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CríticaMorte: Tusk - A Transformação

Esse filme é antigo, de 2016, mas eu não conhecia e um leitor me recomendou, e bem... é um filme bem estranho.


Mas falarei a respeito.

Boa leitura.

Tusk, ou "A Morsa" é um filme de terror gráfico, com humor, mas de um jeito muito diferente do que estou acostumado. Na verdade, eu não consegui rir uma única vez e só senti nojo com Tudo que vi. O filme é grotesco, e o humor presente não é nada engraçado, mas também não parece estar lá para nos fazer rir ou divertir.

É algo feito para incomodar, assim como o próprio filme tem um enredo que é incômodo, satirizando a si próprio e seus personagens.


O protagonista é um podcaster, que abriu mão de sua humanidade e moralidade para lucrar, zombando das pessoas nas mais diversas situações, e tirando sarro em prol de seus fãs.


O negócio é tão sórdido, que o nome do canal/página do cara é uma sátira ao nazismo (o nome é Not-see Party, que na leitura americana fica como "nazi party"), o que escancara a falta de juízo do mesmo. Quem bota o nome do canal/página/site como algo macabro que precisa ser explicado e soletrado pra não assustar seus consumidores? (divulgantemor... ah... saco).


Mais sobre ele é contado ao longo do filme, explicando como foi sua transformação de alguém gentil pra alguém egoísta, tudo em prol de lucros, vendendo sua alma pouco a pouco, para satisfazer uma massa inconsequente.


Mas tudo isso é mostrado enquanto ele é transformado em uma morsa, com direito a manobras cirúrgicas usando a própria pele, ossos e membros dele.


O filme tem muita narração, e é quase como um podcast mesmo, mas com o vilão contando suas histórias, e o protagonista sofrendo com a transformação.


E, apesar de ser bem lento, ele é bem interessante de acompanhar, principalmente por na metade dele já ter toda a transformação feita, sem mais qualquer mistério sobre a aparência do podcaster depois de ser brutalmente desfigurado, e ainda assim o filme continua, agora mostrando sua namorada, seu amigo e mais um detetive procurando por ele.


Sabemos que a essa altura já não há salvação pra ele, mas ainda há muito filme e muita história, pois o trabalho é mostrar como o rapaz se transformaria pela segunda vez, agora em um animal.

Segunda vez pois, no momento em que ele se transformou em "estrela", ele também perdeu sua natureza original, só que agora ele não tinha escolha, e pode-se até concluir que todas as cenas de flashback, relatando seus últimos momentos felizes, e suas últimas conversas, eram na verdade ele refletindo, ele se lembrando, da primeira vez que abandou sua humanidade.


É curioso, profundo e filosófico, mas ai vem o humor, com caras e bocas, piadas completamente ilógicas e desconcertantes, que minam o projeto deixando tudo muito estranho.


Nada é risível, nem mesmo as gargalhadas que certos personagens dão fazem sentido, e tudo soa mal encaixado... tudo de propósito, uma vez que o desconforto decorrente só enaltece a situação macabra e emergencial do protagonista.

Não dá pra rir vendo isso, e isso serve pra enfatizar a humanidade que existe em nós, sentindo empatia pelo cara, mesmo ele sendo patético, e até mesmo torcendo pela namorada, e pelo amigo dele, mesmo conhecendo o pior lado de ambos.


De certa forma até simpatizamos pelo antagonista, que em seu desejo mórbido de esquartejar seres humanos, para criar Morsas, o faz única e exclusivamente pra sobreviver.


"Sobreviver" pois ele luta contra seu trauma, um evento do qual ninguém teve culpa, mas ele por ser humano se propôs a sacrificar a única criatura que lhe fez bem, só para sobreviver, e agora ele se via torturado em vida pela morte de um velho amigo.


Isso não justifica seus atos, mas explica sua motivação, que de insana o levou a acabar com vidas alheias, para no fim conseguir dar uma chance para seu amigo revidar. Tecnicamente, ele devorou uma morsa que salvou sua vida em um naufrágio quando era jovem, e desde então vem tentando reconstruir ela no corpo de pessoas, pra ela se vingar dele.


Mesmo assim, no contexto geral o filme não deixa de ser muito estranho, e difícil de digerir. 

As coisas não soam certas nele, mas tudo é muito bem feito. 


O destaque que fica é pra maquiagem da Morsa Transformada, o "Sr. Tusk", que ficou espetacular e bizarra.


Sua narrativa também é funcional, pois entrega início, meio e fim, e termina sem dar uma solução definitiva, com a criatura tendo sido totalmente configurada, e o protagonista aceitando sua vida como um animal sem alma (apesar dele derramar lágrimas no fim, dizendo justamente o oposto, que ele ainda é humano apesar de aceitar sua nova existência).


Isso me relembra o filme do cachorro, e me faz pensar em como ele teria mais impacto, se a tortura da transformação em animal tivesse sido tão irreversível quanto a vista aqui. No filme "Good Boy", um personagem vive como cachorro forçado numa fantasia, mas nada chega a justificar sua permanência nela. 


Se a técnica de transformação fosse tão carniceira e visceral quanto a de "Tusk", o peso da obra seria enorme.


Já em Tusk, o resultado só não chegou a ser traumatizante, pois o filme insiste em satirizar as coisas, com piadas forçadamente chatas, e momentos desconfortáveis de vergonha alheia, o que enfraquece muito seu arco principal, nos fazendo desconfiar do que ele quer sugerir, e nos levando quase que pra um surrealismo onde "normalizam o macabro".

Mas apesar disso, o filme nunca se torna surrealista, e as reações dos personagens são condizentes com seus respectivos traumas.


Eu me senti revoltado com a namorada, com o melhor amigo, com o protagonista, com o antagonista, e com a porcaria do policial (que é a pior parte da trama).


A insistência em brincar com a rivalidade estadunidense e canadense chega a ser irritante, e o jeito como representam os canadenses desvia muito a atenção.


Por mais que eu tenha gostado, acredito que esse seja um filme de difícil envolvimento. Não aterroriza tanto, mas perturba, além de usar aquele método do "terror claustrofóbico" mas, de um jeito diferente.


É que, como o protagonista se encontra imobilizado, estilo "Misery" (o filme baseado no livro do Stephen King onde uma fã prende seu escritor favorito num quarto), o terror de se ver preso é constante.

Mas ele também é constantemente aliviado com flashbacks, e cenas dos demais personagens se conectando à trama. Logo, não chega a ser um filme de um cenário só, nem mesmo de uma situação só, não ativando nenhum gatilho.


E, pra finalizar, ao menos ele tem noção que não é engraçado, mas achei estranho dizer que é "baseado em fatos reais" no início. 

O filme na verdade se baseia em um anúncio online, de um cara que oferecia moradia, em troca do inquilino se vestir de morsa pra brincar com ele.


Desse mero contexto, os caras criaram um filme bizarro em que um médico transforma pessoas que encontram seu anúncio de moradia grátis, em Morsas fisicamente modificadas com a própria carne deles.

Certamente uma adaptação bem terrifica de algo inusitado, mas nem de longe seria "baseado em fatos reais". Pura calúnia isso.


Em todo caso, filme legal... obrigado sr Jonathan pela recomendação, eu ainda estou bem confuso com o que aprendi com este filme mas, eu gostei. Aliás, esse é um filme da A24... mais uma pra lista.

Espero que o texto tenha ficado legal...

É isso.

See yah!



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