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SérieMorte: O Gabinete de Curiosidades - NÃO É de Guillermo del Toro

Com Guillermo del Toro assinando o projeto, e 8 diretores diferentes pra cada história, "O Gabinete de Curiosidades" é uma série antológica estilo "Além da Imaginação" que surpreende e aterroriza.

Falarei a respeito dela, sem grandes spoilers.

Boa leitura!

O que aconteceria se misturassem "Silent Hill" com "Além da Imaginação"? Nasceria "O Gabinete de Curiosidades", pelo menos foi isso que pensei no primeiro episódio... até me frustrar no segundo... e ir afundando nas sensações até o final, onde terminei com a sensação de "Ah, bacana". Cada episódio vai escalando com o anterior, dando um passo pro terror e horror, seja pra frente ou pra trás.

Quem diria que Guillermo del Toro um dia poderia ter produzido um dos SHs mais promissores na história dos vídeo games (afinal ele estava no projeto Silent Hill S), eis que finalmente veríamos algo parecido resultante de sua perturbadora criatividade, em um âmbito levemente diferente dos seus famigerados filmes... se bem que nem Tudo está apenas nas mãos dele né.

A impressão que tive aqui é que a Netflix se sustentou no nome de peso do diretor, pra alavancar a nova série, sendo que na prática, ela pouco tem a ver com ele. Ela segue um formato muito semelhante ao de "ABC da Morte" (na minha opinião um dos piores filmes antológicos já existentes) com uma mistura de diretores e roteiristas com ideias bem distintas, mas todos guiados pelo Del Toro no corte final de suas obras.

Tanto que, muitas vezes parece que as "criaturas de Guillermo" estão presentes como exigência dele (ou da plataforma de streaming), para ter alguma semelhança entre os contos, nem que seja só por 1 segundo.

Nesse formato antológico, ele oferece seus talentos como curador de 8 histórias de terror, com média de 1 hora ou 30 minutos cada, e situadas em condições bem diferentes. E, apesar dele não ser um bom ator (a forma como ele apresenta é um pouco esquisita), sua ideia é bem mostrada e consegue alcançar seu objetivo.

Antes de tudo devo dizer que, a ideia de terror antológico, Ainda mais com alguém narrando, não é nem de longe uma novidade, pois assim como citei, é uma fórmula já usada em "Além da Imaginação", incluindo o remake de Jordan Peele (que também assume a posição de apresentador), dentre várias e várias outras séries como "Goosebumps", "Contos da Cripta", "Channel Zero" e até as mais modernas como "Black Mirror" ou "Dimension 404".

No entanto notei uma semelhança ainda maior com o modelo usado na franquia recente de jogos chamada "The Dark Pictures Anthology" (do qual fiz artigo recente por isso está fresco em minha mente), que vem lançando episodicamente justamente isso, histórias narradas por um cara em comum, e ambientadas em pontos bem distintos, com terrores diferentes.

Inclusive, mesmo a Netflix tendo como padrão o lançamento de séries já com todos seus episódios disponíveis, aqui ela optou pelo estilo semanal, e até oferece um trailer ao término do primeiro episódio, nos mostrando um pouquinho do terror que nos aguarda.

Vi exatamente o mesmo na proposta de "The Dark Pictures Anthology - Man of Medan" ao apresentar "Little Hope" no final (que seria a continuação, em uma nova história), assim como sua ideia de criar uma franquia de antologias de Escolhas e consequências.

Mas, o ponto não é esse... Na verdade estou apenas divagando pois, a série é boa, apesar de simples.

Mesmo sabendo que se trata de terror desde o início, as peças chave dadas no começo com a apresentação de suas histórias pelo próprio curador, não são nada indicativas do que nos espera.

Claro que, nem tudo é perfeito, e há algumas enrolações aqui e ali, e algumas falhas dos diretores, mas no geral, esta série entrega um bom terror, com sustos, agonia, efeitos, e tormentos no mínimo decentes, todos coordenados por Guillermo del Toro.

Guillermo em Hellboy

Pior que esse diretor/roteirista/produtor/"maquiador" não trabalha exclusivamente na área do terror, tendo adaptações de quadrinho no cinema como "Blade 2", "Hellboy" e "Hellboy 2", ou o romance fantástico "A Forma da Água", ou então o filme de kaijus (monstros gigantes) "Círculo de Fogo". 

