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Hayley Williams lança 2º e mais introspectivo disco da carreira solo, Flowers for Vases/descansos

“Sem mais música para as massas”, resume a vocalista da banda Paramore, Hayley Williams, em uma das faixas do seu mais recente Disco solo, o segundo da sua carreira, “Flowers for Vases/descansos”. A frase é uma síntese do que o disco se propõe: uma fuga a todo que permeia o universo do mainstream e muito provavelmente o retrato mais honesto e, talvez, o mais vulnerável da artista até então. 

Em “Flowers for Vases/descansos”, Hayley revisita todos os seus “descansos”, que nada mais são do que os momentos de ruptura de sua vida. Enquanto em Petals for Armor, seu disco antecessor, Hayley se arrisca num som mais experimental, sob influência de artistas como Bjork e Radiohead, seu segundo disco solo revela as fragilidades de um rompimento e as sequelas que chegam junto do pacote.

O disco, totalmente autobiográfico, contém 14 faixas, todas produzidas e compostas pela artista em sua casa, em Nashville, nos Estados Unidos. A roupagem minimalista, que muito se aproxima do folk acústico, se distancia do que foi proposto no álbum antecessor, cuja sonoridade flerta com o synthpop, um subgênero do movimento new wave, conhecido pelas melodias marcadas por sintetizadores. 

Porém não se engane: “Flowers for Vases” não é uma continuação da narrativa apresentada em “Petals For Armor”. Segundo a própria artista, o disco funciona mais como um “prólogo” ou algo que se encaixaria no meio de seu álbum de estreia, do que uma sequência propriamente dita. Em “Flowers for Vases” não há espaço para o otimismo. Apenas a honestidade nua e crua e a coragem necessária para enfrentar as piores partes de si mesma antes de seguir em frente rumo à recuperação.

Capa de ‘Flowers for Vases/descansos’ – Divulgação

O som acústico predomina ao longo de todo o disco, com acordes melódicos que transitam pelo violão, guitarra e, em muitos momentos, pelo piano. O álbum é como um convite para os sentimentos mais íntimos da cantora. As faixas discutem temas como o luto, a dor, a perda e o que sobra disso – ou o que vem com isso. Não à toa o título do projeto recebeu a palavra em espanhol “descansos”, como uma referência nítida às cruzes que são colocadas na beira de estradas para demarcar locais de acidentes fatais, que muito funciona aos caminhos inóspitos, que reservam uma lição. Hayley recorre a essa metáfora no título, mas o conceito permeia o disco inteiro. 

O disco começa com a faixa “First Thing To Go”, quando Hayley fala abertamente do período de pós-divórcio que passou em 2017 ao se separar do seu marido Chad Gilbert, vocalista da banda New Found Glory. Acompanhada majoritariamente pelo violão, Hayley canta sobre as memórias que se perdem aos poucos ou ganham novas leituras após a partida da pessoa amada. A frase que abre o disco “a primeira coisa a sumir foi o som da voz dele” muito dialoga com a ideia de que o amor se perde nas nuances, nos detalhes. Ela finaliza a música assumindo “Eu deveria esquecer, mas eu amo o que sobrou”.

O álbum prossegue falando sobre perdas e as angústias vividas em um término. Esse sentimento é amplificado em “My Limb”, que fala sobre o vazio deixado por uma pessoa que fazia parte da sua vida, como se fosse parte dela mesma. Nessa faixa, Hayley brinca um pouco com a sonoridade, arriscando no pop alternativo. Os vocais são acompanhados pelo som da bateria após o primeiro refrão e toda a canção é permeada pelo grave do piano.

Em “Asystole”, ela compara o fim de um relacionamento à “assistolia”, termo técnico usado para nomear uma parada cardíaca. A música começa com um violão suave e logo ganha outras camadas, como a bela sequência harmônica tocada no piano. Na faixa, Hayley diz: “O problema é que você se agarra a qualquer parte de mim que permaneça intacta”, outra frase que resume bem o conceito do disco, que muito discute a máxima de que tudo é mutável. 

