Get Even More Visitors To Your Blog, Upgrade To A Business Listing >>

Violência contra a mulher: quando o ‘príncipe’ vira carcereiro

(Por Cristina Barbosa)

As histórias se repetem: tudo começa muito bem. São flores em um dia, chocolates no outro e em alguns casos, até mesmo um anel de compromisso. O “príncipe encantado” parece ter finalmente aparecido.

O tempo passa e pequenas diferenças começam a surgir. Agora, ele reclama do tempo que você está entre amigos, discute quando percebe olhares direcionados a você, pede que troque a saia por uma calça “porque quer te proteger” e levanta o tom de voz em qualquer discussão boba. Você nem percebe que tem alguma coisa errada. Afinal, você pensa: “todo relacionamento é assim, né?” Bem, a verdade é que não, não é por aí.

Quando um homem abusa de uma Mulher dentro de um relacionamento, tudo começa de forma muito sutil, quase que imperceptível. É necessário ter os olhos bem abertos para perceber que essas crises de ciúme e cenas de agressividade são portas de entrada para a violência, tanto psicológica quanto física.

Unsplash/ Mehrpouya H

Vivemos numa sociedade patriarcal, onde a figura masculina tem um peso muito maior do que a da mulher. Frequentemente, associa-se a figura feminina às emoções em excesso e à falta de controle emocional. Esse senso comum repetido por gerações faz com que os homens duvidem do que as mulheres dizem (e, muitas vezes, as próprias mulheres fazem isso).

É como se a nossa palavra tivesse menor valor. Somos constantemente questionadas: “foi isso mesmo?”, “você não está exagerando?”, “tem certeza que não viu demais?”. O machismo estrutural ainda faz com que a mulher se sinta culpada, mesmo nos casos em que ela é a vítima. Ouvimos desde pequenas: “mas tinha que ter saído com esses shorts?”, “será que você não provocou o rapaz?”, “apanhou porque pediu, né?”.

A criação da Lei Maria da Penha, há mais de 14 anos, teve como objetivo endurecer as punições contra as violências sofridas pela mulher. Apesar de ter sido um marco importante para o Brasil, ainda não é suficiente. Medidas protetivas e mandados de prisão ainda não funcionam na prática e, em 2021, dezenas de mulheres continuam morrendo vítimas de seus supostos príncipes encantados.

Durante as festas de fim de ano, seis casos ganharam repercussão nacional: mulheres de diferentes idades e classes sociais foram mortas por companheiros ou ex-parceiros. Alguns crimes aconteceram diante de crianças. A pesquisa Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, realizada em 2019 pelo Instituto de Pesquisa Data Senado, mostrou que 78% das mulheres que sofreram violência doméstica foram agredidas por seus maridos, companheiros ou namorados. 

Unsplash/Engin Akyurt

Em 2020, com a pandemia, casais passaram a compartilhar muito mais tempo juntos, dentro de quatro paredes e tal mudança repentina também se refletiu na violência de gênero. Em abril do ano passado, a quantidade de denúncias ao Disque 180 cresceu 40% quando comparada a 2019.

Em São Paulo, o número de mulheres vítimas de violência aumentou em 44,9% e, em Mato Grosso, a quantidade de assassinatos de mulheres foi 5 vezes maior do que o ano anterior, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No Brasil todo, de março a agosto, a média foi de 3 mulheres mortas por dia.  

Os dados são preocupantes e nos fazem pensar: o que podemos fazer pra mudar essa realidade? Além de cobrar mais dos governantes, pois precisamos de legislações mais pesadas, com punições mais eficazes, precisamos olhar ao nosso redor com atenção. Muitas vezes, temos ao nosso lado mulheres que sofrem diariamente caladas e não têm a quem pedir ajuda. Olhe com cuidado. Dificilmente, um olho roxo é mero acidente. 

Unsplash/Malicki M Beser

Vale lembrar que o número 180 está disponível 24 horas por dia e as denúncias podem ser feitas de forma anônima. Tenha coragem para lutar por um mundo melhor se a vítima não tiver forças para gritar. Seja você a voz dessa mulher. Com muita frequência, o príncipe vira carcereiro. Esteja atento e, quem sabe, você pode ajudar a salvar uma vida. 



This post first appeared on Afronte | Revista Digital, please read the originial post: here

Share the post

Violência contra a mulher: quando o ‘príncipe’ vira carcereiro

×

Subscribe to Afronte | Revista Digital

Get updates delivered right to your inbox!

Thank you for your subscription

×