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AS ORIGENS DO ATEÍSMO – 1ª parte

ANTES DAS RELIGIÕES

A mentalidade primitiva era monista. Não distinguia o natural do sobrenatural, entre a física e a metafísica. O humano e o seu ambiente formavam um uno, que pode ser definido pelo termo polinésio “Mana”, que não significa uma realidade em si, mas sim, uma estrutura de consciência que nos faz agir intuitivamente como se os objetos que nos rodeiam estivessem carregados de intenções a nosso respeito. Trata-se, portanto, de um dado bruto, que não tem nada a ver com um sentimento do divino ou do sagrado. Mas esse modo de consciência reanimista pode gerar dois tipos de atitude:

  • A magia: se o pode é atribuído ao próprio objeto.
  • A religião: se o poder é atribuído a um espírito que dirige o objeto, resultando em teísmo e, portanto, na religião.

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Qual a origem dos mitos, das crenças e da não-crença? 

O que surgiu primeiro, a crença ou a não crença? Poderia ter surgido um no mesmo instante em que o outro surgiu? Escutem esse episódio supimpa em que o Alexandre S. Uhryn faz uma viagem no tempo desde a pré história da humanidade para tentar desvendar esses mistérios. 

Do pré-animismo, onde o homem e o mito se misturavam e o questionamento metafísico ainda não fazia parte da humanidade, passando pela Grécia antiga e seu politeísmo tolerante, assim como Roma antiga e chegando na Idade Média.  Como a crença construiu o caráter social humano e quais foram os questionamentos que surgiram com a crença durante todo esse período.  

Assim como crenças diferentes estimulavam perseguições, ateus, agnóstico e questionadores das crenças ditas como “sagradas” também foram duramente perseguidos e, por muitas vezes, pagaram com a vida por defenderem uma visão materialista, científica e tolerante da vida. 

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Voltando à leitura

Ou seja, na origem, o mito é um modo de ser no mundo, a maneira do humano de viver uma inserção em dado ambiente, que age sobre ele e sobre o qual ele age. Nesse estágio, o mito não é teoria, nem lenda, nem um símbolo, é um gênero de vida, um modo de ser. O homem primitivo estava imerso na realidade mística, não há distinção entre o religioso e o profano, entre o natural e o sobrenatural, não existe ateu ou religioso.


SURGE A RELIGIÃO

O momento decisivo é aquele em que emergem a razão e a consciência em si. Quando a inteligência intervém, o humano começa a separar, dissociar, classificar, o que até então era uno. Assim, começa a opor o eu e o mundo, o profano e o sagrado, o mito pensado e o mito vivido. Com isso, nasce a atitude religiosa, onde o sagrado primitivo místico é organizado pela inteligência num “logos”, que tende a explicar o mundo por um relato que isole o sagrado do profano e ao mesmo tempo os una por elos eficazes, como sacramentos, símbolos e rituais. Como não é vivido, mas pensado, o mito se torna objeto de fé e pode igualmente ser rejeitado.


O estágio religioso evolui sob o efeito das condições socioculturais e pode levar a quatro tipos de atitudes:

  1. Grandes religiões tradicionais: quando o dado revelado supera o aspecto racional, codificando e ordenando um certo número de dogmas, dirigidos por um clero, e afirma a existência de um ou mais deuses, que intervém nos negócios humanos e impõem uma moral.
  2. Deísmo: quando o elemento revelado é negado em provento da simples afirmação de uma divindade transcendente, mas sem os dogmas organizados.
  3. Panteísmo: a Transcendência é negada em provento de um “grande todo”, um princípio organizador não pessoal, que pode ser naturalista ou espiritualista.
  4. Ateísmo teórico: quando toda noção de divindade, finalidade, transcendência e alma imortal é negada.

