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O Filme Recomendado de Hoje: Vivarium - A Metáfora da Vida

A um tempo assisti esse filme, assim como vários outros, numa época em que não escrevia a respeito. Sempre me arrependo de não ter escrito sobre algumas coisas que vi, pois acabo me pegando na busca de referências vagas da memória, e não as localizo por não ter registrado.


Felizmente uma amiga me lembrou deste longa, e ao assistirmos, me senti tentado a escrever um pouco a respeito.

Sem dar muitos spoilers, farei o possível para contar um pouco sobre Vivarium, de 2019.

Boa leitura.

Esse é um filme repleto de alegorias e metáforas, que transita entre o comum e surreal, passando para o espectador uma sensação de proximidade aos Personagens, mas também de estranheza e inconformidade. 


Com apenas 2 personagens, a grande ideia já é estabelecida e com muito pouco, a história nos conta muito.


Tudo gira em torno de um casal indo conhecer uma casa num condomínio isolado e fechado, acompanhados de um corretor bastante excêntrico. Então de repente, o corretor some, e Eles são deixados lá sozinhos, sem respostas, e sem saída, não da casa, mas do bairro inteiro.


Mal temos tempo pra conhecer os personagens e a problemática já é instaurada. Presos num condomínio infinito porém vazio, eles são obrigados a conviver, sem ideia de como sair ou o que fazer, e conforme permanecem, situações inesperadas e imprevisíveis surgem, tornando tudo cada vez mais estranho.


É de se esperar que num lugar fechado, sem ninguém e sem saída, o primeiro grande problema seria a falta de alimentos ou água, mas o filme já descarta isso sem enrolar, para que ao mesmo tempo inclua algo inesperado como o real alarde.

Daí em diante, é improvável prever o que nos aguarda, e o suspense só gera terror, a cada segundo de filme.


Mesmo quando tudo parece calmo e leve de mais, fazem questão de nos lembrar que é uma obra de terror, e nos espantam sem dó nem piedade, com abruptas reviravoltas.

Refletindo sobre o filme

É fácil se perder imaginando o que faria numa situação semelhante e notar as equivalentes ideias, mas também é comum sair julgando os personagens por suas ações e decisões até que, tudo começa a soar familiar de mais.


Todo mundo em algum ponto do filme irá sentir um pouco de dejavú, perceberá algo que o faça lembrar de algo que viveu, ou terá alguma epifania repentina sobre algum conflito existencial.

Essa sensação é resultado de uma narrativa sustentada por meros conceitos, com personagens pouco (ou nada) explicados, e uma insistência em nos fazer refletir e indagar em meio ao silêncio, observando as respostas surgindo nos instantes exatos pra nos passar a mensagem correta.


Por mais estranhezas que o longa tenha, ele faz sentido, um sentido profundo e relacionado a condições humanas básicas como: Convivência, Socialização, Educação, Objetivação, Reprodução e Preservação.

Claro, nada é realmente pautado, e a obra vai desenvolvendo essas condições mostrando os personagens se relacionando, e lidando de verdade um com o outro, num ambiente sem qualquer hostilidade, além deles próprios.


O elenco é limitadíssimo, e inclusive este filme se enquadra no padrão "claustrofóbico", uma vez que tem poucos personagens, e se passa num ambiente fechado e isoladíssimo (mesmo passando a ideia de ser amplo e livre, num visual bem artificial).


E apesar de ser bem construído com início, meio e fim, o filme se destaca mais por sua mensagem final, que nos faz vê-lo de outra maneira, uma ainda mais imersa e objetiva que o convencional.


É uma história sobre a vida como ela é, e como nós lidamos com ela.

Tudo é justamente sobre isso. A história em si é simplória, mas é uma analogia clara sobre a vida humana, e como ela também é simplória, mesmo que a compliquemos com nossos objetivos.


O casal preso, tinha comida, bebida, e uma moradia completa, sem nem ter a necessidade de trabalhar para serem sustentados. Em contrapartida, não tinham o laser da sociedade, não tinham com quem conversar ou se abrir (além deles mesmos), muito menos desafios a superar. Tudo que tinham era um ao outro, mas isso bastava?

A vida nos entrega tudo o que precisamos mas, o que faz disso suficiente ou não somos apenas nós e nossos objetivos.


Os personagens tentam escapar, gastam dias andando atoa até perceber que não tem como, e no fim, exaustos, aceitam os termos de habitação, ao terem de cuidar do novo hóspede até ele crescer, pra só assim poderem partir.