Mas, na minha opinião as obras que chamaram bem mais a atenção (ainda mais por suas maquiagens) foram o famosíssimo "Labirinto do Fauno", "Mama" e "Historias Assustadoras para Contar no Escuro". Apesar de variar sua participação como Roteirista, Diretor e Produtor, sua maior assinatura está na direção de Maquiagem, e sua criativa tendência nefasta.

Vemos muito disso aqui, pois é impossível não notar o toque dele nas figuras assombrosas que surgem, mesclando efeitos práticos com especiais, e movimentos contorcionados de seus atores. É um verdadeiro espetáculo do horror... temporário.

Cada história tem seu próprio diretor, e roteiros variados também de pessoas diferentes, mas tudo acaba seguindo um padrão do Guillermo (que aqui mais funciona como produtor pelo que vi). Cada uma das horas investidas nessa série, são um razoável investimento, e caso você não se assuste, pelo menos conhecerá ótimos contos de terror.

Aliás, revelarei aqui sinopses críticas do que observei nos episódios. Não terão muitos spoilers, mas caso não queria perder nenhum pouco da surpresa, pule essa parte e corra pra assistir!

Lote 36 - de Guillermo Navarro

O primeiro conto fala de um homem com ideologias perturbadas, que vive de Compra e Revenda de Lotes Leiloados (Tipo aquela série "Quem Dá Mais" do History Channel). Preso em uma dívida, ele acha que encontrou a solução de seus problemas em um lote novo e misterioso, que no fim revela um segredo diabólico.

Este conto é puro suspense, e é improvável que antecipemos o desfecho ainda mais com a introdução levemente disfarçada. 

Ele nos induz a acreditar que tudo está relacionado a conflitos de guerra, ainda mais reforçando o enredo com um protagonista ex-militar e com traumas físicos e mentais. Nem sentimos o final chegar e quando chega, é direto, cruel, e preciso.

Sua narrativa é repleta de suspense, e nos conduz por uma atmosfera misteriosa e perturbadora, flertando com conceitos do terror social mas, entregando a boa e velha reviravolta macabra e horror satânico.

Ratos de Cemitério - de Vincenzo Natali

Um coveiro tagarela, metido a historiador e ambicioso, tem o hábito de exumar corpos para reaver os pertences dos mortos, e assim lucrar um pouco vendendo suas preciosidades no mercado negro. Porém, ele passa a enfrentar Ratos que surripiavam suas mercadorias erronias, até se deparar com a origem de todo o mal, e pagar caro por sua ganância.

Apesar de inicialmente a obra contar com uma pseudo-metáfora, apontando outros trombadinhas como possíveis "ratos" concorrentes ao "rato" principal, tudo se perde quando a trama passa a apostar em alucinações, criaturas monstruosas gigantes e até zumbis (completamente aleatórios à história em si). Tudo isso é enfeitado com humor negro e uma câmera nervosa incapaz de se estabilizar, o que torna a experiência arrastada e confusa de se acompanhar.

Este conto tem uma direção puxada pra humor, mas um humor sórdido. Parte deste se deve ao protagonista ser falastrão, o que desvia nossa atenção do terror. Sem contar que, os efeitos especiais são mais identificáveis aqui, e os ratos que muito aparecem são evidentemente digitais. Isso também retira um pouco da imersão na obra. Sem contar que, há os monstros também, criaturas que surgem no terceiro ato e, não foram das mais inspiradas até então, mesmo usando mescla de efeitos práticos, maquetes, maquiagem e digitalização.

Um ponto bastante negativo é o jogo de câmera, que muitas vezes fica caótico e torna a composição da cena desajeitada e difícil de entender. O encerramento por exemplo, da pra entender, mas sofreu cortes que o fizeram soar como inserido de última hora, só para chocar. Chega a funcionar, mas foi fraco. Aliás, este é o único episódio com 30 minutos apenas.

A Autópsia - de David Prior

Talvez um dos melhores episódios da série, este mescla horror visceral com horror cósmico, lembrando muito obras do H.P. Lovecraft. A princípio Guillermo faz questão de esclarecer que é uma história que gira em torno de um gravador, uma autópsia e principalmente, seres do espaço. Mas tudo que vemos ao começar é uma história de atentado numa mineradora, e uma posterior investigação policial.