Conforme o grau de importância que a ação religiosa adquire no decorrer da evolução sociocultural, a atitude mágico-supersticiosa pode desembocar em quatro situações diferentes:

  1. Integração: Onde a luta das autoridades religiosas contra as superstições e a magia pode contribuir para a integração no interior das grandes religiões de um certo número de espectros supersticiosos satisfeitos com a dose de magia contida em todos os grandes cultos.
  2. As seitas: Surgem quando se aceita a revelação de um profeta, mas não os dogmas fundamentais contidos na grande religião formada em tono desse profeta.
  3. Esoterismo e o ocultismo: quando a crença é orientada para a ação terrena por meio da captação de forças invisíveis naturais ou sobrenaturais.
  4. O ateísmo prático: surge quando o aspecto prático exerce um domínio exclusivo, sem qualquer referência ao sobrenatural.

OS FILÓSOFOS GREGOS QUESTIONAM A VALIDADE DAS RELIGIÕES

Os filósofos gregos tentaram explicar o Universo de uma forma materialista. Heráclito, que viveu no século VII a.C., propôs uma concepção cíclica de um universo autônomo, que, pela eternidade, se inflama e se apaga. Parménides de Eleia, que viveu no século VI a.C., é o “pai do materialismo”, ao propor que o Universo é o todo, único, imóvel, indestrutível. Em Empédocles de Agrimento, que viveu no século V a.C., determinou que “nada se cria, tudo se transforma”.

Leucipo, nascido em 500 a.C, e seu discípulo Demócrito, nascido por volta de 460 a.C., propõem que a realidade última é o átomo, uma partícula ínfima, material e indivisível, animada desde sempre de movimento, que se combina para formar o Universo, o humano e até os Deuses. Demócrito foi mais longe do que outros filósofos ao ensaiar uma explicação psicológica para o fenômeno das crenças religiosas, negando qualquer valor a ela. Segundo ele, “explicar é desmistificar”. O materialismo de Demócrito foi acolhido pelos intelectuais gregos e foi transmitida por uma corrente de pensamento que chegou até o século III a.C., até Epicuro.


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O FIM DA LIBERDADE FILOSÓFICA

A liberdade de pensamento dos filósofos gregos durou até o século V a.C., até ser criado um decreto, a pedido de Diopte, um adivinho preocupado com a importância que as especulações filosóficas tinham alcançado em Atenas, determinando a perseguição de todos que não acreditassem nos deuses reconhecidos pelo Estado. A primeira vítima do decreto foi Anaxágoras de Clozómena, morador de Atenas desde 462 a.C., mestre do estadista Péricles e famoso por seus estudos sobre fenômenos meteorológicos, geológicos e astronômicos. Ele foi acusado de Impiedade (nesse caso, a palavra tem o sentido de “sem fé”), por ter tentado compreender os mistérios divinos, ou seja, os fenômenos naturais.

O matemático Teodoro de Cirene, tornou-se o típico descrente, a ponto de receber o apelido de “Ateu”. Ele era aristocrata, expulso de sua cidade natal por motivos políticos, instalou-se em Atenas, onde sua liberdade de espírito e costumes causou escândalo. Ele julgava que os sábios estavam acima da moral comum e que não tinham necessidade nem de amigos, nem de pátria, nem de deuses. Foi julgado e, provavelmente, banido de Atenas, no fim do século IV a.C.

O mais famoso dos condenados foi Sócrates, um dos pais do pensamento europeu, cujo texto de acusação foi apresentado, em 399 a.C, por Lícon (um retórico obscuro), Ânito (um líder democrático, cujo filho era discípulo de Sócrates) e Meleto (um poeta trágico desconhecido):

“Sócrates é culpado de não acreditar nos deuses reconhecidos pelo estado e introduzir novas divindades. Além disso, é culpado de corromper os jovens. Castigo pedido: a morte”


As novas divindades seriam uma alusão as palavras de Sócrates sobre seus “demônios”. O filósofo teve a opção de escolher entre o exílio eterno ou ter a língua cortada, caso não aceitasse seria condenado à morte. Escolheu a última:

“Vocês me deixam a escolha entre duas coisas, uma que eu sei ser horrível, que é viver sem poder passar meus conhecimentos adiante. A outra, que eu não conheço, que é a morte…escolho, pois, o desconhecido”.