Do início ao fim pouco importa o que faremos, pois chegaremos no mesmo desfecho. Mas talvez a jornada seria mais agradável ou pelo menos, menos terrível, se soubéssemos o que fazer e o que aproveitar.


Sem entender o que acontece com a tal criança que envelhece rápido, eles buscam educa-la mas, sem jamais admitir que é um filho pra eles. Eles negam isso, indiferentes às emoções do personagem, agindo de forma negligente, e colhendo os frutos em tempo recorde.

O que querem mostrar nisso, é exatamente como nós somos postos no mundo despreparados e, enquanto nos preparamos já estamos vivendo. Isso é revelado em várias camadas mas a principal delas é a criação do jovem que envelhece rápido.


Tal personagem é incluído e desenvolvido pra acelerar um pouco as coisas. Erros e consequências que cobrariam a longo prazo, acabam sendo mais velozes nessa trama, por conta deste personagem.

Isso implica numa irritação constante, muito pelos trejeitos exagerados dele e seus hábitos insuportáveis, mas também pela rispidez das casualidades e suas consequências.


Não estamos preparados pra nada, mas tudo condiz com o que faríamos e fazemos.

Gosto de como metaforizam o Cuco e seu hábito parasita natural, onde ele nasce em ninhos de espécies mais frágeis, e se desenvolve parasitando-os até elimina-los. 


Porém, tudo vai além de uma simbologia direta e, mesmo havendo um "cuco" naquela família, a referência na verdade é diretamente relacionada a eles próprios, em suas próprias vidas.

Eles são seus próprios parasitas, tomando decisões que os impedem de aproveitar seu pouto tempo de existência, e os empurrando num abismo de sofrimento, solidão, exaustão e morte.


Mesmo quando o filme mostra felicidade naquele lugar horrível, essa felicidade é abandonada não por circunstâncias externas, mas por ações e decisões próprias deles. O triste, é notar que nós fazemos exatamente o mesmo no nosso dia a dia.


O jovem berra pra se alimentar, como se jamais tivesse aprendido a parar de chorar para pedi-lo, coisa que naturalmente ocorre com os bebês, que conforme crescem e aprendem a falar, passam a solicitar o que necessitam verbalmente, até que chegam em certa idade avançada e param de pedir, para eles mesmos buscarem produzir, afinal a dependência tem um prazo de validade.


Mimar alguém para trazer alívio imediato, negligenciando o que essa ideia semeada se tornará no futuro, é algo que geralmente fazemos, em situações sociais, pragmáticas, acadêmicas, econômicas, etc. Não se trata apenas da educação pessoal, mas da educação geral, onde o desgaste resultante do mal uso cobra caro um dia.


Não se importar muito com o que ocorrerá no futuro e apenas se preocupar com o agora é um método ineficaz de lidar com os obstáculos que a vida nos dá.

A parte do "pai" que se desvia de casa pra buscar lazer/conforto no trabalho auto imposto, cavando um buraco no quintal, é outra metáfora que é bem fácil de compreender...


Viver cavando e cavando, sem descanso ou lazer, e apenas seguir fundo num objetivo vazio e infrutífero, sem ligar pros arredores ou responsabilidades, é uma ação comum pra muitos, que sacrificam tudo para um desfecho não tão satisfatório quanto esperariam.

Outro ponto é o casal se separando mesmo não havendo uma razão concreta para tal. Eles se distanciam (muito mais pelo comportamento do homem) e aos poucos deixam de ser uma dupla, pra virar dois indivíduos forçados a viver juntos.


Discutir e brigar por razões que poderiam ser facilmente resolvidas no diálogo, um bom diálogo, e ignorar suas próprias responsabilidades, é outra ação exposta para que avaliemos, numa perspectiva externa como espectadores... mas que no fundo, sabemos que é uma lição para nós mesmos.

Por fim, o ciclo interminável de existência profissional é o que encerra nossa experiência. Vemos alguém surgir para existir, aprender, se desenvolver, cumprir suas funções e morrer. Apenas isso.


Nossa vida resume-se a nascer, crescer, aprender, se desenvolver, cumprir nossas funções e morrer.

E dentro deste ciclo, o que nos resta é apenas abrir os olhos, olhar além de nós mesmos, e pensar o que mais podemos fazer pra tornar nossa existência significativa, e não apenas um monte de casas fechadas numa rua sem fim.


É isso.

Obrigado pela leitura e,

See yah,



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