É difícil adivinhar as respostas, mesmo já tendo dicas da trama em preliminar, e o que surpreende é que ao terminar, o episódio consegue expor e explicar com maestria todos seus pontos mais bizarros e antes incompreensíveis.

A etapa final, onde a ameaça dialoga com a vítima, enquanto bota a mão na massa pra que seus planos sejam bem sucedidos, é sem sombra de dúvidas o ponto alto da obra. Tudo isso seguido por cenas lentas e horripilantes de autópsias sendo feitas sem o menor pudor, é notavelmente perturbador.

Seu ritmo lento, e repleto de diálogos, pode até soar desanimador de início, mas conforme a trama vai se estabelecendo e encaminhando para o encerramento, mesmo com todas as respostas e já sem quaisquer dúvidas, ainda nos vemos paralisados diante da tela, aguardando pela solução. E... é de dar medo como tudo se resolve, sem ser bom ou ruim, apenas resoluto. 

E como sempre, maquiagens se destacam bem, sendo este mais voltado pros corpos dos mortos e a criatura cósmica que, assustam de tão bem feitos. Talvez um ponto falho sejam os efeitos digitais na etapa final, que não são ruins, mas poderiam ser trocados por efeitos práticos (dando ainda mais agonia e imersão... como a cena dos olhos). Mas só o conceito já é o bastante pra impactar, o que faz dessas cenas boas, mesmo perceptivamente "falsas" pela artificialidade plástica, característica dos efeitos digitais.

Por Fora - de Ana Lily Amirpour

Esquisito, mas funcional. O que aconteceria se os produtos da Jequiti fossem do mal? Pelo menos foi isso que vi aqui, e gostei.

Uma mulher, casada, que ama praticar Taxidermia (empalhando bichinhos que ela mesma mata!), e é bem empregada em um Banco, acaba sentindo inveja das colegas e simplesmente decide mudar, fisicamente. Mas não, não é nada tão previsível quanto ela usando suas técnicas em taxidermista em si mesma... não... as coisas vão muito além.

Repleto de pistas falsas do que nos aguarda, inclusive o equivocado prelúdio feito por Guillermo del Toro no início, que quase parece não ter compreendido a mensagem deste "curta" em particular, este episódio é totalmente alucinado, e focado em percepções.

Confesso que foi o que mais me causou desconforto, não só pelo tipo de filmagem que usa (câmeras distorcidas, muitas vezes tão próximas dos rostos dos atores que quase entram em seus corpos), mas pela grotesca construção das cenas, onde alguns momentos apelam forte pra nossas sensações físicas (quem já teve crise alérgica vai morrer de agonia).

A moça, mergulha (literalmente) numa jornada completamente alucinada, por substâncias que corrompem sua mente, assim como seu corpo. Nada tem a ver com "televisão" e "controle" como é dito no início, apesar de que, de certa forma, ela perde sim o controle de si mesma.

Ele perturba, espanta, e ainda termina nos fazendo questionar se tudo foi real, ou se ela ainda está presa em sua alucinação. E nessas horas percebemos como é importante ler a bula dos remédios que tomamos, antes de usar. Tadinha da protagonista...

Protagonista essa que foi uma perfeita escolha de elenco. Ela realmente da cara à obra... outra vez dando destaque pra maquiagem. Qualquer sensação desconcertante que sinta, é proposital e mérito do perfeito casamento dessa história, com essa atriz. E... eu fiquei tentando lembrar onde já havia visto ela antes, e mano, é a Kate Micucci, que interpretou Lucy em Big Bang Theory (a namorada do Raj que vivia fugindo e tinha medo de multidões, e foi quem o curou do medo de conversar com mulheres), só que com um monte de maquiagem pra parecer bem diferente de como realmente é.

Aliás, este episódio tem bastante violência gráfica, apesar de também ser bem psicológico.