Sócrates

Ele morreu, cercado por seus seguidores, ao tomar o veneno.


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PLATÃO E O ATEÍSMO

Já na primeira metade do século IV a.C, o número de descrentes na Grécia era considerável em todas as camadas sociais. O testemunho de Platão sobre isso é essencial. No Livro X de suas “Leis”, Platão trata o ateísmo como um grande problema de Atenas e sugere medidas severas contra eles. Pode-se considerar que Platão está na origem pejorativa que pesará sobre o ateísmo nos dois mil anos seguintes, estabelecendo um elo entre a descrença e a imoralidade. Platão classificou os Ateus em três tipos:  os que não creem em nada; os que creem, mas acham que os deuses são indiferentes aos humanos; e os que acreditam que podem seduzir os deuses a mudar de ideia através de orações e sacrifícios.

Para Platão, os ateus eram o fermento para a dissolução social e os corruptos da juventude. Ele distinguiu o grau de ateísmo: os ateus cuja conduta é correta e são perniciosos apenas por suas ideias; e os ateus imorais. Para o primeiro tipo ele propôs cinco anos na “casa de penitência”, onde seriam reeducados, e para o segundo tipo propôs a prisão perpétua. Ao mesmo tempo, ele criou a intolerância religiosa, a inquisição e os campos de concentração. Ainda, segundo ele, o mesmo valia para os mágicos e feiticeiros, que tentavam manipular os deuses.


A CRISE RELIGIOSA GREGA

A crise religiosa grega se acentuou na segunda metade do século IV e durante o século III a.C. As agitações políticas e o fim da independência das cidades-estados, após a conquista da Grécia pela Macedônia, acabaram com a religião cívica, favorecendo as religiões individuais, o ceticismo, o ateísmo e o ocultismo. O estoicismo panteísta e o ateísmo teórico progridem, assim como as seitas, os cultos de mistérios, as práticas mágicas e a bruxaria. Os Deuses do Olimpo desapareceram do culto doméstico e foram substituídas pelo culto dos soberanos divinizados.

Para os sofistas, o homem era a medida de todas as coisas. Para muitos estoicos, os deuses eram simplesmente pessoas célebres divinizadas no passado. Isso foi proposto por Evêmero (340-260 d.C.), que no seu “Relato Sagrado” diz que Zeus, por exemplo, teria sido um soberano sábio e benevolente divinizado após sua morte. Sua teoria é conhecida como Evemerismo.

Para Epicuro (341-270 a.C) tudo era feito de átomos, inclusive os deuses, que eram completamente indiferentes à condição humana. Segundo ele, os deuses não criaram o mundo e a vida humana acabava com a morte. Epicuro, durante séculos, será o pesadelo do cristianismo, e os cristãos chamavam os descrentes de “porcos de Epicuro. O mais célebre continuador das ideias de Epicuro foi o romano Lucrécio (100-50 a.C), que, em seu longo poema “Da Natura Rerum” (“Sobre a Natureza das Coisas”), mostrou que os deuses eram criações humanas para fenômenos naturais e os temores dos humanos por eles. Para Lucrécio, Epicuro salvou a humanidade da religião.

Com a conquista da Grécia por Roma, no século II a.C, o estoicismo, o epicurismo e o ceticismo invadiram Roma e foram adotados pelos intelectuais romanos. Enquanto isso, o povo romano se rendia à superstição e às religiões estrangeiras. Assim, a religião tradicional romana também entrou em decadência.


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Há dois mil anos, o limite entre a crença e a descrença era tão vago e impreciso quanto hoje em dia. Nesse período, diversos deuses conviviam com crenças astrológicas, com o monoteísmo judeu, com as doutrinas epicurista, estoica, platônica, neoplatônica, cínica, cética, e a religião greco-romana oficial não passa de um quadro formal e cívico, sem nenhuma condição de assegurar o mínimo controle sobre a fé.