Em “Trigger”, a artista faz uma inversão interessante de perspectiva, ao se questionar: “então é sobre isso o que as pessoas cantam quando elas finalmente encontram o amor?” Ela admite de forma dolorosa que tudo o que sempre quis foi a reciprocidade, mas também demonstra certa preocupação de um possível bloqueio criativo, caso encontre o amor genuíno.

“Over Those Hills” é uma das faixas mais completas do disco, que finaliza com um primoroso solo de guitarra, o único do disco.  Do ponto de vista temático, a faixa aborda um dos devaneios de uma segunda chance com a pessoa amada, “Quando você acorda, alguma vez deseja que eu estivesse com você? / Poderíamos olhar juntos para além das colinas para sempre”. Nessa faixa, Hayley brinca muito com a sonoridade dos recursos da voz, construindo uma espécie de mosaico de tons e sobreposições. É, sem sombra de dúvidas, uma das músicas mais cinematográficas do disco.

Hayley Williams lança 2º álbum da carreira – Divulgação

“Wait on” é um dos poucos respiros do álbum. Nessa faixa, Hayley aposta num arpejo e numa sequência de metáforas que traduzem o tom otimista: “O céu vai despertar toda manhã e às vezes, ele sente a necessidade de derramar todos os sentimentos que tem guardado, mas mesmo assim, ele nunca desaba, ele sabe o seu lugar.” Na sequência, “KYRH”, que mais funciona como um interlúdio. Nela, acompanhada do piano, Hayley fala sobre manter a outra pessoa da relação ao alcance.

Já em “Inordinary”, uma carta aberta sobre sua juventude, Hayley volta ao passado para contar um pouco da sua história, relatando o momento em que se mudou com a mãe para o estado do Tennesse, fugindo do padrasto abusivo. Em termos instrumentais, a música não entrega muita inovação, mas a letra compensa. 

“HYD” é uma das músicas mais densas do álbum. O violão acústico empresta o tom de melancolia que vai predominar ao longo da música, em trechos como: “Eu sei que é difícil para você aceitar um elogio, mas minha vida começou no dia em que você entrou nela”.

Em “Find Me Here”, lançada previamente numa versão mais enxuta no EP “Petals for Armor: Self-Serenades”, a cantora aborda a solidão e o crescimento pessoal que envolvem aquele momento em que ainda está se entrando em compasso  com o outro: “Enquanto eu te amar, você nunca estará sozinho”  soa como um hino atemporal, que se encaixa em diversas situações, como o erro do passe, mas a vontade de se estar perto e fazer dar certo.

O álbum se encaminha para o final com o interlúdio instrumental “Descansos”, composto com trechos de gravações antigas de fitas caseiras que muito se assemelham a um mosaico de fragmentos da infância de Hayley, que ressoa, a partir de várias camadas de vozes entrelaçadas, de modo etéreo. A música ainda nos presenteia com um singelo arranjo de piano.

O disco com “Just a Lover”, talvez a música que mais destoe em termos instrumentais. A faixa tem várias camadas e possui uma sonoridade que se reluz como um manifesto. A música cresce até ser complementada por uma banda completa de instrumentos, em que acordes de guitarra e bateria ganham a cena. Nessa música, Williams aborda suas experiências no cenário musical. Ela finaliza sua jornada atingindo um lugar de aceitação e consciência do que almeja, dizendo “Eu sei exatamente o que isso é, ou o que quer que tenha sido.” Talvez seja sobre isso.

Para os desavisados, “Flowers for Vases” não é de fácil digestão. O disco aborda algumas das angústias, incômodos e cicatrizes deixadas por um relacionamento. O que esse enredo nos reserva? Só os próximos capítulos da história nos dirá.



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