Observação com SPOILER: O final... que final. Meio que... não importa se você olhe como se tudo fosse real, ou pura loucura da mente dela... os dois finais possíveis acabam sendo assustadores, pois partem daquele momento em que ela já não tem mais volta. As ações dela pela alucinação são irreversíveis, tanto o que ela causa aos outros, quanto a si mesma. Mas, fica subentendido que ela simplesmente nunca saiu da banheira, a mente apenas surtou de vez.

Modelo de Pickman - de Keith Thomas

Forte... mas de péssimo gosto. Tô com tanto medo que vou até falar mal pra aliviar a tensão.

Creditado como inspirado em uma obra de H.P. Lovecraft, essa é uma história bastante voltada pro surrealismo. Sustentando-se no choque, ela se auto sabota com o abandono do suspense, e a consciente abordagem nua e crua do literal, sem abertura pra imaginação ou interpretação.

Um retratista, ainda no período de escola (durante o século 19), conhece um novo colega chamado Pickman, que ao invés de retratar a beleza do mundo, faz o oposto, pintando o que há de mais horripilante de forma surrealista. As coisas pioram quando suas obras passam a afetar a percepção dos demais, trazendo a tona o feio, e expondo o medo.

Em tese, este é um baita episódio, mas ele não usa metáforas nem nada semelhante (o que acho que combinaria bem), muito menos aborda as artes macabras de forma insinuante ou alegórica. Ele apenas entrega aquilo que as obras mostram, sejam por alucinações, sejam por pesadelos, ou indução àqueles que as viram. O que Pickman pinta, realmente ocorreu, ou vai ocorrer (fazendo as pessoas imitarem) e a parte medonha tá nisso: Ver o que aparece de mais bizarro nos quadros, virando realidade por ações forçadas e injustificadas.

Só que, o mistério morre ainda na metade, e o tempo do episódio parece muito mais longo do que deveria. Quando as obras começam a se tornar reais, queremos que tudo acabe e mal nos impactamos com as terríveis revelações... pelo menos não tanto quanto seria caso não nos tivessem enrolado tanto.

O final, onde uma das obras mais duvidosas apenas vira verdade, é sem qualquer dúvida algo muito sombrio e macabro, mas não tem um bom encaixe. Senti que ele foi posto desnecessariamente sob um suspense intenso, que me deixou perplexo, apreensivo e ansioso, mas também me fez sentir traído em minha expectativa por surpresas, não correspondida. De fato ele foge ao clichê de entregar o oposto do que esperamos, fazendo exatamente aquilo que imaginamos, mas é exatamente por isso que ele deixa aquela sensação de que o protagonista demorou muito, pra descobrir o que ele já sabia, assim como nós.

E nela tem de tudo um pouco, bruxaria, canibalismo, monstros, tortura física, esquartejamento... vish a coisa vai longe. Fazem questão de entregar o mais absurdo numa bandeja e, me senti enojado. O problema desse episódio não ta no horror, que funciona muito bem, mas na razão do horror ocorrer.

Um erro de narrativa, que não aproveitou bem o que o enredo, roteiro, efeitos sonoros, visuais (esforçados vai) práticos e principalmente, a excelente atuação (com destaque maior pro Pickman e o protagonista) tinham a oferecer, e se arrasta tanto que nos perde, deixando somente o amargor do espanto. 

Mas, apesar de muitas coisas sem nexo (tem criaturas postas em cena que saltam aos olhos, claro, mas ao mesmo tempo sobram, servindo apenas pra justificar as bizarras imagens dos quadros, mas não para justificar elas próprias ali), é um episódio curioso, que no mínimo termina do jeito que não gostaríamos (e isso é bom, tratando-se de horror).

Sonho na Casa da Bruxa - de Catherine Hardwicke

E se o Rabicho se vingasse do Rony Weasley? Foi algo assim que vi nessa inusitada história de terror, que ironicamente usou Rupert Grint como protagonista, num conto sobre Bruxas e Fantasmas, e claro, Ratos Falantes!

Um jovem que perdeu sua irmã gêmea ainda na infância, e teve um vislumbre ligeiro do outro mundo (ao vê-la passar pelo plano astral como fantasma) cresce dedicado a provar que o outro mundo existe. Então, um dia, ele encontra em uma droga a oportunidade de ver sua irmã novamente, e sem qualquer razão correlata, ele descobre a existência de uma Bruxa antiga que, supostamente sabia como atravessar pro outro mundo.



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