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Carnaval Digital: os rumos da folia em meio à pandemia

(Por Paula Assumpção)

‘O que será do Carnaval de 2021?’ é a pergunta que ecoa desde o ano anterior. O feriado mais esperado do país é também o responsável pelas maiores aglomerações e o mais difícil de controlar em meio à pandemia do Coronavírus.

Mas, se o momento é de reinvenção e adaptações de todos os tipos, há folião que não entregou os pontos e promete festa de um jeito diferente. Estamos falando de “Carnaval digital“, inciativas de vários grupos de samba e blocos carnavalescos em plataforma online que prometem trazer para a web a alegria da folia, em forma de resistência cultural, econômica e política. Se isso é mesmo possível é ainda difícil dizer, mas o “esquenta” já começou e movimenta tanto as redes como os bastidores do carnaval. 

Um exemplo de inciativa independente é o FoliON, idealizado pelos foliões cariocas Silvio Rodrigues e Ernesto Magalhães, que se apresenta como primeiro bloco de carnaval inteiramente digital no Youtube, Instagram e Facebook. Em seus cortejos virtuais, todas as terças-feiras, apresentam músicas de Carnaval, contam histórias e performam figuras icônicas com humor e boa dose de crítica social típica dos blocos carnavalescos.

Ernesto diz que as redes viraram “rua” e que, embora não tenha como substituir o calor das ruas na programação online, ficar em casa neste momento é uma questão ética. A proposta da dupla se trata mais de conscientizar as pessoas a manterem o isolamento social com alegria, aproveitando esse tempo para aprender coisas novas sobre carnaval e, como diz o próprio Ernesto, ativar suas memórias afetivas das festas de outros anos, do que trazer para a tela a mesma energia do bloco presencial. 

Mas não só de novidades vive o mundo digital. Homem da Meia-Noite, um dos mais antigos blocos de carnaval de Olinda, se prepara para também realizar um evento totalmente online em meio a um discurso pró saúde durante a pandemia. Ao mesmo tempo, artistas e profissionais do tradicional carnaval pernambucano lançaram o manifesto ACORDE em prol do carnaval digital como alternativa em um dos estados que mais recebe pessoas durante o feriado. 

Olhando mais a fundo esta novidade, as pesquisadoras do Laboratório Arquitetura, Subjetividade e Cultura – LASC, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luiza Freitas e Adriana Guilhermano comentam o movimento e o que acontece na frente e por trás das telas nessas iniciativas online. 

Luiza, pesquisadora do carnaval de Olinda, aponta os fatores que se perdem no formato remoto: “As ambiências carnavalescas são muito ricas em sensações, afetos, eventos e aberturas a novas possibilidades de agir e brincar com os outros. No carnaval, nosso corpo todo está inserido em uma esfera que interage e participa do meio, que se permite agir diferente, brincar e conversar com o estranho. Esta outra corporalidade do carnaval é tão particular que geralmente nossos corpos estão adornados, fantasiados, dançando em um ambiente improvável, geralmente, urbano.”

Mas aponta o lado sociopolítico da festa. “O carnaval é sem dúvida uma festa também política, desde seus tempos coloniais, ele vem sendo um lugar de disputa e reivindicação de narrativas. Em um momento como esse, acho que não será diferente”, relata a especialista, apostando que muitas manifestações devem surgir virtual e presencialmente principalmente durante este período.

Para além da manifestação cultural, uma questão que sempre surge sobre o tema é o impacto econômico do carnaval e os prejuízos de não se ter eventos presenciais. Adriana, que estuda rodas de samba femininas no Rio de Janeiro, explica como as mulheres do samba se organizaram e, através do Movimento Mulheres Sambistas, fizeram das lives uma forma de captar e redistribuir entre si os recursos financeiros em meio à pandemia e que esta união proporcionou uma maior visibilidade para as profissionais do samba e deve se repetir durante o carnaval.

O cancelamento da folia que é sustento de muitos artistas, entre tantos outros profissionais, gerou uma corrida tanto das rodas de samba como dos blocos de carnaval para financiar os eventos virtuais através de recursos públicos, via lei Aldir Blanc, e também privados, a exemplo das cervejarias que antes só patrocinavam grandes nomes do samba e do axé e começaram a voltar os olhos para os pequenos grupos, o chamado lado B do Carnaval. Essa mudança impacta não só os profissionais do samba e do carnaval, mas também os produtores de mídias digitais que antes não faziam parte das produções carnavalescas. É pequena, mas relevante, alteração na movimentação financeira da festa e uma ampliação das possibilidades mercadológicas do evento.

Deu para notar que este já é um Carnaval de novidades e mudanças visíveis e invisíveis ao grande público. Resta saber até que ponto o folião vai se contentar em brincar em frente a tela e se o carnaval entra ou não de vez na cultura do entretenimento online.



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