A pergunta nesse caso é “como esse caos religioso não resultou no fim das religiões e da crença nos deuses, resultando numa generalização do ateísmo?”.


Surge o Cristianismo

Como da variedade de crenças propostas, os europeus seguiram a direção da crença aparentemente mais absurda, a de um deus todo-poderoso, que se fez humano, para morrer numa cruz e ressuscitar?

Paulo de Tarso (cerca de 5 a 67 d.C), o São Paulo, foi para Atenas, por volta de 50 d.C., para pregar sua doutrina. Os filósofos estoicos e epicuristas, sempre abertos às novidades, deram atenção às suas explicações, até o momento em que elas saíram do racionalmente aceitável: a ressurreição dos mortos. Por essa questão, os cristãos foram considerados ateus no mundo pagão.

Os cristãos foram perseguidos por diversos imperadores romanos, sendo que Nero (imperador entre 54 e 68), Domiciano (81 a96), Trajano (98 a 117), Marco Aurélio (161 a 180), Septimo Severo (193 a 211), Dioclesiano (284 a 305) foram os principais. A perseguição era mais política do que religiosa, pois os cristãos não aceitavam os deuses oficiais e a divinização dos imperadores. Além disso, o cristianismo obteve enorme sucesso entre os excluídos da sociedade romana, principalmente entre as mulheres, os mais pobres e os escravos.

A situação dos cristãos no Império Romano começou a mudar em 313, quando o Imperador Constantino (imperador entre 307 e 337) publicou o “Edito de Milão”, que concedia liberdade de culto aos cristãos em todo o império. Não é verdade que Constantino se converteu ao cristianismo, pois ainda tinha deveres com a religião tradicional, mas sua primeira esposa, Helena, era cristã, seus filhos foram educados na fé cristã e, a partir dele, o cristianismo foi adotado por imperadores futuros. Até que, em 390, o Imperador Teodósio, que governou entre 379 e 395, tornou o cristianismo a religião oficial do Império, através do “Edito de Tessalônica”. Depois disso, a igreja católica se espalhou por toda a Europa.


A redescoberta dos poderes da razão

A partir do século XII, os intelectuais cristãos redescobrem os poderes da razão através das traduções, do árabe para o latim, das obras científicas e filosóficas gregas. Mas esses filósofos gregos eram céticos, agnósticos, panteístas, ou mesmo ateus, então, o que os filósofos cristãos buscavam em suas obras eram explicações científicas e técnicas lógicas, pois para a fé já possuíam as Escrituras. Destaca-se nesse período a Escola de Chartres, no noroeste da França.

Escola de Chartres

Os mais fanáticos religiosos, porém, como Bernardo de Claraval (1090-1153), o São Bernardo, viam nessa curiosidade pelos escritos antigos como uma ameaça para a Igreja. A teologia cristã tinha uma base Neoplatônica, totalmente inversa à Filosofia Aristotélica, que voltava à tona.

Não demorou muito para que dogmas cristãos, como a ressurreição, a gênesis, a imortalidade da alma, a trindade, fossem contestados. As cortes, como a de Federico II (1194-1250), que acumulou os títulos de Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, Rei da Itália e de Jerusalém, eram focos dessa liberdade de pensamento. Federico II era ávido pela procura da verdade e consultava livros antigos e filósofos, não só cristãos, mas também judeus e muçulmanos. Afonso X, o sábio rei de Castela, seguia de forma semelhante.

As tentativas dos sábios cristãos de provar a existência de Deus foram infrutíferas, não passavam de argumentos. Essa tentativa continuou pelo século seguinte, mas, a partir do século IV, com a impossibilidade de conseguir uma prova científica, passou-se a aceitar a verdade mística, que estava acima da compreensão humana. Por outro lado, a procura por explicações racionais avançou em todos os lados e, cada vez mais, passou a ameaçar a ordem sociorreligiosa vigente.


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