garota era diante seus próprios sonhos.
Protagonista e Antagonista
A protagonista, que pelo amor de deus merece um Oscar, Mia é espetacular... enfim, a protagonista é uma garota inocente, sonhadora, sem malícia, sem maldade, mas ela mata, por prazer, por satisfação, por desejo, por necessidade.
As duas coisas apenas não combinam. É impossível imaginar um assassino tão cruel, que não age por maldade, mas é exatamente isso que o filme mostra, e a confusão que ele cria na gente, no espectador, é tão grande que nossos sentimentos ficam abalados.
O final do filme, me fez chorar, junto da vilã, não por entender ela, não por simpatizar com ela, mas por compreender o quão ferrada ela tava, mentalmente.
Ela é sua própria inimiga, ela luta contra si mesma, mas não tem como vencer a batalha. Ela se ajuda enquanto atrapalha, ela se ama enquanto odeia. Não é simples.
Alias, preciso dizer, Mia Goth é absurda na atuação. Não é atoa que ela fez o papel da protagonista Maxine do "X" e também da versão idosa de Pearl, ambas contracenando, e aqui volta com uma nova versão da personagem. Mais jovem, ingênua, porém medonha.
Uma das melhores cenas de filme de terror que já vi, é justamente ela falando, apenas isso (e olha que odeio discursos). Um longo plano sequência de uns 5 minutos dela falando, com a câmera focando seu rosto, sem mostrar seu interlocutor, e sem revelar o quão chocada a pessoa estava com tudo que escuta.
É um longo momento, mas que aumenta o suspense, de tal maneira, que quando a cena se concluí, nossa expressão é igual a de quem ouviu o monólogo dela, talvez até pior.
Conexões Separadas
É curioso que o filme não é nem de longe parecido com "X". Ele tem sua própria metalinguagem, e sua base é a fantasia dramática de uma jovem camponesa. É como assistir um filme de princesa, com sua trilha sonora, paleta de cores, figurino e tudo mais destoando da narrativa.
Já que, estamos acompanhando o surgimento de um tipo de serial killer, e não de uma princesa. Mas o filme mantém isso até o fim, e até após o fim, sem jamais abandonar essa estética feliz.
Ainda assim, percebemos ligações, referências, explicações do que ficou em aberto no outro filme e nem notamos, coisas que acabam servindo de easter egg se postos lado a lado, mas também funcionam apenas como liberdade poética se vistos individualmente.
Seja Pearl dançando, seja o jacaré comendo, coisas que fazem a conexão são sustentadas individualmente também, e funcionam nas duas visões. Conhecendo "X" previamente ou não, tudo causa a mesma sensação.
A única coisa que acaba ficando solta, é o desfecho onde conhecemos Howard.
Personagens e Coadjuvantes
Pearl..............................................Mia Goth
A pequena fazendeira é a protagonista e antagonista como deu pra notar. Apesar de jovem ela é casada, mas seu marido está na guerra, e em meio a solidão ela luta contra seus desejos mas também, sonha em ser algo melhor.
Projecionista.....................David Corenswet
Esse é um personagem que incentiva Pearl na busca por seus sonhos, dá confiança pra ela, e estimula seus desejos. Porém, para Pearl, ele acaba sendo uma fonte proibida de desejos, que ela precisa se livrar, ainda mais quando ele expõe o lado mais sombrio dela.
Ruth.........................................Tandi Wright
A mãe de Pearl, ela é alemã e tenta manter a vida tranquila na fazenda, sustentando sua filha e seu marido, sem depender de ninguém e mantendo o orgulho lá no alto. Mesmo passando necessidades, ela nunca abaixa a cabeça, forçando Pearl a estar ao seu lado independente da situação, sendo uma mãe rude, mas também protetora à sua maneira.
Pai................................Matthew Sunderland
Doente, o pai de Pearl é tetraplégico, precisa de ajuda pra se banhar, comer, trocar, e viver. No fim das contas mesmo sem falar, ele é aquele que mais mostra expressões significativas ao longo de todo o filme. O jeito como passa a enxergar sua filha, e o terror em suas lágrimas, é muito pesado.
Mitsy..............................Emma Jenkins-Purro
Cunhada de Pearl, ela é também aspirante a dançarina/atriz, mas é loira. Ela tenta ajudar Pearl, estimulando também seus desejos e sonhos, mas ela ainda é loira. Mitsy acaba sendo e tendo muito mais do que Pearl poderia ter, e mesmo sendo a pessoa em quem mais confia, é também quem mais odeia pela inveja.
Howard....................................Alistair Sewell
Por fim, o marido de Pearl é um militar que volta feliz da guerra, pra viver com sua família feliz.
Mas, da mesma forma que Pearl se auto obriga a forçar uma felicidade em sorrisos falsos, Howard precisará se adaptar ao mais cruel do mundo, buscando enxergar o lado bom de uma tragédia tão grande quanto a que testemunha.
Com "X", sabemos que esse casal será feliz até os últimos dias de suas vidas, e morrerão juntos, velhinhos, lado a lado, como um grande sonho americano. Porém, as circunstâncias dessa alegria são terríveis.
E assim, passamos a entender a razão de Howard ser como é no futuro. Ele viveu para manter a ilusão do sonho de sua amada, e provavelmente, ele era uma vítima dela, assim como seu cumplice e amante.
E bem...
Que filme viu...
Recomendo, pois é um dos melhore filmes que já vi no gênero...
Mas, ele é bem marcante... e to com medo do que vai acontecer no próximo da franquia, o Maxxxine... afinal, Maxine é a outra personagem que Mia interpreta, e agora provavelmente será em tempos mais modernos... medo de mais.
Enfim... obrigado pela leitura e... vou ver algo mais leve agora... pra equilibrar...
See yah...