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‘Manifestantes’ e ‘vândalos’ têm cor?

(por Cristina Barbosa)

Na última semana, fomos surpreendidos pelas imagens da invasão do Capitólio dos Estados Unidos. De repente, a democracia americana foi colocada em xeque e chamada de “terrorismo doméstico” pelo FBI, quando dezenas de apoiadores do atual presidente Donald Trump se recusaram a aceitar a confirmação de que o novo presidente é Joe Biden, após vencer as eleições de 2020. Na confusão, cinco pessoas morreram e muitas outras foram presas.

Vale comparar esse fato com outro, em junho do ano passado, quando centenas de ativistas nos EUA foram às ruas após George Floyd, um homem negro, ter sido assassinado a sangue frio por um policial branco em Minneapolis. Em Washington, os protestos que ganharam o slogan “Black Lives Matter” (“Vidas Negras Importam”) aconteceram bem perto da Casa Branca e policiais militarizados, com armas, usaram substâncias parecidas com gás lacrimogêneo e força bruta para conter os manifestantes que agiam de forma pacífica.

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É curiosamente assustador perceber a diferença no grau de força e na rapidez de dispersão que se usou a esses diferentes grupos. No caso dos apoiadores de Trump, a maioria homens brancos, os policiais “pediram” para se retirarem, de forma pacífica, a tal ponto de permitirem que entrassem e invadissem as salas do Capitólio, onde faziam selfies e gritavam para mostrar a tal superioridade no ato.

Já no caso de Washington, rapidamente, surgiram mais de 5 mil membros da Guarda Nacional para conter os grupos que estavam apenas gritando palavras de ordem e justiça em frente à sede do governo.

Sabemos que, a cada escolha de palavras, tomamos partido. A linguagem apresenta seus preconceitos enraizados em diferentes palavras e assim acontece no meio jornalístico. Enquanto aqui no Brasil, “vândalos” são aqueles que vão às ruas e depredam os lugares, normalmente de classe mais baixa e oposta ao que a classe dominante ecoa, “manifestantes” são pessoas que têm o direito de expor seus pontos de vista, mesmo que também seja indo às ruas e depredando espaços públicos.

Muitas vezes, a escolha lexical se dá no campo racial, especialmente quando a maioria dos “vândalos” é negra e a maioria dos “manifestantes” é branca. Em inglês, o mesmo acontece: “protests” são protestos de quem têm esse direito democrático, enquanto “riots” são os mesmos protestos, só que vindo de pessoas negras e, normalmente, associados a palavras como “violência” e “combatidos”.

Da próxima vez que ler alguma notícia sobre protestos, observe: a diferença entre manifestantes e vândalos, muitas vezes, está apenas na cor de sua pele.



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